Sobram mais de 500 médicos na área de Lisboa
A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) — que ajuda o Ministério a gerir o sector — recomenda a Paulo Macedo que ‘baralhe e dê de novo’ centenas de especialistas para que as unidades do Estado mantenham os cuidados à população cumprindo a imposição de não recorrem a horas extras ou a empresas de serviços médicos. Entre 2012 e 2015, nos hospitais será preciso reduzir seis especialidades e reforçar outras 18 e ainda aumentar, substancialmente, os médicos de família e de saúde pública.
A reestruturação proposta no estudo, de setembro, implica dispensar centenas de especialistas (transferindo-os para o quadro da mobilidade) das valências tidas como excedentárias: cardiologia, anestesiologia, pneumologia, cirurgia, neurologia e gastro. Os cortes afetam clínicos de todo o país, com a região de Lisboa à cabeça. Só nalguns dos maiores hospitais (grupo que inclui Santa Maria e São José) sobram mais de 500 especialistas. Mas nenhum administrador comenta. “O Centro Hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente) não se pronuncia, tendo em conta existir um grupo que está a elaborar a reestruturação dos hospitais”. Do São José a reação é idêntica: “O Centro Hospitalar de Lisboa Central não tem conhecimento oficial do estudo, pelo que não fará comentários.” A mesma resposta foi dada por outros hospitais atingidos, como Águeda e o Centro Hospitalar do Porto.
E a este grupo de saída juntam-se ainda centenas de médicos cujas áreas clínicas devem, no entender da ACSS, ser extintas. É o caso de 248 profissionais de 19 especialidades que o Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) deve deixar de oferecer e de 56 clínicos de seis valências a encerrar na Maternidade Alfredo Costa, Lisboa. Fechos justificados com o novo Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e a abertura dos hospitais de Loures, em janeiro, e de Lisboa Oriental, em 2014.
“Ouvi falar do estudo através de uma médica, mas não lhe atribuo grande importância porque tem um erro grosseiro: parte do pressuposto que, com a criação do novo centro hospitalar universitário, são os médicos daqui que vão para a mobilidade e não os dos Hospitais da Universidade de Coimbra”, diz a presidente do CHC, Rosa Marques. Ainda assim, reconhece que “os médicos estão preocupados porque o estudo é desestabilizador”. Já os responsáveis da Maternidade Alfredo da Costa não comentam.
Do lado oposto estão os hospitais cujos quadros devem aumentar face ao reforço proposto para 18 especialidades, sobretudo medicina interna, ortopedia, psiquiatria, radiologia, dermatologia, oncologia médica ou oftalmologia. E também aqui há centenas de médicos abrangidos. Só para a medicina interna é proposta a contratação de mais 719 especialistas, e o maior privilegiado é o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (hospitais de Penafiel e São Gonçalo).
Segundo a ACSS, o número elevado faz sentido “porque é atribuído a estes especialistas a atividade assistencial de urgência e cuidados intensivos”. Mas o argumento não convence. “O conselho de administração muito gostaria que as necessidades previstas pudessem ser supridas; no entanto, olhando a conjuntura, será difícil alcançar os números avançados”, responde a unidade do Tâmega.
ACSS e Ministério em silêncio
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, o receio é outro. Internista de formação, garante que não se pode dar de forma automática aos médicos de medicina interna a responsabilidade de assegurarem os cuidados intensivos. “É precisa formação na área, com dois anos de ciclo de estudos especiais.” Esta formação tem sido paga pelos hospitais e há já quem antecipe que a aparente omissão, no documento da ACSS, poderá indiciar que será extinta por força dos cortes financeiros.
A ACSS não dá explicações, informando apenas que o estudo “foi enviado para o gabinete do ministro, em cumprimento de uma imposição da troika, (que ordenou um levantamento das necessidades do país), aguardando-se validação”. O Ministério da Saúde não diz muito mais: “Como se trata de um documento de trabalho interno, não é vinculativo e o Ministério não se pronuncia sobre as propostas.” No entanto, “servirá, juntamente com outros que estão a ser realizados, para a decisão política do ministro e para a futura Carta Hospitalar” — prevista para a primeira quinzena de dezembro.
Cuidados a reforçar: Medicina Interna: Mais 719 especialistas ; Ortopedia: Mais 135 especialistas ; Psiquiatria: Mais 134 especialistas ; Radiologia: Mais 129 especialistas ; Dermatologia: Mais 90 especialistas-
Redução nacional de Médicos: Cardiologia: Menos 93; Anestesiologia: 23; Pneumologia: Menos 23; Cirurgia Geral: Menos 10; Neurologia: Menos 4.
