domingo, fevereiro 03, 2008

CC, o reformista mal-amado

que não soube explicar as reformas
Competente, determinado, reformista, arrogante, sem capacidade de diálogo. O ministro teve um consenso a seu favor e acabou por fazer o consenso contra si.
Foi um dos ministros mais qualificados e determinados a ocupar a pasta de saúde, que abandona num clima de intensa contestação devido à forma como conduziu o processo de fecho de algumas urgências hospitalares. Mas a controvérsia sempre fez parte do dia-a-dia de António Correia de Campos, graças às guerras que abriu no sector nas duas vezes que assumiu a pasta, ao gosto por afirmações polémicas que garantiam bons títulos nos jornais e à reviravolta que conseguiu dar no funcionamento dos hospitais e às medidas de contenção da despesa pública.
A nova ministra Ana Jorge herda assim uma pasta onde muitas medidas controversas já foram tomadas, grande parte delas com o objectivo de reduzir a despesa - os hospitais têm hoje as contas mais controladas, a propriedade das farmácias foi liberalizada, a interrupção voluntária da gravidez está a ter resposta nos hospitais, o fecho de blocos de parto já está concluído, a reconversão dos centros de saúde em unidades de saúde familiar começou de forma tímida e houve duas baixas administrativas de preços e cortes na comparticipação e apoios do Estado nos medicamentos.
A pediatra Ana Jorge enfrenta ainda um delicado processo de encerramento de urgências, que continua sem ser compreendido pela população e que conhece por dentro. A nova ministra da Saúde esteve envolvida nas negociações com a tutela enquanto presidente da Assembleia Municipal da Lourinhã, exigindo medidas de compensação pelo fecho nocturno do atendimento permanente no centro de saúde, que foram atendidas no protocolo negociado com a tutela em 2006.
Por outro lado, muitos dos compromissos do programa do Governo continuam por cumprir: no sector dos medicamentos não houve a prometida reforma do sistema de comparticipação, os médicos continuam sem prescrever por princípio activo (salvo nos genéricos), a compra de remédios em unidose não avançou, bem como a abertura ao público das farmácias dos hospitais. Da prometida aposta no combate à sida e à toxicodependência também nada se viu. E a revisão do programa de parceiras público-privadas está parada.
Mas foi sobretudo a forma como não soube comunicar as iniciativas mais polémicas do seu ministério - que sempre escudou em estudos técnicos de peritos - que lhe desgastou a imagem pública. As suas afirmações e gestos pouco contidos - na anterior passagem pelo Governo partiu teatralmente uma cadeira no Hospital da Guarda - não lhe garantiram nenhuma simpatia. Ele próprio o reconhece numa carta enviada ao primeiro-ministro, onde diz estar "minada" a relação de confiança com o cidadão.
Foi sobretudo a forma como não soube comunicar as iniciativas do seu Ministério que lhe desgastou a imagem pública .
Joana Ferreira da Costa, JP 30.01.08