segunda-feira, agosto 01, 2011

Uns anjinhos ou muito pior

O Governo de Passos Coelho faz ainda pior ao vender estas empresas em hasta pública sem acautelar o interesse nacional e indo além do exigido pela troika .

Em 2005, a pressão da opinião pública levou a Administração Bush a proibir a empresa estatal chinesa CNOOC de comprar a Unocal, pequena empresa do sector do petróleo. Na Alemanha e em França, o Governo protege tanto as grandes empresas elétricas que ainda não as obrigou a vender os ativos de transmissão (o chamado unbundling). O maior acionista da EDF e da Total é o Estado francês, naturalmente. exemplo, a regularização dos caudais hídricos, o acesso a infraestruturas de transporte e a negociação de contratos de abastecimento de gás com os países produtores. Não há país no mundo em que o governo tenha abdicado de uma forte representação dos interesses nacionais no sector da energia.

As sucessivas tentativas de vender as empresas do sector da energia portuguesas a interesses estrangeiros davam para escrever um romance. Quando fui ministro, impedi in extremis a venda da Galp à Eni e da EDP à Iberdrola. Consegui o possível, dados os compromissos que tinham sido assumidos por governos anteriores, mas há uma certeza que tenho: não teria ficado mais um minuto no governo se não me tivessem dado condições para defender o interesse nacional. Recordo que na ocasião, o PSD e o CDS chamaram-me ao Parlamento porque estavam inquietos com as notícias de que a EDP e a Galp podiam ser vendidas a empresas estrangeiras. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
O que interessa são os factos. A EDP, a Galp e a REN estão melhor ou pior do que em 2005? Estão melhor em termos de eficiência, valorização e presença internacional. Há mais concorrência? Há, no sector da eletricidade várias empresas estrangeiras obtiveram licenças para construir barragens e centrais a gás. O Governo colocou nestas empresas os seus amigos? Não, o presidente da EDP é um ex-ministro do governo de Santana Lopes, na REN, o maior acionista privado é a Logoplaste, da qual são sócios-gestores próximos do Presidente da República e na Galp o CEO foi escolhido pela Amorim Energia e ENI.

A Galp, REN e EDP são empresas rentáveis e que se valorizaram. A sua venda em hasta pública não pode ser justificada em termos de racionalidade económica, consiste numa decisão que os países que queremos usar como modelo nunca tomariam e representa mais um passo no processo de declínio de Portugal.

Manuel Pinho, expresso, 30.07.11

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