“O euro tem os dias contados”,
Defende Desmond Lachman, antigo diretor-adjunto do FMI
Portugal tem forma de evitar os próximos dois anos de crise. Como? “Saindo do euro”, uma opção “inevitável”, afirmou, em entrevista ao Expresso, Desmond Lachman, diretor-adjunto do FMI entre 1994 e 1996 e hoje professor na Universidade de Georgetown, onde chegou oriundo de Wall Street.
“Portugal não vai aguentar as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) sem deixar o euro. Mas, se esse será o fim, porquê esperar dois anos que se avizinham de recessão profunda? Não percebo como é que o país conseguirá, simultaneamente, pagar a dívida e resistir a um programa de austeridade imposto pelo FMI, que resultará em contração económica e em deflação, o que aumentará o problema da dívida pública”.
A partir do seu gabinete em Washington, Lachman tem prestado atenção ao caso português, que considera “mais grave do que o grego”, devido a uma “dívida externa superior (em percentagem do PIB). Incluindo o sector privado, o país deve ao estrangeiro o equivalente a 230% do PIB. E ainda tem o problema do défice orçamental, que não andará longe dos 10%. Portugal tem debilidades enormes e não percebo como lidará com elas, mantendo-se no euro e sem poder desvalorizar a moeda”.
A saída de Portugal do euro irá tornar-se urgente quando a Grécia reconhecer que não tem condições para pagar a sua dívida, entrando em incumprimento, algo que prevê que ocorra “até final do ano”. A partir daí, “Portugal não sobreviverá às pressões dos mercados”. Economia vai contrair mais do que o previsto Lachman recomenda que o Governo português estude a crise argentina, quando, entre 1999 e 2001 respeitou um programa do FMI, que terminou com a “economia em cacos”. E defende: “É inconsciente o que o FMI está a fazer a Portugal. Portugal não terá melhor desempenho do que a Grécia. A economia grega contraiu 9% nos últimos 18 meses e mesmo assim o FMI exigiu que o novo orçamento fosse ainda mais austero. No caso português irá passar-se o mesmo. O cenário é assustador. É claro que a economia vai contrair muito mais do que os 2% previstos pelo Governo”. O antigo Nobel da Economia, Milton Friedman, disse em 1999 que o “euro não sobreviveria à primeira recessão”. Estudioso da obra do seu compatriota, Lachman assegura que nem o pessimismo de Friedman podia prever este cenário, em que os desequilíbrios orçamentais “são tão incríveis, impossíveis de corrigir sem abdicar do euro”.
Na hora de apontar culpados, o catedrático de Georgetown aponta a Comissão Europeia, “por ter deixado as nações periféricas acumular défices anos a fio”, os governos desses mesmos países, que levaram a cabo “políticas de endividamento louco”, os bancos, “incapazes de cortar o financiamento a países com graves problemas de contas públicas”, e o FMI, que “nem cheirou a crise a aproximar-se”.
Segundo Lachman, há outra razão de fundo para a fragilidade do projeto europeu: “Existe uma grande diferença entre os interesses da Alemanha e da França e os interesses de Portugal e da Grécia. Os primeiros defendem este tipo de políticas austeras, para garantir que os países periféricos paguem as dívidas, visto que o interesse é proteger o seu sistema bancário”.
O possível descalabro financeiro e económico europeu pode ser evitado caso alemães e franceses se comprometam a “aumentar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira”, dos atuais € 440 mil milhões para €2 biliões. Isto porque o fundo, que serviu para auxiliar Grécia e Portugal, é insuficiente caso Espanha e Itália peçam ajuda.
“Se Alemanha e França quiserem salvar o projeto europeu terão de injetar, durante os próximos anos, muito dinheiro. O Banco Central Europeu está certo quando explica que se a Grécia entrar em incumprimento, Portugal e Irlanda irão a seguir e depois a pressão sobre Espanha e Itália será demasiada. A única salvação é o cheque alemão”, diz Lachman.
A degradação da crise está a dar-se. “Quando vi a última Cimeira Europeia, com Espanha e Itália cada vez mais pressionadas e alemães e franceses a recusarem-se pôr mais dinheiro em cima da mesa, percebi que estamos a dois ou três meses disso acontecer”. E confessa: “Nunca vi nada assim! Os dias do euro estão contados. Na minha opinião, desaparecerá dentro de seis a 12 meses. Pode levar mais algum tempo, mas será fatal”.
