sábado, janeiro 12, 2008

Reforma das Urgências


Hoje, o Publico link traz uma extensa entrevista com José Manuel Almeida e António Marques, sobre a "reforma das urgências".

Da sua leitura, onde são feitos alguns avisos à navegação, como p. exº. o "colapso do sistema", é notória a incapacidade do MS em dar o indispensável acompanhamento no terreno aos estudos técnicos já feitos e aprovados politicamente.
Mas resposta política tarda e para além disso é confusa.
Um exemplo paradigmático dessa situação é o caso das urgências do H. Curry Cabral.

Neste momento, as hesitações e uma indisfarçável dificuldade de comunicação, entre a MS e a Comissão, pode paralisar o trabalho desta última. Seria uma perda imoperdoável.

Por outro lado, neste entrevista, há um dado que se deve reter. O avanço paralelo e concertado da reforma dos CPS, com a reestruturação das urgências, não tem sido síncrono com os "timings" previstos para a sua implementação.

As 100 ou já 105 USF's não chegam.
Deve ser repensado o ritmo e os caminhos por onde, com segurança e em força, devem avançar os CPS.

O artigo que cito no início desta página "Ellen Nolte e C. Martin McKee (2008), "Measuring the Health of Nations: Updating an Earlier Analysis", Health Affairs 27: 58-71", é, por assim dizer, um retrato do inverso da mortalidade infantil.

Neste estudo, pior do que nós, só os EUA. Muito dessa má performance deve-se a todo este imbróglio: o risco de morte na adultícia madura(trauma, AVC?s, etc) está acrescido (diria mesmo de modo escandalosamente acrescido) no nosso País.

Porque não há uma política de prevenção, de suporte e de gestão dos doentes nos CPS, porque os cuidados secundários (CE e intervenções cirugicas) estão submersos em infindáveis listas de espera, não havendo resposta atempada. E, por último, o modo e o modelo de funcionamento das urgências hospitalares - que foram ao longos dos anos a válvula de escape das insuficiências do sistema - está a soçobrar.

Não vale a pena "massacrar" os portugueses com números e estatísticas que, como todos sabemos, podem ser torturados, espremidos e escrutinados, até acabarem por cair na mais cruel dúvida e inconformidade, em relação ao real, ao palpável, ao que todos os dias vemos, ouvimos e lemos.

O necessário, o inadiável, é avançar com estas 2 reformas (dos CPS e das Urgências) em sincronia, concertação e prioridade.

Deixar as guerras de autonomia no interior do SNS, para dirimir mais tarde. Isto é, depois de os utentes disfrutarem de melhores e atempados cuidados. Depois de assegurarmos, no dia a dia, na hora do infortúnio, a equidade e a universalidade do sistema.

Finalmente, envolver os profissionais da saúde nesta indispensável mudança com a certeza de que, só deste modo, se preservará o SNS.
É-Pá

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