Vera Lúcia Arreigoso, expresso 22.10.11
A reestruturação proposta no estudo, de setembro, implica dispensar centenas de especialistas (transferindo-os para o quadro da mobilidade) das valências tidas como excedentárias: cardiologia, anestesiologia, pneumologia, cirurgia, neurologia e gastro. Os cortes afetam clínicos de todo o país, com a região de Lisboa à cabeça. Só nalguns dos maiores hospitais (grupo que inclui Santa Maria e São José) sobram mais de 500 especialistas. Mas nenhum administrador comenta. “O Centro Hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente) não se pronuncia, tendo em conta existir um grupo que está a elaborar a reestruturação dos hospitais”. Do São José a reação é idêntica: “O Centro Hospitalar de Lisboa Central não tem conhecimento oficial do estudo, pelo que não fará comentários.” A mesma resposta foi dada por outros hospitais atingidos, como Águeda e o Centro Hospitalar do Porto.
E a este grupo de saída juntam-se ainda centenas de médicos cujas áreas clínicas devem, no entender da ACSS, ser extintas. É o caso de 248 profissionais de 19 especialidades que o Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) deve deixar de oferecer e de 56 clínicos de seis valências a encerrar na Maternidade Alfredo Costa, Lisboa. Fechos justificados com o novo Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e a abertura dos hospitais de Loures, em janeiro, e de Lisboa Oriental, em 2014.
“Ouvi falar do estudo através de uma médica, mas não lhe atribuo grande importância porque tem um erro grosseiro: parte do pressuposto que, com a criação do novo centro hospitalar universitário, são os médicos daqui que vão para a mobilidade e não os dos Hospitais da Universidade de Coimbra”, diz a presidente do CHC, Rosa Marques. Ainda assim, reconhece que “os médicos estão preocupados porque o estudo é desestabilizador”. Já os responsáveis da Maternidade Alfredo da Costa não comentam.
Do lado oposto estão os hospitais cujos quadros devem aumentar face ao reforço proposto para 18 especialidades, sobretudo medicina interna, ortopedia, psiquiatria, radiologia, dermatologia, oncologia médica ou oftalmologia. E também aqui há centenas de médicos abrangidos. Só para a medicina interna é proposta a contratação de mais 719 especialistas, e o maior privilegiado é o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (hospitais de Penafiel e São Gonçalo).
Segundo a ACSS, o número elevado faz sentido “porque é atribuído a estes especialistas a atividade assistencial de urgência e cuidados intensivos”. Mas o argumento não convence. “O conselho de administração muito gostaria que as necessidades previstas pudessem ser supridas; no entanto, olhando a conjuntura, será difícil alcançar os números avançados”, responde a unidade do Tâmega.
ACSS e Ministério em silêncio
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, o receio é outro. Internista de formação, garante que não se pode dar de forma automática aos médicos de medicina interna a responsabilidade de assegurarem os cuidados intensivos. “É precisa formação na área, com dois anos de ciclo de estudos especiais.” Esta formação tem sido paga pelos hospitais e há já quem antecipe que a aparente omissão, no documento da ACSS, poderá indiciar que será extinta por força dos cortes financeiros.
A ACSS não dá explicações, informando apenas que o estudo “foi enviado para o gabinete do ministro, em cumprimento de uma imposição da troika, (que ordenou um levantamento das necessidades do país), aguardando-se validação”. O Ministério da Saúde não diz muito mais: “Como se trata de um documento de trabalho interno, não é vinculativo e o Ministério não se pronuncia sobre as propostas.” No entanto, “servirá, juntamente com outros que estão a ser realizados, para a decisão política do ministro e para a futura Carta Hospitalar” — prevista para a primeira quinzena de dezembro.
Cuidados a reforçar: Medicina Interna: Mais 719 especialistas ; Ortopedia: Mais 135 especialistas ; Psiquiatria: Mais 134 especialistas ; Radiologia: Mais 129 especialistas ; Dermatologia: Mais 90 especialistas-
Redução nacional de Médicos: Cardiologia: Menos 93; Anestesiologia: 23; Pneumologia: Menos 23; Cirurgia Geral: Menos 10; Neurologia: Menos 4.
Vera Lúcia Arreigoso, expresso 22.10.11
Etiquetas: XIX GOV
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