A ministra que vai reforçar o SNS
Remodelação no Governo ditou saída do contestado ministro da Saúde e entrada de Ana Jorge
Ana Jorge substituiu Correia de Campos na pasta da Saúde. A médica parece disposta a apaziguar os ânimos das populações e, sobretudo, a fazer o que o primeiro-ministro determinou. A pediatra escolheu um outro médico para a sua equipa e convenceu Francisco Ramos a continuar em funções.
A cerimónia de tomada de posse dos novos ministros da Saúde e da Cultura do Executivo de José Sócrates, no passado dia 30, pareceu espelhar a rapidez com que foi decidida a remodelação. O pedido de exoneração de Correia de Campos e o nome da nova ministra foram conhecidos no mesmo dia (29), e a tomada de posse realizada logo no dia seguinte. No Palácio de Belém, Ana Jorge e Pinto Ribeiro assinaram os autos de posse em menos de três minutos. Seguiram-se os habituais cumprimentos e o abraço forte e sentido entre o primeiro-ministro e Correia de Campos não passou despercebido, tal como o ar carregado do ex-ministro ao longo de toda a sessão. De resto, Correia de Campos saiu em passo apressado mal terminou o evento, seguido da sua até então secretária de Estado, Carmen Pignatelli. O ex-governante terminou assim o seu mandato, como em tantas outras ocasiões, fugindo aos jornalistas.
Ana Jorge substituiu Correia de Campos na pasta da Saúde. A médica parece disposta a apaziguar os ânimos das populações e, sobretudo, a fazer o que o primeiro-ministro determinou. A pediatra escolheu um outro médico para a sua equipa e convenceu Francisco Ramos a continuar em funções.
A cerimónia de tomada de posse dos novos ministros da Saúde e da Cultura do Executivo de José Sócrates, no passado dia 30, pareceu espelhar a rapidez com que foi decidida a remodelação. O pedido de exoneração de Correia de Campos e o nome da nova ministra foram conhecidos no mesmo dia (29), e a tomada de posse realizada logo no dia seguinte. No Palácio de Belém, Ana Jorge e Pinto Ribeiro assinaram os autos de posse em menos de três minutos. Seguiram-se os habituais cumprimentos e o abraço forte e sentido entre o primeiro-ministro e Correia de Campos não passou despercebido, tal como o ar carregado do ex-ministro ao longo de toda a sessão. De resto, Correia de Campos saiu em passo apressado mal terminou o evento, seguido da sua até então secretária de Estado, Carmen Pignatelli. O ex-governante terminou assim o seu mandato, como em tantas outras ocasiões, fugindo aos jornalistas.
Já a nova ministra da Saúde, médica pediatra e até à altura directora do Serviço de Pediatria do Hospital de Garcia de Orta, falou aos jornalistas, mas apenas para corroborar as palavras do primeiro-ministro. «A política do Ministério da Saúde está definida pelo Governo», disse, em resposta à pergunta sobre se pretendia alterar orientações na Saúde.
Garantindo «reforçar o Serviço Nacional de Saúde» e dar «tranquilidade» e «segurança» às populações, a nova dirigente escusou-se a adiantar o que pretende fazer em relação à rede de Urgências. Preferiu antes assumir-se como uma «pessoa de diálogo», disposta a trabalhar «em conjunto» na senda da «melhoria dos cuidados» e da acessibilidade dos cidadãos à Saúde.
Políticas não mudam, mas…
O primeiro-ministro foi mais extenso nas declarações aos jornalistas, tendo feito questão de falar detalhadamente das reformas mais emblemáticas da Saúde, como a dos cuidados de saúde primários e a dos cuidados continuados. «Os portugueses sabem que nestas duas áreas de reforma as coisas estão a correr bem», disse. A «pecha» do ex-ministro da Saúde era, pois, a reforma das Urgências, reconheceu José Sócrates: «O nosso Serviço Nacional de Saúde está cada vez mais eficiente, presta mais consultas, faz mais operações, mas a verdade é que tudo isto estava a ser esquecido por causa de três ou quatro encerramentos de Urgências. Ora, acho que não podemos continuar neste caminho como se nada tivesse acontecido (…), não quero que as pessoas sintam que o Estado está a fechar as portas para se ir embora». Mostrando-se sensível ao sentimento das populações, Sócrates garantiu que, a partir de agora, nenhum serviço será encerrado antes de estarem criadas as condições necessárias. «As orientações que dei à senhora ministra da Saúde foram no sentido de fazer com que as alternativas pensadas, em termos do reforço das respostas da emergência e até nas Urgências, sejam feitas antes de qualquer mudança organizativa no sistema», revelou.
