domingo, maio 16, 2010

Há salvação para o Euro ?

A crise financeira grega pôs a sobrevivência do euro em causa. Quando da sua criação, muitos questionaram-se sobre a sua viabilidade a longo prazo. Depois, como tudo corria bem, as preocupações esvaneceram-se, apesar de uma dúvida ter persistido: como seriam feitos os ajustamentos se parte da zona euro fosse atingida por um choque adverso? A partir do momento em que o Banco Central Europeu assumiu o comando da política monetária e cambial, instrumentos que os governos nacionais poderiam usar para estimular a economia e evitar uma recessão, a pergunta passou a ser: o que vai substituí-los?

Alguns esperavam que a tragédia grega convencesse os políticos de que o euro só pode vingar se houver mais cooperação, incluindo assistência financeira. A Alemanha, fazendo eco da sua opinião pública, recusou-se a dar à Grécia a ajuda de que o país necessita. Muitos questionaram-se, dentro e fora da Grécia, uma vez que foram gastos milhares de milhões para salvar os grandes bancos. Mas agora que é preciso salvar um país de 11 milhões de habitantes, o tema passou a ser tabu.

A lição é muito clara para os países mais pequenos da UE. Se não reduzirem os défices orçamentais, o risco de ataques especulativos será maior e a ajuda que possam obter dos seus vizinhos estará sujeita a restrições orçamentais pró-cíclicas dolorosas e contraproducentes. À medida que os países europeus adoptam essas medidas, as suas economias tenderão a enfraquecer e, consequentemente, a afectar a retoma mundial.

Seria útil analisar os problemas do euro numa perspectiva global. Os EUA queixam-se dos excedentes da BTC chinesa, mas se pensarmos em termos de percentagem do PIB, o excedente da Alemanha é muito superior. Vamos supor que o euro foi criado para o comércio na zona euro, no seu conjunto, ser mais equilibrado. Isso quer dizer que para a Alemanha ter excedente, o resto da Europa tem de apresentar défice. Ora, o facto desses países importarem mais do que exportam, fragiliza as suas economias.
Uma das soluções propostas para os países deficitários implica o equivalente a uma desvalorização, a uma descida uniforme dos salários. Além de inexequível, as consequências distributivas seriam inaceitáveis.

Existe uma segunda solução: a saída da Alemanha da zona euro ou a divisão desta em duas sub-regiões. O euro foi uma experiência interessante, mas tal como o quase esquecido mecanismo de taxas de câmbio que o precedeu e ruiu quando os especuladores atacaram a libra esterlina em 1992, carece de apoio institucional para funcionar em pleno. A terceira solução será, talvez, a mais promissora: implementar reformas institucionais, nomeadamente o tão necessário enquadramento orçamental, que devia ter sido posto em prática quando do lançamento da moeda única.

A Europa ainda vai a tempo de implementar essas reformas mantendo os seus ideais, assentes na solidariedade. Mas se não for capaz de o fazer, é melhor reconhecer o fracasso e seguir em frente do que enveredar pelo desemprego e sofrimento humano em nome de um modelo económico que apresenta numerosas falhas.

Joseph E. Stiglitz, Prémio Nobel Economia em 2001, DE 15.05.10

Etiquetas: