quarta-feira, agosto 17, 2016

ACF, entrevista à Sábado

CONVERSAS AO SOL MINISTRO DA  SAÚDE HÁ ZONAS CINZENTAS ENTRE PÚBLICO E PRIVADO
Esteve na calha para suceder a Correia de Campos no tempo de Sócrates Costa convenceu o a ser ministro em poucas horas Adalberto Campos Fernandes 57 anos revela como a sua vida mudou já não viaja para Nova Iorque e anuncia medidas para Setembro.
Por Fernando Esteves e Octávio Lousada Oliveira Fotos Alexandre Azevedo, Revista Sábado
Com vista para a Ponte 25 de Abril oTejo e Almda Adalberto Campos Fernandes fez o diagnóstico ao seu ministério uma máquina responsável por 123 mil profissionais. No Bar Terraço do Centro Cultural de Belém falou durante 50 minutos de viagens da curiosidade pelo recorte patológico da personalidade de dr House das zonas de fronteira entre público e privado e do jogo de equilíbrio a que as esquerdas estão obrigadas
UM WORKAHOLIC APAIXONADO POR NOVA IORQUE
Desde que tomou posse não voltou a viajar em lazer. Berlim foi a última cidade que visitou em turismo apesar de Nova Iorque ser o destino predilecto. Viciado em trabalho diz despachar noite dentro sem pestanejar. Às 8h a agitação chega via telemóvel. O cargo não lhe permite ter uma vida normal

