A ânsia de reformar de CC
O direito à saúde das populações não pode ser sacrificado em nome da sustentabilidade das finanças públicas .
O primeiro-ministro foi ontem ao Parlamento assegurar que a remodelação do ministro da Saúde não significa a remodelação da política que tem vindo a ser aplicada no sector. A saída de Correia de Campos, cuja permanência no executivo era insustentável nas últimas semanas, devido às trapalhadas do socorro pré-hospitalar e ao recrudescimento dos protestos das populações, não se traduz no cancelamento da reorganização das urgências, como a oposição gostaria de ouvir.
No entanto, o discurso de ontem do primeiro-ministro contém algumas nuances. Ao anunciar, por exemplo, um novo centro de saúde para Alijó, onde encerrou um serviço de atendimento permanente, e onde a descoordenação entre emergência médica e bombeiros esteve particularmente à vista no último fim-de-semana. Ou ao garantir que nenhuma outra urgência será encerrada sem que tenham sido gizadas as devidas alternativas. No fundo, trata-se de uma correcção que o próprio Correia de Campos pretendera fazer: o último protocolo que celebrou com uma autarquia (São João da Madeira, neste caso, na última segunda-feira) condicionou o fecho do serviço de urgência local à criação de certas condições, entre as quais a cobertura integral da população com médicos de família. Só que já foi tarde de mais.
Devem-se reconhecer a Correia de Campos muitas medidas positivas num sector de enorme desgaste e contestação, nomeadamente a redução do crónico défice do Serviço Nacional da Saúde, que anteriores ministros tentaram, em vão, conter. O seu contributo foi decisivo para que o desejo de interrupção voluntária da gravidez fosse garantido nos hospitais, a propriedade das farmácias fosse liberalizada ou a despesa hospitalar deixasse de ser um objectivo sistematicamente ignorado na gestão hospitalar pública. Contudo, a saída de Correia de Campos não se deve apenas a uma questão de estilo ou a uma menor facilidade de comunicação numa temática que se presta a todas as demagogias e reacções emocionais.
No entanto, o discurso de ontem do primeiro-ministro contém algumas nuances. Ao anunciar, por exemplo, um novo centro de saúde para Alijó, onde encerrou um serviço de atendimento permanente, e onde a descoordenação entre emergência médica e bombeiros esteve particularmente à vista no último fim-de-semana. Ou ao garantir que nenhuma outra urgência será encerrada sem que tenham sido gizadas as devidas alternativas. No fundo, trata-se de uma correcção que o próprio Correia de Campos pretendera fazer: o último protocolo que celebrou com uma autarquia (São João da Madeira, neste caso, na última segunda-feira) condicionou o fecho do serviço de urgência local à criação de certas condições, entre as quais a cobertura integral da população com médicos de família. Só que já foi tarde de mais.
Devem-se reconhecer a Correia de Campos muitas medidas positivas num sector de enorme desgaste e contestação, nomeadamente a redução do crónico défice do Serviço Nacional da Saúde, que anteriores ministros tentaram, em vão, conter. O seu contributo foi decisivo para que o desejo de interrupção voluntária da gravidez fosse garantido nos hospitais, a propriedade das farmácias fosse liberalizada ou a despesa hospitalar deixasse de ser um objectivo sistematicamente ignorado na gestão hospitalar pública. Contudo, a saída de Correia de Campos não se deve apenas a uma questão de estilo ou a uma menor facilidade de comunicação numa temática que se presta a todas as demagogias e reacções emocionais.
Não basta, pois, dizer, como fez Sócrates na Assembleia, que a nomeação de Ana Jorge se destina a reforçar a confiança da população no Serviço Nacional de Saúde, algo que se perdera nos últimos meses com o reformador Correia de Campos. É preciso dizer também que a reforma das urgências, sugerida por um grupo de peritos e que tropeçou na ânsia reformadora do próprio ministro, deve ser seguida de forma mais racional e prudente. E que o direito à saúde das populações não pode ser sacrificado em nome da sustentabilidade das finanças públicas.
A verdade é que, em muitos casos, a reforma das urgências foi avançando com a pressa necessária a quem fez do défice do sector um objectivo primordial e relegou para segundo plano algo tão importante como a articulação dos meios de socorro. Regresse-se ao exemplo de Alijó: este concelho com 300 quilómetros quadrados possui seis corporações de bombeiros e nenhuma delas tem protocolo com o Instituto de Emergência Médica. E, como vimos por este e outros episódios recentes, o sistema de emergência pré-hospitalar é deficiente e foi necessária uma reunião de emergência, na última segunda-feira, para tentar reparar o mal. Não importa apenas mudar o estilo. Sócrates não quer que ninguém pense que o Estado está a fechar as portas e prestes a ir-se embora. Mas é o que parece. Convencer alguém do contrário será bastante difícil no interior deste país.
Amílcar Correia, JP 31.01.08
Amílcar Correia, JP 31.01.08
Notícias do SNS
Que um editorialista de um jornal de referência, como o Público de hoje, insista no truismo de que o «direito à saúde das populações não pode ser sacrificado em nome da sustentabilidade das finanças públicas», para dizer obviamente que era isso que estava a suceder com as políticas de Correia de Campos, mostra o dificuldade de fazer triunfar na opinião pública um discurso reformista sério sobre o SNS.
Que um editorialista de um jornal de referência, como o Público de hoje, insista no truismo de que o «direito à saúde das populações não pode ser sacrificado em nome da sustentabilidade das finanças públicas», para dizer obviamente que era isso que estava a suceder com as políticas de Correia de Campos, mostra o dificuldade de fazer triunfar na opinião pública um discurso reformista sério sobre o SNS.
Três notas a este respeito:
a) o encerramento das pseudo-urgências não afectou nenhum direito à saúde, antes visou garantir um direito a melhores cuidados de saúde, o que, como mostrou o encerramento dos blocos de partos, na altura tão vilipendiado, não se assegura com maus serviços ao pé da porta;
b) o reordenamento territorial dos serviços de urgência não obedece a nenhuma lógica de poupança financeira, pois os encargos da nova rede de urgências e dos meios de transporte são muito maiores do que os custos dos serviços encerrados;
c) como é sabido, a salutar contenção do crescimento (insustentável) dos gastos do SNS deve-se sobretudo a ganhos de eficiência (ver o caso do Santa Maria) e a poupanças na factura dos medicamentos.
a) o encerramento das pseudo-urgências não afectou nenhum direito à saúde, antes visou garantir um direito a melhores cuidados de saúde, o que, como mostrou o encerramento dos blocos de partos, na altura tão vilipendiado, não se assegura com maus serviços ao pé da porta;
b) o reordenamento territorial dos serviços de urgência não obedece a nenhuma lógica de poupança financeira, pois os encargos da nova rede de urgências e dos meios de transporte são muito maiores do que os custos dos serviços encerrados;
c) como é sabido, a salutar contenção do crescimento (insustentável) dos gastos do SNS deve-se sobretudo a ganhos de eficiência (ver o caso do Santa Maria) e a poupanças na factura dos medicamentos.
Nesta altura do campeonato, e consumada a saída do "culpado", tudo isto deveria ser pacífico. E o mínimo de homenagem que se deve ao ex-ministro da Saúde consiste em não lhe imputar o infamante projecto de querer "poupar dinheiro à custa da saúde dos portugueses". Para demagogia, basta o que basta!
Vital Moreira, causa nossa
Vital Moreira, causa nossa
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