ACF, entrevista à Sábado
CONVERSAS AO SOL MINISTRO
DA SAÚDE HÁ ZONAS CINZENTAS ENTRE
PÚBLICO E PRIVADO
Esteve na calha para
suceder a Correia de Campos no tempo de Sócrates Costa convenceu o a ser
ministro em poucas horas Adalberto Campos Fernandes 57 anos revela como a sua
vida mudou já não viaja para Nova Iorque e anuncia medidas para Setembro.
Por Fernando Esteves e
Octávio Lousada Oliveira Fotos Alexandre Azevedo, Revista Sábado
Com vista para a Ponte 25
de Abril oTejo e Almda Adalberto Campos Fernandes fez o diagnóstico ao seu ministério uma máquina responsável por 123
mil profissionais. No Bar Terraço do Centro Cultural de Belém falou durante 50
minutos de viagens da curiosidade pelo recorte patológico da personalidade de
dr House das zonas de fronteira entre público e privado e do jogo de equilíbrio
a que as esquerdas estão obrigadas
UM WORKAHOLIC APAIXONADO
POR NOVA IORQUEDesde que tomou posse não voltou a viajar em lazer. Berlim foi a última cidade que visitou em turismo apesar de Nova Iorque ser o destino predilecto. Viciado em trabalho diz despachar noite dentro sem pestanejar. Às 8h a agitação chega via telemóvel. O cargo não lhe permite ter uma vida normal
Quantas
horas trabalha por dia?
Talvez 14 16 horas Gosto
muito de trabalhar e não é por estar no Governo que trabalho mais. Sou adicto
ao trabalho. Não me canso em sacrifício muitas vezes da minha equipa.
Leva
trabalho para casa?
Levo muito despacho
electrónico porque é frequente despachar noite dentro sem cansaço. Com esse
ritmo tem margem para desligar o telemóvel para ter tempo para si. As funções
são muito exigentes do ponto de vista de interacção com as equipas. Tenho
contado com a tolerância da família mas o telemóvel mesmo ao sábado domingo e durante
a noite nunca se desliga.
Em
férias consegue deixar de ler notícias abstrair se um pouco?
Não.(risos) Recebo o
clipplng todos os dias às 8h em ponto Quando recebo o toque no telemóvel leio o
e interajo com as equipas. Este tipo de missões não é compatível com uma vida
normal.
O
que mudou na gestão dos tempos livres desde que é ministro?
O sacrifício maior tem sido
a família e uma coisa que me dava muito prazer viajar
Que
viagens fazia?
A todo o lado. Gosto muito
de Nova Iorque. Da Europa tenho o hábito de fazer visitas de natureza turística
com a família mas também cultural e isso ficou perturbado. A última que fiz nestas circunstâncias foi a
Berlim no ano passado onde visitei a exposição Van Gogh e o Museu Judaico. E a
praia é obrigatória. Há 30 40 anos que sou consumidor do Algarve. A família não
dispensa, vamos sempre uma duas semanas
Tem
uma cidade de eleição?
Nova Iorque. Tem um Museu
de Arte Moderna fantástico, temos sempre coisas para fazer nunca nos cansamos. Se um dia pudesse escolher já aposentado gostaria de passar grandes temporadas
lá.
Via
alguma série relacionada com saúde?
Tinha muita curiosidade
pela personalidade do dr House que tem um recorte patológico mas que não deixa
de ser fascinante.
UM
ANTECESSOR RIGOROSO COM OS NÚMEROS
Esteve muito perto de
suceder a Correia de Campos mas diz nunca ter recebido o convite de Sócrates.
Costa convenceu-o. A Paulo Macedo reconhece vários méritos.
Hesitou
quando António Costa o convidou para ministro?
Hesitei
Porquê?
Tivemos uma conversa
bastante franca e a motivação do ponto de vista político era fortíssima mas havia
um constrangimento da vida familiar e pessoal. Mas foi uma hesitação fugaz não
demorou mais do que algumas horas.
E
não foi propriamente uma surpresa, não é?
Sei que o meu nome era
referido frequentemente mas na política muitas vezes os nomes são referidos
como forma de os queimar e de evitar que sejam convidados.
Houve
essa hipótese quando José Sócrates era primeiro ministro
Provavelmente, admito, mas
nunca fui convidado
Considera
que Paulo Macedo deixou a casa arrumada?
No sector da saúde nenhum
ministro por muito boa vontade que tenha e por muito esforçado que seja
consegue deixar a casa totalmente arrumada. São dificuldades imensas do ponto de
vista orçamental e da organização
O
que fez de bom e de mau?
Encontrei uma grande
orientação para a análise dos números a informação de gestão a transparência o
combate à fraude e embora com o apoio da troika um primeiro afrontamento às
rendas excessivas no sector do medicamento. O que correu menos bem foi a
capacidade de reformar
A
FRAUDE O MY SNS E AS ZONAS CINZENTAS
Até ao fim do ano os
cidadãos poderão aceder ao histórico de relações com o SNS na Internet e em Setembro
haverá nova legislação para regular conflitos de interesse entre tratamentos
nos sectores público e privado.
Tem
sido doloroso resistir aos lóbis que se movem na saúde?
É natural que quando há
dinheiro envolvido haja interesses que se exprimem de uma forma mais ou menos
organizada. Uma coisa garanto uma das melhores qualidades que a mim próprio
reconheço é ter nervos de aço. Permite me ter grande capacidade de resistir a
qualquer pressão menos adequada.
Em
janeiro foi criado o grupo de prevenção e luta contra a fraude no SNS Que
balanço faz?
