sexta-feira, março 26, 2010

Yes, we care


O ‘site’ da Casa Branca titulava a proposta sobre o novo Plano de Saúde americano como “why we can´t wait” (“porque não podemos esperar”). A verdade é que se esperou até 20 de Março de 2010, e assim se impediu que 32 milhões de americanos pudessem aceder a cuidados básicos de saúde.

Ao falar de saúde estamos, essencialmente, a tratar de igualdade. É uma questão de dignidade humana que define a sociedade em que vivemos e, nesse sentido, percebe-se bem todo o envolvimento pessoal do Presidente Obama.
Neste particular, os americanos estavam numa situação especialmente complicada porque tinham a consciência de viver num país de topo mundial em
termos de inovação e criação de riqueza, ao mesmo tempo que se confrontavam com a inexistência de garantia de acesso a cuidados médicos.

Simbolicamente, Barack Obama convidou, para estar ao seu lado na assinatura da lei, um menino de 11 anos que perdeu a mãe, de 27 anos, muito simplesmente porque entrou num ciclo infernal: adoeceu, perdeu o emprego, ficou sem seguro, não teve hipótese de recorrer aos estabelecimentos de saúde, morreu.
A doença não discrimina. Pode atingir cada um de nós nas mais imprevisíveis circunstâncias. E se não é na doença que nos comportamos como uma sociedade solidária, em que circunstâncias o faremos?

Foi a esta pergunta, que incomodava milhões de americanos e crescia de tom, que o Presidente Obama respondeu com o seu plano de saúde.
A reforma agora aprovada não só é boa para a saúde dos americanos como também é boa para a saúde das finanças públicas dos EUA. Uma das ironias deste processo é que na passada 2ª feira as empresas da indústria farmacêutica cotadas em Wall Street estiveram em alta significativa.

Mas, haverá sempre uma retórica contra a mudança. Uma posição reaccionária, de esquerda ou de direita, avessa ao progresso e que não percebe que a sustentabilidade das políticas exige mudanças e a coragem política para prosseguir o que é importante. Neste caso, o acesso dos cidadãos à saúde.
Custa-me perceber a crítica dos que afirmam que Obama foi obrigado a sucessivos recuos para aprovar a lei e que os seus efeitos não serão visíveis antes de 2014. A política é também a arte do compromisso. As soluções puras podem existir nos manuais dos académicos sem responsabilidades executivas, mas as boas soluções são apenas aquelas que se conseguem executar. A política é a vitória contra o fatalismo daqueles que se resignam.

É nesta perspectiva “do que deve ser feito” que em Portugal olhamos para a Saúde. Somos um país comum serviço de saúde que funciona bem e que é um dos pilares da nossa sociedade. Por isso, fazemos tanta questão em garantir condições para que o Serviço Nacional de Saúde seja reforçado e que os recursos sejam ajustados para que todos os cidadãos a eles tenham acesso. Sustentabilidade é o princípio orientador que alinha as preocupações de gestão com a necessidade de garantir que o SNS continuará a responder adequadamente às necessidades dos portugueses.

Óscar Gaspar, DE 26.03.10, página 25

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