Urgência de Ortopedia
Causa polémica no Hospital de Setúbal
Os ortopedistas acusam a administração de falta de meios humanos e de equipamentos para operar no São Bernardo
A reorganização da Urgência de Ortopedia no Centro Hospitalar de Setúbal - unidade que desde o início do ano integra o Hospital de São Bernardo (HSB) e o Hospital Ortopédico Sant"Iago do Outão - está a preocupar alguns médicos desta especialidade, que acusam a administração de querer "apenas cumprir o orçamento, com consequências negativas para os utentes".
Os ortopedistas aprovaram uma moção no passado dia 16 Outubro, já remetida para a administração do Centro Hospitalar, em que exigem que seja "acautelada a existência de recursos humanos suficientes e de material cirúrgico adequado" à realização de cirurgias do foro traumatológico em Setúbal, revelou ao PÚBLICO um dos subscritores da moção.
Até agora, explica a administração, a Urgência de Ortopedia funciona no HSB para resolver, no local, as situações mais urgentes passíveis de tratamento em ambulatório. Os casos mais complexos, que necessitam de internamento e intervenção cirúrgica, são encaminhados para o Hospital do Outão. O objectivo do centro hospitalar é proceder a uma "reorganização" dos serviços, para que a cirurgia ortopédica urgente seja feita no bloco operatório do São Bernardo, no próprio dia. Uma medida com a qual os ortopedistas concordam, desde que estejam reunidas as necessárias condições, o que, segundo os clínicos contactados pelo PÚBLICO - que pediram para não ser identificados - ainda não acontece. "É muito frequente não termos material para a urgência traumatológica, nomeadamente fixadores para os ossos, e não acredito que tão cedo isso esteja resolvido", acusa um dos médicos, para quem o objectivo da administração é "cumprir o orçamento e não tratar os doentes".
Os médicos garantem ainda que é intenção da administração "interromper" a utilização do bloco operatório para as equipas de ortopedia "a partir das 21h00 de sexta, ao sábado e ao domingo" o que significa, exemplifica um deles, que "um doente que entra na sexta-feira à noite com uma fractura do colo do fémur, que tem de ser operado de imediato, só será operado na semana seguinte". A medida, afirma, é "mais uma maneira de não pagarem horas extraordinárias".
Com a fusão dos dois hospitais, no início do ano, os médicos terão recebido a promessa de que iriam ser reunidos os meios para realizar cirurgias desta especialidade no São Bernardo. "Passámos a ser os parentes pobres de uma grande família que é o centro hospitalar, o que significa que vamos nivelar por baixo, uma vez que o Hospital do Outão sempre foi uma referência a nível nacional e o terceiro melhor hospital público em produtividade", salienta um ortopedista.
"Não tenho dúvidas em afirmar que o doente do foro ortopédico está a ser mal tratado em Setúbal", afirma outro médico, que aguarda com expectativa o cumprimento das promessas da administração.
Uma das exigências da equipa de ortopedistas é a permanência de "pelo menos três médicos" no serviço de urgência, em Setúbal, para que um deles assegure o atendimento quando os outros dois estão a operar. "A administração não aceita, o que é grave em termos deontológicos, porque limita a actividade médica e a nossa liberdade de decidir se operamos ou não", explica uma das fontes. "A vantagem para o hospital é que fica com praticamente zero horas extraordinárias", acrescenta.
Contactada pelo PÚBLICO, a administração do Centro Hospitalar de Setúbal garantiu que toda a reorganização está a ser estudada por um grupo de trabalho envolvendo ortopedistas, cirurgiões, anestesistas, enfermeiros e outros profissionais de saúde, e só será implementada "quando estiverem reunidas as condições adequadas, e de forma gradual".
Os objectivos são claros: "Aumentar a qualidade do desempenho sem acréscimo significativo de custos, para além do investimento inicial necessário", pelo que é necessário "optimizar recursos, tendo em vista a melhoria dos serviços prestados aos cidadãos, a satisfação dos profissionais e a modernização da organização".
Formação profissional dos enfermeiros, planeamento do trabalho médico, aquisição de equipamentos e optimização do funcionamento dos blocos operatórios dos dois hospitais são medidas que a equipa liderada por Lacerda Cabral, presidente do conselho de administração, garante estar a acautelar. "As equipas de enfermagem irão englobar enfermeiros que já têm experiência de Bloco Operatório do Hospital Ortopédico Sant" Iago do Outão, e serão gradualmente integrados outros enfermeiros quando tiverem completado a formação necessária". Quanto ao equipamento, o grupo de trabalho "identificou necessidades que estão em fase de avaliação para aquisição".
O presidente adianta também que será "desejável que existam três ortopedistas em permanência" na Urgência do São Bernardo, remetendo para os médicos a dificuldade em implementar esta medida. "Face aos condicionalismos legais actualmente existentes, alguns médicos ortopedistas manifestaram indisponibilidade para realizar trabalho extraordinário para além do obrigatório", conclui Lacerda Cabral.
