Desmotivados
PROFISSIONAIS DAS TECNOLOGIAS DE SAÚDE DOS HOSPITAIS EPE ESTÃO MAIS DESMOTIVADOS.
Há "uma degradação do estado psicológico dos trabalhadores" dos hospitais-empresa, o que poderá provocar "a perda de qualidade e humanismo"
A maior parte dos profissionais das tecnologias de saúde a exercer nos hospitais empresarializados acredita que, na generalidade dos casos, a sua situação piorou ou pelo menos não melhorou com esta nova modalidade de gestão, concluiu o Sindicato das Ciências e Tecnologias da Saúde (SCTS), num estudo ontem divulgado.
Há "uma degradação do estado psicológico dos trabalhadores" dos hospitais-empresa, o que poderá provocar "a perda de qualidade e humanismo"
A maior parte dos profissionais das tecnologias de saúde a exercer nos hospitais empresarializados acredita que, na generalidade dos casos, a sua situação piorou ou pelo menos não melhorou com esta nova modalidade de gestão, concluiu o Sindicato das Ciências e Tecnologias da Saúde (SCTS), num estudo ontem divulgado.
Os resultados deste inquérito, a que responderam 10 por cento dos profissionais desta área a exercer no Serviço Nacional de Saúde (SNS), foram comparados com os de um estudo semelhante levado a cabo há quatro anos. As conclusões provam que nos hospitais-empresa (EPE) há "uma degradação do estado psicológico dos trabalhadores", o que poderá provocar "a perda de qualidade e humanismo" na relação com os utentes, defende o sindicato. A "reforma do SNS não está a atingir os seus objectivos", pelo menos a crer nas percepções subjectivas dos trabalhadores, reforça Almerindo Rego, presidente do SCTS. A reforma começou no final de 2002, com a constituição dos primeiros hospitais públicos com gestão empresarial.
O sindicato quis avaliar os efeitos destas mudanças em curso no SNS ao nível da prestação de cuidados de saúde e do estado psicológico dos profissionais, em Março de 2004, e agora decidiu repetir o estudo. As conclusões são "devastadoras", enfatiza Almerindo Rego. "Os hospitais-empresa perdem quando comparados com os hospitais e os centros de saúde do sector público administrativo (SPA)", afirma, sublinhando que de um total de 24 indicadores avaliados, só em três é que os EPE apresentam melhores resultados. "Há uma grande desmotivação e começa a sentir-se o alheamento das pessoas", diz. Um exemplo: se em 2004 a percentagem de inquiridos dos EPE para quem a motivação piorara ou estava igual ascendia a 49 por cento, neste ano subiu para 63 por cento. E só um por cento acha que melhorou. Os profissionais das tecnologias de saúde dizem ainda que a sua situação piorou ou está igual ao nível da autonomia profissional, da participação em projectos ou iniciativas de equipa e das facilidades de serviço para a formação contínua. A qualidade da relação com os superiores também se deteriorou, à semelhança das expectativas profissionais para o futuro.
O sindicato quis avaliar os efeitos destas mudanças em curso no SNS ao nível da prestação de cuidados de saúde e do estado psicológico dos profissionais, em Março de 2004, e agora decidiu repetir o estudo. As conclusões são "devastadoras", enfatiza Almerindo Rego. "Os hospitais-empresa perdem quando comparados com os hospitais e os centros de saúde do sector público administrativo (SPA)", afirma, sublinhando que de um total de 24 indicadores avaliados, só em três é que os EPE apresentam melhores resultados. "Há uma grande desmotivação e começa a sentir-se o alheamento das pessoas", diz. Um exemplo: se em 2004 a percentagem de inquiridos dos EPE para quem a motivação piorara ou estava igual ascendia a 49 por cento, neste ano subiu para 63 por cento. E só um por cento acha que melhorou. Os profissionais das tecnologias de saúde dizem ainda que a sua situação piorou ou está igual ao nível da autonomia profissional, da participação em projectos ou iniciativas de equipa e das facilidades de serviço para a formação contínua. A qualidade da relação com os superiores também se deteriorou, à semelhança das expectativas profissionais para o futuro.
