"Os mercados têm sido racionais...
no contágio a outros países”
Jean Pisani-Ferry, director do ‘think tank’ Bruegel e conselheiro de Barroso, defende que a UE tem andado sempre a reboque dos mercados, que se têm portado de forma racional e lógica nesta crise custeando o risco de incumprimento que se eleva para outras economias da zona euro, como Portugal.
A Grécia vai receber a ajuda que pediu?
A grande questão agora é saber os termos em que a Comissão e o BCE vão avaliar o pedido grego de activação da ajuda. Vão ter de olhar não só para a actual situação de mercados em termos de ‘spreads’ mas sobretudo para os esforços a médio prazo da Grécia, e para as reformas que pode realizar nos próximos anos. Tem de haver absoluta segurança sobre a credibilidade de todo este processo.
A UE tem responsabilidades sobre a situação grega, pelo menos nos últimos meses?
A UE andou sempre a reboque. Primeiro [os líderes da zona euro] disseram que estavam disponíveis para ajudar - não funcionou. Depois explicaram como poderiam tornar essa ajuda efectiva mas disseram que não iria ser necessária - não funcionou. Mais tarde, concretizaram a ajuda colocando verbas em cima da mesa e até uma taxa de juro - isso também não funcionou. Agora vêem a ajuda accionada e não me parece que os mercados estejam muito calmos. No geral é evidente que a UE perdeu este ‘jogo’ com os mercados e não soube olhar para o futuro.
Não estão a ver os efeitos sobre a estabilidade da zona euro?
Não, isso toda a gente pode ver. O que tem faltado é coragem para enfrentar o problema.
Assim que a Grécia for salva, é expectável que os mercados se virem para Portugal, Espanha e outros países? Fará sentido?
Os mercados não têm sido nada irracionais nesta questão. Sobretudo em comparação com a crise asiática em que, às tantas, já se atacavam países só por serem asiáticos mesmo que não tivessem nenhum dos problemas identificados a países como a Tailândia, que estavam no cerne da crise. Aqui não é assim. O contágio não tem, a meu ver, sido desprovido de uma lógica racional. Há problemas estruturais importantes noutros países da zona euro.
A taxa de juro acordada entre os ministros era em função de um retrato momentâneo nos mercados. Era 5% e agora pode ser mais. Isso não traz novos riscos para a Grécia?
Uma taxa de 5%já é suficiente para ser um problema para a Grécia. Basta fazer as contas às necessidades de financiamento grego para vermos que estamos a falar de um volume de juros enorme. Não se pode dizer aos mercados que eles podem decidir sobre a taxa de juro que a zona euro vai praticar. Era incorrer numa profecia auto-realizável que, em última análise, conduziria ao incumprimento da dívida.
Quando é que os gregos podem contar com o dinheiro, daqui a duas semanas?
Tudo depende das avaliações da situação grega que serão feitas pela Comissão e do Banco Central Europeu. Vão ter de ser discutidas e não é de um dia para o outro que se decide. Não nos esqueçamos que a Grécia tem conseguido pedir emprestado ao mercado. A grande questão portanto é assegurarmo-nos que há um programa económico de reformas que garante a sustentabilidade deste processo de saneamento das contas. ■
luís rego (Bruxelas) DE 24.04.10
Jean Pisani-Ferry, director do ‘think tank’ Bruegel e conselheiro de Barroso, defende que a UE tem andado sempre a reboque dos mercados, que se têm portado de forma racional e lógica nesta crise custeando o risco de incumprimento que se eleva para outras economias da zona euro, como Portugal.
A Grécia vai receber a ajuda que pediu?
A grande questão agora é saber os termos em que a Comissão e o BCE vão avaliar o pedido grego de activação da ajuda. Vão ter de olhar não só para a actual situação de mercados em termos de ‘spreads’ mas sobretudo para os esforços a médio prazo da Grécia, e para as reformas que pode realizar nos próximos anos. Tem de haver absoluta segurança sobre a credibilidade de todo este processo.
A UE tem responsabilidades sobre a situação grega, pelo menos nos últimos meses?
A UE andou sempre a reboque. Primeiro [os líderes da zona euro] disseram que estavam disponíveis para ajudar - não funcionou. Depois explicaram como poderiam tornar essa ajuda efectiva mas disseram que não iria ser necessária - não funcionou. Mais tarde, concretizaram a ajuda colocando verbas em cima da mesa e até uma taxa de juro - isso também não funcionou. Agora vêem a ajuda accionada e não me parece que os mercados estejam muito calmos. No geral é evidente que a UE perdeu este ‘jogo’ com os mercados e não soube olhar para o futuro.
Não estão a ver os efeitos sobre a estabilidade da zona euro?
Não, isso toda a gente pode ver. O que tem faltado é coragem para enfrentar o problema.
Assim que a Grécia for salva, é expectável que os mercados se virem para Portugal, Espanha e outros países? Fará sentido?
Os mercados não têm sido nada irracionais nesta questão. Sobretudo em comparação com a crise asiática em que, às tantas, já se atacavam países só por serem asiáticos mesmo que não tivessem nenhum dos problemas identificados a países como a Tailândia, que estavam no cerne da crise. Aqui não é assim. O contágio não tem, a meu ver, sido desprovido de uma lógica racional. Há problemas estruturais importantes noutros países da zona euro.
A taxa de juro acordada entre os ministros era em função de um retrato momentâneo nos mercados. Era 5% e agora pode ser mais. Isso não traz novos riscos para a Grécia?
Uma taxa de 5%já é suficiente para ser um problema para a Grécia. Basta fazer as contas às necessidades de financiamento grego para vermos que estamos a falar de um volume de juros enorme. Não se pode dizer aos mercados que eles podem decidir sobre a taxa de juro que a zona euro vai praticar. Era incorrer numa profecia auto-realizável que, em última análise, conduziria ao incumprimento da dívida.
Quando é que os gregos podem contar com o dinheiro, daqui a duas semanas?
Tudo depende das avaliações da situação grega que serão feitas pela Comissão e do Banco Central Europeu. Vão ter de ser discutidas e não é de um dia para o outro que se decide. Não nos esqueçamos que a Grécia tem conseguido pedir emprestado ao mercado. A grande questão portanto é assegurarmo-nos que há um programa económico de reformas que garante a sustentabilidade deste processo de saneamento das contas. ■
luís rego (Bruxelas) DE 24.04.10
Etiquetas: Entrevistas
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