domingo, fevereiro 03, 2008

Um apagão temporário


Reconheço que há gostos para tudo, mas deve ser difícil sustentar que, com esta ligeira cosmética, a qualidade do Governo melhora substancialmente.

Pelo lado das entradas, os novos ministros são tudo menos políticos com grande experiência nos departamentos que lhes foram entregues. Ana Jorge é praticamente uma desconhecida. António Pinto Ribeiro é com certeza um homem inteligente e culto, mas não se lhe conhece inclinação para a gestão da Cultura. Compreendia-se melhor que lhe entregassem a Justiça, por exemplo. Já quanto a Carlos Lobo, por causa da sua formação e do seu conhecimento da prática, pode introduzir finalmente a sensibilidade política necessária para se perceber que é insustentável o grau de conflitualidade entre os contribuintes e o Estado. Mas trata-se sempre de substituir um técnico por outro. Do lado das saídas, há um sinal preocupante. Pela primeira vez, verifica-se uma baixa no campo dos que representavam a faceta determinada e ousada do Governo. Há obviamente ministros com a credibilidade em baixa por causa das ‘gaffes’, por causa de equívocos, por causa das contradições. Mas Correia de Campos era impopular por ser corajoso, por tomar decisões, por assumir escolhas, qualquer que seja o juízo que fazemos sobre o respectivo valor. A sua retirada é simbólica, por isso: em breve se verá passar de moda o discurso das reformas, do afrontamento, da ruptura e da determinação.

Tirando o caso de Carlos Lobo, os novos governantes vão ter que aprender. Dá ideia que Sócrates preferiu um apagão temporário na Saúde e na Cultura: se tudo correr bem, haverá muita reflexão, muito estudo, muito diagnóstico, mas também discrição e tranquilidade. Não é disso que se vive em vésperas de eleições?
António Lobo Xavier, DE 30.01.08