sábado, dezembro 08, 2007

Urgências baixam

No SNS e aumentam no sector privado

Consultas programadas cresceram nos centros de saúde e nos hospitais públicos, adianta o ministério .
Os hospitais e unidades de saúde privados fizeram 750 mil urgências em 2006, um aumento de 10 por cento em relação a 2005, e a tendência continua este ano, indicam dados da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP).
Só os hospitais Cuf Descobertas e Cuf Infante Santo, em Lisboa, passaram de 342 mil episódios de urgência em 2005 para 361 mil em 2006, enquanto o Hospital da Luz, que abriu este ano, atende já uma média de 200 doentes por dia. A APHP tem cerca de cinco dezenas de hospitais de média e grande dimensão associados, 67 por cento dos quais possuem um serviço de urgência, designado como "atendimento permanente" por questões legais.
Um movimento inverso a este verifica-se nos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde o número de episódios de urgência até diminuiu ligeiramente nos primeiros oito meses deste ano, em comparação com 2006 - menos 60 mil, ainda assim uma gota no oceano das emergências, que ultrapassaram os seis milhões em 2006. Neste período, as consultas aumentaram quatro por cento. Mas é nos centros de saúde que é muito acentuado o decréscimo de atendimentos não programados (que não são urgências no sentido técnico do termo, como o Ministério da Saúde (MS) não se cansa de frisar, ainda que as pessoas se tenham habituado a recorrer a estas consultas quando ficam doentes): entre Janeiro e Setembro deste ano realizaram-se menos 700 mil consultas não programadas, comparativamente com o mesmo período do ano anterior. Em contrapartida, houve mais cerca de 300 mil consultas programadas. Esta tendência para a diminuição já se faz sentir desde há vários anos, mas nunca tinha atingido uma dimensão tão elevada.
O MS adianta que os dados não incluem as consultas abertas em centros de saúde efectuadas este ano, porque estas ainda não estão contabilizadas. O problema é que há vários tipos de consultas abertas - as que resultaram das alterações funcionais dos centros de saúde, como o fecho nocturno de SAP, e as que surgiram no âmbito da criação das unidades de saúde familiares.
Sem dados desagregados, não é possível fazer uma análise objectiva, defenderam vários especialistas, que se mostraram surpreendidos com um decréscimo tão significativo das consultas não programadas. Para onde foi toda esta gente? São vários os factores que podem justificar esta diminuição. Ninguém acredita que tal se fique a dever ao encerramento nocturno de dezena de serviços de atendimento permanente (SAP) nos centros de saúde, porque estes recebiam poucas pessoas à noite. Nem sequer à criação da Linha de Saúde 24, que tem apenas sete meses (ver caixa). "Acho esses números poucos plausíveis", comenta Vítor Almeida, da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência. "Se calhar as pessoas transferiram-se para o sector privado...", atira. Mas são os próprios responsáveis da APHP que atribuem o aumento das urgências no privado sobretudo ao acréscimo dos seguros de saúde (20 por cento da população já coberta).
"Algumas pessoas esperarão para serem vistas pela manhã, outras desistirão e irão a uma consulta privada", comenta Carlos Mesquita, presidente da competência de Emergência da Ordem dos Médicos (OM). Quem não acredita nos números do Governo é José Manuel Silva, da OM do Centro. "Há aqui uma monstruosa mistificação. O que aconteceu foi que se mudou o rótulo, transformaram os SAP em consultas abertas".
JP, AC, 01.12.07

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