Isto apesar de assegurar que «ninguém vai voltar atrás em nada» e que as políticas da Saúde não serão alteradas. «A mudança, do ministro Correia de Campos para a ministra Ana Jorge é feita em nome de melhores condições políticas para prosseguir esta reforma», explicou Sócrates. Atirando por diversas vezes culpas ao «aproveitamento político chocante» feito por alguns actores da política, o chefe do Governo justificou a saída de Correia de Campos — a quem, de resto, teceu vários elogios — com a necessidade de fazer com que os cidadãos compreendam que as reformas em curso são «a seu favor» e mantenham a «relação de confiança» com o SNS. O primeiro-ministro também não esqueceu os profissionais de saúde, e os médicos em particular, na sua intervenção. «Os atingidos eram já os médicos dos hospitais e do INEM, e nós não queremos que isso aconteça. Queremos proteger a imagem pública do INEM e do Serviço Nacional de Saúde, porque todos os dias há milhares de profissionais que dão o seu melhor ao serviço dos portugueses», afirmou.
Francisco Ramos e Manuel Pizarro nas secretarias de Estado
Os «novos» secretários de Estado tomaram posse no passado dia 1.
Manuel Pizarro é também uma «surpresa». É médico, especialista em Medicina Interna, mas sobretudo conhecido pela sua intervenção política. Deputado do PS e membro da Comissão Parlamentar de Saúde, foi um dos autores da lei da procriação medicamente assistida. Natural do Porto, fez parte da equipa organizada por Miguel Leão, no Conselho Regional do Norte, para elaborar uma proposta de alteração dos estatutos da Ordem dos Médicos. Substitui Carmen Pignatelli, mas assume o cargo de secretário de Estado da Saúde, antes pertencente a Francisco Ramos.
Francisco Ramos foi secretário de Estado da Saúde de Correia de Campos nas duas vezes em que este passou pelo Governo. Agora, alegadamente devido a pressões do primeiro-ministro, acedeu a continuar com Ana Jorge na tutela, mas «subindo» a secretário de Estado Adjunto e da Saúde. O facto de, no dia da tomada de posse da nova ministra, não ter acompanhado Correia de Campos e Carmen Pignatelli na saída de «cena» e ter sido mesmo uma das últimas pessoas a abandonar a Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, parecia indiciar a sua continuidade no Governo. Apontado várias vezes como possível sucessor do ex-ministro, Francisco Ramos é visto como o «homem das contas» da Saúde e um dos responsáveis pelo sucesso da contenção da despesa do sector.
O currículo da nova ministra
Ana Maria Teodoro Jorge é licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa e especialista em Pediatria. Assistente hospitalar dos quadros do Hospital de Dona Estefânia, onde exerceu desde que se formou até 1991, trabalhava actualmente no Hospital de Garcia de Orta, onde está desde a sua abertura. Neste hospital, dirigia o Serviço de Pediatria há seis anos.
O seu currículo é sobretudo técnico, mas dele também constam algumas intervenções políticas pontuais. Foi presidente do conselho de administração da ARS de Lisboa e Vale do Tejo de 1997 a 2000 e coordenadora da Sub-Região de Saúde de Lisboa entre Março de 1996 e Janeiro de 1997.
Já de 1993 a 1998 integrou a direcção do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos.
TEMPO MEDICINA 1.º caderno 04.02.08
Garantindo «reforçar o Serviço Nacional de Saúde» e dar «tranquilidade» e «segurança» às populações, a nova dirigente escusou-se a adiantar o que pretende fazer em relação à rede de Urgências. Preferiu antes assumir-se como uma «pessoa de diálogo», disposta a trabalhar «em conjunto» na senda da «melhoria dos cuidados» e da acessibilidade dos cidadãos à Saúde.