Os ortopedistas acusam a administração de falta de meios humanos e de equipamentos para operar no São Bernardo
A reorganização da Urgência de Ortopedia no Centro Hospitalar de Setúbal - unidade que desde o início do ano integra o Hospital de São Bernardo (HSB) e o Hospital Ortopédico Sant"Iago do Outão - está a preocupar alguns médicos desta especialidade, que acusam a administração de querer "apenas cumprir o orçamento, com consequências negativas para os utentes".
Os ortopedistas aprovaram uma moção no passado dia 16 Outubro, já remetida para a administração do Centro Hospitalar, em que exigem que seja "acautelada a existência de recursos humanos suficientes e de material cirúrgico adequado" à realização de cirurgias do foro traumatológico em Setúbal, revelou ao PÚBLICO um dos subscritores da moção.
Até agora, explica a administração, a Urgência de Ortopedia funciona no HSB para resolver, no local, as situações mais urgentes passíveis de tratamento em ambulatório. Os casos mais complexos, que necessitam de internamento e intervenção cirúrgica, são encaminhados para o Hospital do Outão. O objectivo do centro hospitalar é proceder a uma "reorganização" dos serviços, para que a cirurgia ortopédica urgente seja feita no bloco operatório do São Bernardo, no próprio dia. Uma medida com a qual os ortopedistas concordam, desde que estejam reunidas as necessárias condições, o que, segundo os clínicos contactados pelo PÚBLICO - que pediram para não ser identificados - ainda não acontece. "É muito frequente não termos material para a urgência traumatológica, nomeadamente fixadores para os ossos, e não acredito que tão cedo isso esteja resolvido", acusa um dos médicos, para quem o objectivo da administração é "cumprir o orçamento e não tratar os doentes".
Os médicos garantem ainda que é intenção da administração "interromper" a utilização do bloco operatório para as equipas de ortopedia "a partir das 21h00 de sexta, ao sábado e ao domingo" o que significa, exemplifica um deles, que "um doente que entra na sexta-feira à noite com uma fractura do colo do fémur, que tem de ser operado de imediato, só será operado na semana seguinte". A medida, afirma, é "mais uma maneira de não pagarem horas extraordinárias".
Com a fusão dos dois hospitais, no início do ano, os médicos terão recebido a promessa de que iriam ser reunidos os meios para realizar cirurgias desta especialidade no São Bernardo. "Passámos a ser os parentes pobres de uma grande família que é o centro hospitalar, o que significa que vamos nivelar por baixo, uma vez que o Hospital do Outão sempre foi uma referência a nível nacional e o terceiro melhor hospital público em produtividade", salienta um ortopedista.
"Não tenho dúvidas em afirmar que o doente do foro ortopédico está a ser mal tratado em Setúbal", afirma outro médico, que aguarda com expectativa o cumprimento das promessas da administração.
Uma das exigências da equipa de ortopedistas é a permanência de "pelo menos três médicos" no serviço de urgência, em Setúbal, para que um deles assegure o atendimento quando os outros dois estão a operar. "A administração não aceita, o que é grave em termos deontológicos, porque limita a actividade médica e a nossa liberdade de decidir se operamos ou não", explica uma das fontes. "A vantagem para o hospital é que fica com praticamente zero horas extraordinárias", acrescenta.
Contactada pelo PÚBLICO, a administração do Centro Hospitalar de Setúbal garantiu que toda a reorganização está a ser estudada por um grupo de trabalho envolvendo ortopedistas, cirurgiões, anestesistas, enfermeiros e outros profissionais de saúde, e só será implementada "quando estiverem reunidas as condições adequadas, e de forma gradual".
Os objectivos são claros: "Aumentar a qualidade do desempenho sem acréscimo significativo de custos, para além do investimento inicial necessário", pelo que é necessário "optimizar recursos, tendo em vista a melhoria dos serviços prestados aos cidadãos, a satisfação dos profissionais e a modernização da organização".
Formação profissional dos enfermeiros, planeamento do trabalho médico, aquisição de equipamentos e optimização do funcionamento dos blocos operatórios dos dois hospitais são medidas que a equipa liderada por Lacerda Cabral, presidente do conselho de administração, garante estar a acautelar. "As equipas de enfermagem irão englobar enfermeiros que já têm experiência de Bloco Operatório do Hospital Ortopédico Sant" Iago do Outão, e serão gradualmente integrados outros enfermeiros quando tiverem completado a formação necessária". Quanto ao equipamento, o grupo de trabalho "identificou necessidades que estão em fase de avaliação para aquisição".
O presidente adianta também que será "desejável que existam três ortopedistas em permanência" na Urgência do São Bernardo, remetendo para os médicos a dificuldade em implementar esta medida. "Face aos condicionalismos legais actualmente existentes, alguns médicos ortopedistas manifestaram indisponibilidade para realizar trabalho extraordinário para além do obrigatório", conclui Lacerda Cabral.
Claúdia Veloso, Jornal Público 05.11.06
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