Hospitais sem dinheiro
Para pagar dívidas
DÍVIDA AOS FORNECEDORES cresceu 13% na primeira metade do ano, para 724 milhões de euros.
Mário Baptista
Já imaginou o que seria demorar mais de três anos a receber pelo seu trabalho? Para a indústria farmacêutica é isto que se passa com o hospital de Setúbal, que demora 1.163 dias, ou seja três anos e dois meses, em média, a pagar aos fornecedores de medicamentos.
O problema não está só em Setúbal. O relatório sobre as dívidas de Junho, feito pela indústria farmacêutica, e a que o Diário Económico teve acesso, revela uma tendência geral de incapacidade dos hospitais para pagarem as dívidas. No primeiro semestre deste ano, a dívida total passou de 639 para 724 milhões de euros, um crescimento de 13,3%. Deste volume de dívida, quase 470 milhões estão acumulados há mais de três meses.
As administrações hospitalares dizem que o problema não está nas transferências do Orçamento do Estado, mas sim nos atrasos nos recebimentos provenientes de outros sistemas de saúde, estatais (como a ADSE) ou privados (seguradoras).
O presidente do hospital de Évora - que demora um ano a pagar os medicamentos garanteque "o problema é de tesouraria, porque sem atrasos da ADSE, dos subsistemas de saúde e das seguradoras, seria possível pagar mais depressa". António Serrano revela que já apresentou propostas aos bancos para empréstimos, mas tem poucas esperanças, porque as regras de gestão empresarial funcionam como entraves.
Uma delas é o facto de os hospitais não receberem o capital social todo de uma só vez. A ideia do Governo é ir transferindo as verbas para os hospitais à medida que estas forem sendo necessárias - transferir de uma só vez para todos os hospitais seria um grande esforço. "Estamos condicionados porque o limite de endividamento está ligado ao capital social", explicou António Serrano. Resultado? "Dos 73 milhões de capital social total só temos disponível 14 milhões, sendo esta a referência usada para definir o nosso limite de endividamento", lamenta o presidente do hospital de Évora
A indústria farmacêutica mostra-se muito preocupada. Mas, além de ter reactivado a Presife, uma entidade jurídica para cobrar as dívidas nos tribunais, pouco mais pode fazer.
"Pagamos o preço por não sermos tão brutais como outros fornecedores", diz Manuel Gonçalves. O directorgeral da Glaxo e vice-presidente da Apifarma, a associação da indústria farmacêutica, admite que o crescimento dos gastos "está controlado", mas também concorda que "o verdadeiro problema é a tesouraria dos hospitais".
MANUEL GONÇALVES - Director-geral da GSK
"O problema é que os hospitais não usam o capital que têm para pagar a dívida aos fornecedores. A sociedade não aceita cortes nos fornecimentos, estamos limitados por não ser brutais como outros."
RICARDO LUZ - Presidente do IPO Lisboa
"Demoramos menos de três meses a pagar aos fornecedores, e temos vantagens financeiras por demorar pouco tempo a pagar. Dantes, pensava-se que 'pagar tarde saía barato', mas hoje já não."
ANTÓNIO SERRANO - Hospital de Évora
"Precisamos que a ADSE, as seguradoras e os subsistemas sejam rápidos a pagar, senão temos problemas de tesouraria. Faltam-nos instrumentos financeiros para contrair empréstimos bancários."
DÍVIDA AOS FORNECEDORES cresceu 13% na primeira metade do ano, para 724 milhões de euros.
Mário Baptista
Já imaginou o que seria demorar mais de três anos a receber pelo seu trabalho? Para a indústria farmacêutica é isto que se passa com o hospital de Setúbal, que demora 1.163 dias, ou seja três anos e dois meses, em média, a pagar aos fornecedores de medicamentos.
O problema não está só em Setúbal. O relatório sobre as dívidas de Junho, feito pela indústria farmacêutica, e a que o Diário Económico teve acesso, revela uma tendência geral de incapacidade dos hospitais para pagarem as dívidas. No primeiro semestre deste ano, a dívida total passou de 639 para 724 milhões de euros, um crescimento de 13,3%. Deste volume de dívida, quase 470 milhões estão acumulados há mais de três meses.
As administrações hospitalares dizem que o problema não está nas transferências do Orçamento do Estado, mas sim nos atrasos nos recebimentos provenientes de outros sistemas de saúde, estatais (como a ADSE) ou privados (seguradoras).
O presidente do hospital de Évora - que demora um ano a pagar os medicamentos garanteque "o problema é de tesouraria, porque sem atrasos da ADSE, dos subsistemas de saúde e das seguradoras, seria possível pagar mais depressa". António Serrano revela que já apresentou propostas aos bancos para empréstimos, mas tem poucas esperanças, porque as regras de gestão empresarial funcionam como entraves.
Uma delas é o facto de os hospitais não receberem o capital social todo de uma só vez. A ideia do Governo é ir transferindo as verbas para os hospitais à medida que estas forem sendo necessárias - transferir de uma só vez para todos os hospitais seria um grande esforço. "Estamos condicionados porque o limite de endividamento está ligado ao capital social", explicou António Serrano. Resultado? "Dos 73 milhões de capital social total só temos disponível 14 milhões, sendo esta a referência usada para definir o nosso limite de endividamento", lamenta o presidente do hospital de Évora
A indústria farmacêutica mostra-se muito preocupada. Mas, além de ter reactivado a Presife, uma entidade jurídica para cobrar as dívidas nos tribunais, pouco mais pode fazer.
"Pagamos o preço por não sermos tão brutais como outros fornecedores", diz Manuel Gonçalves. O directorgeral da Glaxo e vice-presidente da Apifarma, a associação da indústria farmacêutica, admite que o crescimento dos gastos "está controlado", mas também concorda que "o verdadeiro problema é a tesouraria dos hospitais".
MANUEL GONÇALVES - Director-geral da GSK
"O problema é que os hospitais não usam o capital que têm para pagar a dívida aos fornecedores. A sociedade não aceita cortes nos fornecimentos, estamos limitados por não ser brutais como outros."
RICARDO LUZ - Presidente do IPO Lisboa
"Demoramos menos de três meses a pagar aos fornecedores, e temos vantagens financeiras por demorar pouco tempo a pagar. Dantes, pensava-se que 'pagar tarde saía barato', mas hoje já não."
ANTÓNIO SERRANO - Hospital de Évora
"Precisamos que a ADSE, as seguradoras e os subsistemas sejam rápidos a pagar, senão temos problemas de tesouraria. Faltam-nos instrumentos financeiros para contrair empréstimos bancários."
DE 11.08.08
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