Políticas não mudam, mas…
O primeiro-ministro foi mais extenso nas declarações aos jornalistas, tendo feito questão de falar detalhadamente das reformas mais emblemáticas da Saúde, como a dos cuidados de saúde primários e a dos cuidados continuados. «Os portugueses sabem que nestas duas áreas de reforma as coisas estão a correr bem», disse. A «pecha» do ex-ministro da Saúde era, pois, a reforma das Urgências, reconheceu José Sócrates: «O nosso Serviço Nacional de Saúde está cada vez mais eficiente, presta mais consultas, faz mais operações, mas a verdade é que tudo isto estava a ser esquecido por causa de três ou quatro encerramentos de Urgências. Ora, acho que não podemos continuar neste caminho como se nada tivesse acontecido (…), não quero que as pessoas sintam que o Estado está a fechar as portas para se ir embora». Mostrando-se sensível ao sentimento das populações, Sócrates garantiu que, a partir de agora, nenhum serviço será encerrado antes de estarem criadas as condições necessárias. «As orientações que dei à senhora ministra da Saúde foram no sentido de fazer com que as alternativas pensadas, em termos do reforço das respostas da emergência e até nas Urgências, sejam feitas antes de qualquer mudança organizativa no sistema», revelou.
Isto apesar de assegurar que «ninguém vai voltar atrás em nada» e que as políticas da Saúde não serão alteradas. «A mudança, do ministro Correia de Campos para a ministra Ana Jorge é feita em nome de melhores condições políticas para prosseguir esta reforma», explicou Sócrates. Atirando por diversas vezes culpas ao «aproveitamento político chocante» feito por alguns actores da política, o chefe do Governo justificou a saída de Correia de Campos — a quem, de resto, teceu vários elogios — com a necessidade de fazer com que os cidadãos compreendam que as reformas em curso são «a seu favor» e mantenham a «relação de confiança» com o SNS. O primeiro-ministro também não esqueceu os profissionais de saúde, e os médicos em particular, na sua intervenção. «Os atingidos eram já os médicos dos hospitais e do INEM, e nós não queremos que isso aconteça. Queremos proteger a imagem pública do INEM e do Serviço Nacional de Saúde, porque todos os dias há milhares de profissionais que dão o seu melhor ao serviço dos portugueses», afirmou.
Francisco Ramos e Manuel Pizarro nas secretarias de Estado
Os «novos» secretários de Estado tomaram posse no passado dia 1.
Manuel Pizarro é também uma «surpresa». É médico, especialista em Medicina Interna, mas sobretudo conhecido pela sua intervenção política. Deputado do PS e membro da Comissão Parlamentar de Saúde, foi um dos autores da lei da procriação medicamente assistida. Natural do Porto, fez parte da equipa organizada por Miguel Leão, no Conselho Regional do Norte, para elaborar uma proposta de alteração dos estatutos da Ordem dos Médicos. Substitui Carmen Pignatelli, mas assume o cargo de secretário de Estado da Saúde, antes pertencente a Francisco Ramos.
Francisco Ramos foi secretário de Estado da Saúde de Correia de Campos nas duas vezes em que este passou pelo Governo. Agora, alegadamente devido a pressões do primeiro-ministro, acedeu a continuar com Ana Jorge na tutela, mas «subindo» a secretário de Estado Adjunto e da Saúde. O facto de, no dia da tomada de posse da nova ministra, não ter acompanhado Correia de Campos e Carmen Pignatelli na saída de «cena» e ter sido mesmo uma das últimas pessoas a abandonar a Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, parecia indiciar a sua continuidade no Governo. Apontado várias vezes como possível sucessor do ex-ministro, Francisco Ramos é visto como o «homem das contas» da Saúde e um dos responsáveis pelo sucesso da contenção da despesa do sector.
O currículo da nova ministra
Ana Maria Teodoro Jorge é licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa e especialista em Pediatria. Assistente hospitalar dos quadros do Hospital de Dona Estefânia, onde exerceu desde que se formou até 1991, trabalhava actualmente no Hospital de Garcia de Orta, onde está desde a sua abertura. Neste hospital, dirigia o Serviço de Pediatria há seis anos.
O seu currículo é sobretudo técnico, mas dele também constam algumas intervenções políticas pontuais. Foi presidente do conselho de administração da ARS de Lisboa e Vale do Tejo de 1997 a 2000 e coordenadora da Sub-Região de Saúde de Lisboa entre Março de 1996 e Janeiro de 1997.
Já de 1993 a 1998 integrou a direcção do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos.
TEMPO MEDICINA 1.º caderno 04.02.08
<< Home