Quantas horas trabalha por dia?
Talvez 14 16 horas Gosto muito de trabalhar e não é por estar no Governo que trabalho mais. Sou adicto ao trabalho. Não me canso em sacrifício muitas vezes da minha equipa.
Leva trabalho para casa?
Levo muito despacho electrónico porque é frequente despachar noite dentro sem cansaço. Com esse ritmo tem margem para desligar o telemóvel para ter tempo para si. As funções são muito exigentes do ponto de vista de interacção com as equipas. Tenho contado com a tolerância da família mas o telemóvel mesmo ao sábado domingo e durante a noite nunca se desliga.
Em férias consegue deixar de ler notícias abstrair se um pouco?
Não.(risos) Recebo o clipplng todos os dias às 8h em ponto Quando recebo o toque no telemóvel leio o e interajo com as equipas. Este tipo de missões não é compatível com uma vida normal.
O que mudou na gestão dos tempos livres desde que é ministro?
O sacrifício maior tem sido a família e uma coisa que me dava muito prazer viajar
Que viagens fazia?
A todo o lado. Gosto muito de Nova Iorque. Da Europa tenho o hábito de fazer visitas de natureza turística com a família mas também cultural e isso ficou perturbado.  A última que fiz nestas circunstâncias foi a Berlim no ano passado onde visitei a exposição Van Gogh e o Museu Judaico. E a praia é obrigatória. Há 30 40 anos que sou consumidor do Algarve. A família não dispensa, vamos sempre uma duas semanas
Tem uma cidade de eleição?
Nova Iorque. Tem um Museu de Arte Moderna fantástico, temos sempre coisas para fazer nunca nos cansamos. Se um dia pudesse escolher já aposentado gostaria de passar grandes temporadas lá.
Via alguma série relacionada com saúde?
Tinha muita curiosidade pela personalidade do dr House que tem um recorte patológico mas que não deixa de ser fascinante.
UM ANTECESSOR RIGOROSO COM OS NÚMEROS
Esteve muito perto de suceder a Correia de Campos mas diz nunca ter recebido o convite de Sócrates. Costa convenceu-o. A Paulo Macedo reconhece vários méritos.
Hesitou quando António Costa o convidou para ministro?
Hesitei
Porquê?
Tivemos uma conversa bastante franca e a motivação do ponto de vista político era fortíssima mas havia um constrangimento da vida familiar e pessoal. Mas foi uma hesitação fugaz não demorou mais do que algumas horas.
E não foi propriamente uma surpresa, não é?
Sei que o meu nome era referido frequentemente mas na política muitas vezes os nomes são referidos como forma de os queimar e de evitar que sejam convidados.
Houve essa hipótese quando José Sócrates era primeiro ministro
Provavelmente, admito, mas nunca fui convidado
Considera que Paulo Macedo deixou a casa arrumada?
No sector da saúde nenhum ministro por muito boa vontade que tenha e por muito esforçado que seja consegue deixar a casa totalmente arrumada. São dificuldades imensas do ponto de vista orçamental e da organização
O que fez de bom e de mau?
Encontrei uma grande orientação para a análise dos números a informação de gestão a transparência o combate à fraude e embora com o apoio da troika um primeiro afrontamento às rendas excessivas no sector do medicamento. O que correu menos bem foi a capacidade de reformar
A FRAUDE O MY SNS E AS ZONAS CINZENTAS
Até ao fim do ano os cidadãos poderão aceder ao histórico de relações com o SNS na Internet e em Setembro haverá nova legislação para regular conflitos de interesse entre tratamentos nos sectores público e privado.
Tem sido doloroso resistir aos lóbis que se movem na saúde?
É natural que quando há dinheiro envolvido haja interesses que se exprimem de uma forma mais ou menos organizada. Uma coisa garanto uma das melhores qualidades que a mim próprio reconheço é ter nervos de aço. Permite me ter grande capacidade de resistir a qualquer pressão menos adequada.
Em janeiro foi criado o grupo de prevenção e luta contra a fraude no SNS Que balanço faz?
Tem sido possível detectar e muitas situações algumas que decorrem de falhas do sistema e outras em que existem indícios de natureza criminal. E está a ser lançado o Centro de Controlo e Monitorização do SNS que até ao fim do ano se vai ocupar de tudo o que sejam fluxos financeiros públicos. Ao mesmo tempo iremos impor até ao fim do ano que a relação com estes sectores nomeadamente o convencionado passe a ser totalmente desmaterializada.
Quanto é que já foi recuperado?
Largas dezenas para não dizer centenas de milhões de euros não tanto pela recuperação mas pela sinalização e prevenção do risco de dinheiro mal gasto. É uma matéria que vamos aprofundar e expor tudo o que envolva dinheiro público está acessível no portal do SNS. E até ao fim do ano vamos ter acesso à conta de benefícios do cidadão na sua relação com o SNS.
O que é que isso quer dizer?
O cidadão poderá ir ao portal do SNS e ver os momentos de relação com o SNS, medicamentos que comprou, episódios de urgência, consultas que teve. Através desta área a que podemos chamar o "My SNS" terá informação detalhada sobre a relação com o sistema.
Como é que pretende fixar médicos no interior e no Algarve?
Estamos a preparar legislação que será conhecida em Setembro, que introduza incentivos de fixação mas também de mobilidade permitir que os médicos possam estar alguns anos em Évora, Castelo Branco, Guarda, e ao fim desse período possam pedir mobilidade .Serão incentivos não só materiais mas também de progressão na carreira.
No início de 2015 tínhamos mais de um milhão e 300 mil portugueses sem médico de família. Quais são os dados agora?
Contamos no fim do ano reduzir esse número em 400 500 mil. E acreditamos que no fim de 2017 estaremos muito próximos da cobertura total de portugueses por médico de família.
Antes de tomar posse disse que 10 por cento do orçamento da Saúde era desperdício. Já descobriu onde é que andam esses 900 milhões de euros?
Estamos a ter um controlo muito bom da despesa na execução orçamental e a gestão das instituições de saúde é a primeira responsável . Agora a prescrição electrónica de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, por exemplo, pode ter um impacto muito grande na despesa porque repetimos exames em grande quantidade .Portugal é dos países da OCDE com maior número de ressonâncias magnéticas realizadas por cada 100 mil habitantes.
Porque praticamos uma Medicina tão defensiva
Admito que seja em parte Medicina defensiva mas também uma proliferação da oferta de cuidados, as duplas e as terceiras coberturas. Está por resolver em Portugal uma relação que seja saudável e transparente entre o sector público e o sector privado Há conflitos de interesses e há zonas cinzentas que têm que ser aclaradas. Os doentes muitas vezes são submetidos a exames ou cuidados a mais pelos piores motivos e em contrapartida alguns daqueles que dependem apenas do SNS têm cuidados a menos. Em Setembro teremos novidades sobre o instrumento legislativo que procura clarificar as relações de fronteira.
Pondera acabar com alguma das PPPs parceria público privadas na Saúde sendo que duas Cascais e Braga acabam durante o seu mandato?
Pondero apenas e só cumprir o programa do Governo que diz que as PPPs serão avaliadas por entidades independentes e pelo Governo.
Vai ser preciso contratar mais enfermeiros com as 35 horas?
Ternos recrutado e reforçado as instituições analisando as uma a uma. Mas as 35 horas nos enfermeiros em trabalho por turno de fendem melhor a qualidade do trabalho. Estamos a procurar recuperar o tempo perdido num quadro de responsabilidade orçamental.
O EQUILIBRISMO E AS PRESSÕES DAS ESQUERDAS
Não se diz condicionado pelas agendas de BE e PCP nem antevê a prescrição dos acordos. Deixa recados aos profetas do apocalipse e salienta que as pessoas se sentem tratadas de maneira diferente
Antevê um futuro auspicioso a este Governo cujo equilíbrio tanto se questiona?
Desde que tomámos posse todos os dias fomos confrontados com cenários apocalípticos e os apóstolos da desgraça têm visto contrariadas as suas premonições Acredito que a legislatura vai acabar com normalidade.
Não se revê na tese de que à primeira oportunidade BE ou PCP vão puxar o tapete ao Governo?
Isso é pensar a política em 2015 como se pensava em 1978 1979 ou 1985. O mundo mudou e o pensamento político e comportamento dos agentes políticos também.
Não consta que o PCP tenha mudado muito nos últimos 30 anos
Alguma coisa terá mudado.
Já se sentiu condicionado na sua pasta pelo BE ou pelo PCP?
Em nenhum momento Temos um diálogo muito positivo, muito franco, apesar de nem sempre termos os mesmos pontos de vista. O Governo tomou posse para virar a página da austeridade
Ainda é plausível acreditar que isso não passou de retórica
Hoje o País fala de repor direitos sociais rendimentos de proteger os mais pobres e os mais carenciados num quadro em que as dificuldades económicas do País e da Europa ainda se mantêm.
As pessoas estão a viver melhor do que viviam há oito meses
Acredito que ainda não estão a viver nas condições que mereceriam e não sei quando é que será possível garantirmos um nível de bem estar para todos nas melhores condições ninguém diz que as dificuldades terminaram o que talvez as pessoas sintam é que são tratadas de maneira diferente.

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