quarta-feira, dezembro 10, 2008

Director do TM comenta o SaudeSA

O blogue anónimo «SaudeSA» refere-se, num «post» do passado dia 6, a duas peças do «TM». Fá-lo, novamente em tom capcioso que nos levam a registar, (tentar) responder e clarificar.Enviámos, através do blogue e através do mail indicado ali como sendo o de «Xavier» o seguinte comentário, com pedido de «publicação», mas que, como temiamos, ficou «no tinteiro».
O comentário:
Começo por me identificar: José M. Antunes, sou director do Jornal «Tempo Medicina».
Começo por dizer ser esta a segunda vez que envio um comentário, esperando que desta vez seja publicado. Parece-me uma estranha forma de fazer edição aquela de não publicar o que nos é adverso. Veremos...
Sigo dizendo ser do mais divertido que há enviar comentários para o vosso «blogue».Porquê? Porque têm escrito, cito, «Este blogue não permite comentários anónimos» numa «publicação» onde os «bloguers» são...anónimos...
Ao que venho? Neste «post» que comento, o inefável «Xavier» decidiu dizer sobre o Jornal em que trabalho mais alguns dos seus (insisto de vezes anteriores: COBARDES porque anónimos) disparates:
1-Desde logo colocando a frase «(ao que julgamos saber eleito com uma dúzia de votos)», que não é nossa, no meio de uma citação de nosso editorial;
2-Depois dizendo que seremos contra os Hospitais EPE. Não somos, como sabem os leitores do «TM» e, a certa altura, também já os leitores do «SaudeSA», tantas são as transcrições (sem nossa autorização, claro, que «o mundo é dos espertos», como diz o nosso povo...);
3-Porque comento? (Ou tento comentar...Vamos ver). Porque a mentira e a leviandade devem ser contrariadas, mesmo que em «anónimos» blogues «da má lingua», acho;
4-Sobre a «interpretação delirante» para o nosso suposto «contra», digo apenas que é um insulto como seria o de eu dizer que o «Xavier» é «isto» ou «aquilo» sem sequer saber quem ele é...
Tenha decência «Sr.» «Xavier», saia do «armário»...

A referência no «SaudeSA» é a seguinte:
«SÁBADO, DEZEMBRO 6
Os Deuses devem estar loucos ...

Pelos tempos e pelo modo como as coisas vão correndo somos levados a crer que, provavelmente, os Deuses devem (mesmo) estar loucos. Senão vejamos:

O Presidente da ACSS, Manuel Teixeira, defende a externalização de serviços afirmando: …”PPP e outsourcing são bons para o SNS”…
É verdade, o CEO do SNS, o mesmo que executa parte importante das políticas definidas pelo Ministério da Saúde e pelo Governo afirma: …” Os contratos de outsourcing e as PPP são a melhor forma de resolver as falhas do mercado, aumentar a concorrência e, até, melhorar as contas”…

Face a esta informação deveremos concluir que as decisões, sobre esta matéria, tomadas pela actual Ministra e pelo Primeiro-Ministro não merecem o acolhimento deste alto dirigente do Ministério da Saúde. Ficamos com essa percepção quando reitera, perante uma plateia de administradores hospitalares, médicos e representantes de empresas ligadas à Saúde, algumas delas parceiras do Estado neste tipo de contratos.: …” as PPP contribuem para a resolução das falhas do mercado», além de aumentarem a concorrência”…

Ficamos, depois, perplexos quando, no decurso da mesma intervenção se refere ao Amadora-Sintra como um mau exemplo afirmando: …”O contrato de concessão e gestão do Hospital Amadora/Sintra é disso um exemplo muito claro: não tem clareza no que se pretende contratar; na forma como se mede o que se pretende contratar; também não é claro sobre o que acontece quando houver incumprimento, o que tem gerado uma litigância enorme”…. Neste momento, …”a litigância está no ponto de se apurar se as contas de 2004 são aceitáveis ou não. É como tentar que o Kafka resolvesse algo de pragmático”…

Prosseguimos, na senda, de um estado de larvar loucura quando lemos no TM o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Pedro Lopes, afirmar …”há alguma engenharia financeira nas contas dos hospitais EPE”…

Questionamo-nos, pertinentemente, há agora, há mais agora ou sempre houve. Quando o Dr. Pedro Lopes fazia parte de um CA também havia? Se sim foi conivente com essa prática? Foi por isso que deixou de fazer parte de um CA? Como caracteriza, no detalhe, essa engenharia financeira? É mais do tipo BPN, BPP ou daquela que o Presidente da ACSS parece criticar no Amadora-Sintra quando cita Kafka?

Sendo o Dr. Pedro Lopes administrador hospitalar há tantos anos fez alguma coisa para corrigir esta prática? Pugnou nos últimos anos pela implementação de um modelo de avaliação sério e credível dos administradores hospitalares? Na discussão que está a ter com o governo, para garantir uma carreira segura, tem como ponto de negociação o modelo de avaliação? Para além de defender (justamente) a demissão, por parte da tutela, dos CA’s que não cumpram os objectivos conhece alguns colegas seus que estejam a pensar demitir-se por (nalguns casos há décadas) andarem pelos hospitais sem nunca conseguirem cumprir objectivos?