Tem sido possível detectar
e muitas situações algumas que decorrem de falhas do sistema e outras em que
existem indícios de natureza criminal. E está a ser lançado o Centro de Controlo
e Monitorização do SNS que até ao fim do ano se vai ocupar de tudo o que sejam fluxos
financeiros públicos. Ao mesmo tempo iremos impor até ao fim do ano que a relação
com estes sectores nomeadamente o convencionado passe a ser totalmente desmaterializada.
Quanto
é que já foi recuperado?
Largas dezenas para não
dizer centenas de milhões de euros não tanto pela recuperação mas pela
sinalização e prevenção do risco de dinheiro mal gasto. É uma matéria que vamos
aprofundar e expor tudo o que envolva dinheiro público está acessível no portal
do SNS. E até ao fim do ano vamos ter acesso à conta de benefícios do cidadão na
sua relação com o SNS.
O
que é que isso quer dizer?
O cidadão poderá ir ao
portal do SNS e ver os momentos de relação com o SNS, medicamentos que comprou, episódios de urgência, consultas que teve. Através desta área a que podemos chamar o "My SNS" terá informação detalhada sobre a relação com o sistema.
Como
é que pretende fixar médicos no interior e no Algarve?
Estamos a preparar
legislação que será conhecida em Setembro, que introduza incentivos de fixação
mas também de mobilidade permitir que os médicos possam estar alguns anos em
Évora, Castelo Branco, Guarda, e ao fim desse período possam pedir mobilidade
.Serão incentivos não só materiais mas também de progressão na carreira.
No
início de 2015 tínhamos mais de um milhão e 300 mil portugueses sem médico de
família. Quais são os dados agora?
Contamos no fim do ano
reduzir esse número em 400 500 mil. E acreditamos que no fim de 2017 estaremos
muito próximos da cobertura total de portugueses por médico de família.
Antes
de tomar posse disse que 10 por cento do orçamento da Saúde era desperdício. Já
descobriu onde é que andam esses 900 milhões de euros?
Estamos a ter um controlo
muito bom da despesa na execução orçamental e a gestão das instituições de
saúde é a primeira responsável . Agora a prescrição electrónica de meios
complementares de diagnóstico e terapêutica, por exemplo, pode ter um impacto
muito grande na despesa porque repetimos exames em grande quantidade .Portugal
é dos países da OCDE com maior número de ressonâncias magnéticas realizadas por
cada 100 mil habitantes.
Porque
praticamos uma Medicina tão defensiva
Admito que seja em parte
Medicina defensiva mas também uma proliferação da oferta de cuidados, as duplas
e as terceiras coberturas. Está por resolver em Portugal uma relação que seja
saudável e transparente entre o sector público e o sector privado Há conflitos
de interesses e há zonas cinzentas que têm que ser aclaradas. Os doentes muitas vezes
são submetidos a exames ou cuidados a mais pelos piores motivos e em
contrapartida alguns daqueles que dependem apenas do SNS têm cuidados a menos.
Em Setembro teremos novidades sobre o instrumento legislativo que procura clarificar
as relações de fronteira.
Pondera
acabar com alguma das PPPs parceria público privadas na Saúde sendo que duas
Cascais e Braga acabam durante o seu mandato?
Pondero apenas e só cumprir
o programa do Governo que diz que as PPPs serão avaliadas por entidades
independentes e pelo Governo.
Vai
ser preciso contratar mais enfermeiros com as 35 horas?
Ternos recrutado e
reforçado as instituições analisando as uma a uma. Mas as 35 horas nos
enfermeiros em trabalho por turno de fendem melhor a qualidade do trabalho.
Estamos a procurar recuperar o tempo perdido num quadro de responsabilidade
orçamental.
O EQUILIBRISMO E AS
PRESSÕES DAS ESQUERDAS
Não se diz condicionado
pelas agendas de BE e PCP nem antevê a prescrição dos acordos. Deixa recados
aos profetas do apocalipse e salienta que as pessoas se sentem tratadas de
maneira diferente
Antevê
um futuro auspicioso a este Governo cujo equilíbrio tanto se questiona?
Desde que tomámos posse
todos os dias fomos confrontados com cenários apocalípticos e os apóstolos da
desgraça têm visto contrariadas as suas premonições Acredito que a legislatura
vai acabar com normalidade.
Não
se revê na tese de que à primeira oportunidade BE ou PCP vão puxar o tapete ao
Governo?
Isso é pensar a política em
2015 como se pensava em 1978 1979 ou 1985. O mundo mudou e o pensamento
político e comportamento dos agentes políticos também.
Não
consta que o PCP tenha mudado muito nos últimos 30 anos
Alguma coisa terá mudado.
Já
se sentiu condicionado na sua pasta pelo BE ou pelo PCP?
Em nenhum momento Temos um
diálogo muito positivo, muito franco, apesar de nem sempre termos os mesmos
pontos de vista. O Governo tomou posse para virar a página da austeridade
Ainda
é plausível acreditar que isso não passou de retórica
Hoje
o País fala de repor direitos sociais rendimentos de proteger os mais pobres e
os mais carenciados num quadro em que as dificuldades económicas do País e da
Europa ainda se mantêm.
As pessoas estão a viver melhor do que
viviam há oito meses
Acredito que ainda não estão a viver nas condições que mereceriam e não sei
quando é que será possível garantirmos um nível de bem estar para todos nas
melhores condições ninguém diz que as dificuldades terminaram o que talvez as
pessoas sintam é que são tratadas de maneira diferente.
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