Pelo contrário, no grupo dos trabalhadores dos centros de saúde e dos hospitais que permanecem no sector público administrativo, a situação melhorou, quando comparada com os resultados de há quatro anos. "A melhoria dos indicadores do sector público administrativo espantou-nos", admite Almerindo Rego, concluindo assim que "não é o estatuto jurídico dos serviços que determina a obtenção de melhores resultados". Nos EPE, concede, há uma melhoria a registar em três indicadores - sobretudo a quantidade e em menor escala a qualidade do serviço produzido e "as iniciativas visando gastar menos com a mesma qualidade". Mas "não se pode ter apenas uma visão economicista. Este é um aviso sério. Confirma que desde há sete anos não há políticas de recursos humanos na saúde", diz.
Ao inquérito deste ano responderam 798 trabalhadores, menos meia centena do que em 2004. Os resultados foram enviados para o primeiro-ministro, o Ministério da Saúde e a Comissão Parlamentar de Saúde.
O sindicato representa profissionais de 18 áreas, nomeadamente análises clínicas, anatomia patológica, audiologia, fisioterapia, higiene oral, medicina nuclear, radiologia e radioterapia.
63%
dos inquiridos que trabalham em hospitais EPE responderam que a motivação está pior ou igual. Só um por cento acha que melhorou .
JP; 09.05.2008, Alexandra Campos.
EM CAIXA ANEXA:
Há quem esteja a emigrar para o Reino Unido e a Dinamarca
A degradação da situação percepcionada nos hospitais--empresa está a provocar o saída do Serviço Nacional de Saúde dos profissionais mais qualificados. Este fenómeno não se circunscreve apenas aos médicos, diz o presidente do Sindicato da Ciência e Tecnologias de Saúde, Almerindo Rego. Há profissionais das tecnologias da saúde, "os melhores", que estão a sair para as áreas do ensino, para o sector privado. E há outros que estão a emigrar, sobretudo para o Reino Unido e a Dinamarca, diz o sindicalista. Ainda que o número não seja muito elevado - "serão entre dois a três por cento do total" dos trabalhadores de todas as áreas representadas pelo sindicato -, o problema é que os que saem são "normalmente profissionais já com responsabilidades no ensino e na investigação". Trabalhar no SNS "não é apelativo".
A.C.
Ao inquérito deste ano responderam 798 trabalhadores, menos meia centena do que em 2004. Os resultados foram enviados para o primeiro-ministro, o Ministério da Saúde e a Comissão Parlamentar de Saúde.
O sindicato representa profissionais de 18 áreas, nomeadamente análises clínicas, anatomia patológica, audiologia, fisioterapia, higiene oral, medicina nuclear, radiologia e radioterapia.
63%
dos inquiridos que trabalham em hospitais EPE responderam que a motivação está pior ou igual. Só um por cento acha que melhorou .
JP; 09.05.2008, Alexandra Campos.
EM CAIXA ANEXA:
Há quem esteja a emigrar para o Reino Unido e a Dinamarca
A degradação da situação percepcionada nos hospitais--empresa está a provocar o saída do Serviço Nacional de Saúde dos profissionais mais qualificados. Este fenómeno não se circunscreve apenas aos médicos, diz o presidente do Sindicato da Ciência e Tecnologias de Saúde, Almerindo Rego. Há profissionais das tecnologias da saúde, "os melhores", que estão a sair para as áreas do ensino, para o sector privado. E há outros que estão a emigrar, sobretudo para o Reino Unido e a Dinamarca, diz o sindicalista. Ainda que o número não seja muito elevado - "serão entre dois a três por cento do total" dos trabalhadores de todas as áreas representadas pelo sindicato -, o problema é que os que saem são "normalmente profissionais já com responsabilidades no ensino e na investigação". Trabalhar no SNS "não é apelativo".
A.C.
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