Portugal tem forma de evitar os próximos dois anos de crise. Como? “Saindo do euro”, uma opção “inevitável”, afirmou, em entrevista ao Expresso, Desmond Lachman, diretor-adjunto do FMI entre 1994 e 1996 e hoje professor na Universidade de Georgetown, onde chegou oriundo de Wall Street.
“Portugal não vai aguentar as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) sem deixar o euro. Mas, se esse será o fim, porquê esperar dois anos que se avizinham de recessão profunda? Não percebo como é que o país conseguirá, simultaneamente, pagar a dívida e resistir a um programa de austeridade imposto pelo FMI, que resultará em contração económica e em deflação, o que aumentará o problema da dívida pública”.
A partir do seu gabinete em Washington, Lachman tem prestado atenção ao caso português, que considera “mais grave do que o grego”, devido a uma “dívida externa superior (em percentagem do PIB). Incluindo o sector privado, o país deve ao estrangeiro o equivalente a 230% do PIB. E ainda tem o problema do défice orçamental, que não andará longe dos 10%. Portugal tem debilidades enormes e não percebo como lidará com elas, mantendo-se no euro e sem poder desvalorizar a moeda”.
A saída de Portugal do euro irá tornar-se urgente quando a Grécia reconhecer que não tem condições para pagar a sua dívida, entrando em incumprimento, algo que prevê que ocorra “até final do ano”. A partir daí, “Portugal não sobreviverá às pressões dos mercados”. Economia vai contrair mais do que o previsto Lachman recomenda que o Governo português estude a crise argentina, quando, entre 1999 e 2001 respeitou um programa do FMI, que terminou com a “economia em cacos”. E defende: “É inconsciente o que o FMI está a fazer a Portugal. Portugal não terá melhor desempenho do que a Grécia. A economia grega contraiu 9% nos últimos 18 meses e mesmo assim o FMI exigiu que o novo orçamento fosse ainda mais austero. No caso português irá passar-se o mesmo. O cenário é assustador. É claro que a economia vai contrair muito mais do que os 2% previstos pelo Governo”. O antigo Nobel da Economia, Milton Friedman, disse em 1999 que o “euro não sobreviveria à primeira recessão”. Estudioso da obra do seu compatriota, Lachman assegura que nem o pessimismo de Friedman podia prever este cenário, em que os desequilíbrios orçamentais “são tão incríveis, impossíveis de corrigir sem abdicar do euro”.
Na hora de apontar culpados, o catedrático de Georgetown aponta a Comissão Europeia, “por ter deixado as nações periféricas acumular défices anos a fio”, os governos desses mesmos países, que levaram a cabo “políticas de endividamento louco”, os bancos, “incapazes de cortar o financiamento a países com graves problemas de contas públicas”, e o FMI, que “nem cheirou a crise a aproximar-se”.
Segundo Lachman, há outra razão de fundo para a fragilidade do projeto europeu: “Existe uma grande diferença entre os interesses da Alemanha e da França e os interesses de Portugal e da Grécia. Os primeiros defendem este tipo de políticas austeras, para garantir que os países periféricos paguem as dívidas, visto que o interesse é proteger o seu sistema bancário”.
O possível descalabro financeiro e económico europeu pode ser evitado caso alemães e franceses se comprometam a “aumentar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira”, dos atuais € 440 mil milhões para €2 biliões. Isto porque o fundo, que serviu para auxiliar Grécia e Portugal, é insuficiente caso Espanha e Itália peçam ajuda.
“Se Alemanha e França quiserem salvar o projeto europeu terão de injetar, durante os próximos anos, muito dinheiro. O Banco Central Europeu está certo quando explica que se a Grécia entrar em incumprimento, Portugal e Irlanda irão a seguir e depois a pressão sobre Espanha e Itália será demasiada. A única salvação é o cheque alemão”, diz Lachman.
A degradação da crise está a dar-se. “Quando vi a última Cimeira Europeia, com Espanha e Itália cada vez mais pressionadas e alemães e franceses a recusarem-se pôr mais dinheiro em cima da mesa, percebi que estamos a dois ou três meses disso acontecer”. E confessa: “Nunca vi nada assim! Os dias do euro estão contados. Na minha opinião, desaparecerá dentro de seis a 12 meses. Pode levar mais algum tempo, mas será fatal”.
Expresso, caderno de economia, 06.08.11
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