Claro que, no final de tudo isto, não nos espanta o gáudio expresso no Editorial do Tempo Medicina quando refere: …” O Dr. Pedro Lopes, para além do peso específico que lhe advém do cargo que desempenha - é presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (ao que julgamos saber eleito com uma dúzia de votos) -, possui uma qualidade inestimável que aprendemos a apreciar: é frontal e claro. Quando assume que nos hospitais EPE se praticam truques contabilísticos nas áreas dos recursos humanos e dos medicamentos, e os explica, para mostrar resultados e cumprir os contratos-programas, está a confirmar, com a sua autoridade, o que se diz à boca pequena”…

Mas afinal existirão ilicitudes, desconformidades, delitos processuais? O Dr. Pedro Lopes há tantos anos no sector nada faz? Também os fez quando integrou CA’s?

Diz o TM (com o preconceito e incomodidade que lhe são reconhecidos (??) relativamente aos Hospitais EPE bastando apreciar o “cuidado” no casting dos colunistas residentes): …”O privilégio de “casta” de que gozam os conselhos de administração dos hospitais EPE, mantendo-os ao abrigo de qualquer avaliação e do despedimento com justa causa, é, como defende o Dr. Pedro Lopes, inaceitável, porque equivale a irresponsabilização total. Vindo de quem vem, este abanão num statu quo aparentemente perpétuo é salutar e traz esperança; oxalá encontre eco em quem decide, para que a verdade na Saúde deixe de enfermar daquele olhar coxo que só atina com médicos, enfermeiros e medicamentos”…

Então o Dr. Pedro Lopes chegou agora ao sistema de saúde e aos hospitais qual virgem branca? Ou só falará assim porque, neste momento, não integra nenhum CA? Quando o TM fala de “casta” esquece que o Dr. Pedro Lopes é o putativo presidente da mais numerosa componente dessa casta?
Ao TM perdoa-se-lhe porque já sabemos que os Hospitais EPE tendo vindo prejudicar um pouco a “dinâmica” do mercado farmacêutico comprometeu o negócio em que se move. Quanto ao Sr. Presidente da APAH fica a nota de que a função de comentador com a de actor é sempre muito delicada. Que o diga o seu antecessor…

É por estas e por outras que começa a ser evidente que o SNS público, universal, geral e equitativo começa a ter os dias contados. Não apenas pela imensa malha de interesses que o capturaram e querem consumir mas, também por muitos que, tendo sido “criados” no seu interior, não hesitam perante o deslumbramento de produzir afirmações gratuitas, habilmente, aproveitadas pelos seus detractores.

Não é por acaso que o ataque cerrado ao SNS se faz em torno dos Hospitais EPE. É aí que se concentra a parte “interessante” do financiamento para os investidores privados. È aí que a IF introduz os fármacos que libertam maiores margens e sustentam estudos, promoção, congressos, associações e imprensa “médica”. Depois temos “administradores” de carreira que julgam os outros sem primeiro se julgarem a si próprios.

Depois de tudo isto só nos resta pensar que os Deuses devem (mesmo) estar loucos…

Ora Bolas...
Etiquetas: Ora Bolas
posted by xavier at 11:59 PM 16 COMMENTS »

Fim da nossa citação do que escreveu «Xavier». Segue-se, ali, a publicação integral das peças respigadas do «Tempo Medicina» por «Xavier».
Do mesmo «blogue» copiamos (já que vale tudo...) dois comentários, que evidenciam haver por ali «blogers» com bom senso, ao invés do que acontece com «Xavier». São também citados integralmente:

Tavisto said...
Não conheço Pedro Lopes, pelo que não tenho opinião quanto aos comentários críticos que alguns companheiros do blogue fazem ao seu valor profissional enquanto administrador em exercício. Não me parece porém saudável que, para se defender o SNS e o modelo EPE dos seus inimigos externos, se procure passar a imagem de que vai tudo bem internamente e se desvalorizem críticas negativas, mesmo quando fundamentadas, transformando-se desta forma o serviço público num santuário de virtudes.

Vejamos o que nos diz na entrevista o Presidente da APAH:

- Há engenharia financeira nos hospitais EPE no que respeita a recursos humanos – Todos sabemos que é verdade. Com o objectivo de desorçamentar recorre-se ao “outsourcing” de mão-de-obra evitando-se o aumento da despesa pelo preenchimento dos quadros ou através do pagamento de horas extra. Fica mais caro ao erário público? Fica, só assim se explica o disparar da despesa em custos com pessoal quando há diminuição no número de efectivos e forte contracção salarial, mas é politicamente correcto.
- Há engenharia financeira com os medicamentos? Sinceramente não sei mas admito que sim. Digo-o porque há hospitais que conseguem medicamentos a custo zero pelos efeitos de marketing de prescrição. Em medicamentos de uso crónico o interesse da farmacêutica nesta aparente mau negócio é fácil de entender. O que desconheço é, como diz Pedro Lopes, se a contracção da despesa pela via da aquisição é apresentada como redução do consumo. Mas, se tal for politicamente correcto, é bem possível que se utilize a lógica precedente.

Bicho said...
Para quem teve contactos com Presidentes e Vogais de CA de Hospitais SA e, agora, EPE - experiência que não falta ao Dr. Pedro Lopes - creio bem que ele diz a verdade sobre a engenharia financeira em relação a muitos, embora isso não seja verdade para todos os CA.
Se também aplicou os mesmos princípios ou não, enquanto exerceu funções num CA, só ele o poderá dizer...
Relativamente ao Dr. Manuel Teixeira, independentemente de se concordar conceptualmente com ele ou não, um facto é indiscutível: - é um profissional não só tecnicamente competente como intelectualmente honesto!
E pessoas com este perfil, lamentavelmente, já não há muitas...
Concerteza por isso mantém as suas funções na ACSS.
José Manuel Antunes
Texto publicado, em exclusivo, em TEMPO MEDICINA ONLINE de 2008.12.09 0850PUB3F0308JMA50A