domingo, setembro 06, 2009

Saiu-lhes a taluda ou só a terminação?


A oposição diz que pode ser o clic que faltava para apear Sócrates. Quem tramou Moura Guedes? ‘Foi Deus!’, ouviu o Expresso
A direcção do PSD recebeu a notícia Moura Guedes/TVI como quem ganha a taluda. Na sede do CDS também há quem pense assim. Só à esquerda as reacções são mais cautelosas.
Para alguns sectores do PSD este caso é mesmo o clic que faltava para a vitória, para outros (mais prudentes) é preciso perceber o impacto da história nos próximos dias. Mas convergem na certeza de que o rombo é brutal para José Sócrates independentemente de ter havido interferência directa ou não do primeiro-ministro no afastamento da pivô do ‘Jornal Nacional’.

“O Governo é o responsável pelo que se passou, porque criou todas as condições para que esta censura fosse exercida”, afirma Paulo Rangel, o autor do primeiro discurso do PSD sobre o clima de “claustrofobia democrática”, que o seu partido há mais de dois anos acusa Sócrates de ter imposto ao país. Rangel lembra que “houve uma perseguição sistemática de Sócrates à TVI” e alerta que “não há desmentido que possa apagar as palavras do primeiro-ministro na entrevista à RTP e no Congresso do PS, quando apontou a estação como um inimigo a abater”.

Que o momento para censurar Moura Guedes (a três semanas das eleições) é péssimo para a imagem do líder socialista, Paulo Rangel concorda. Mas tem uma explicação para a bizarria: “Nele (Sócrates), a raiva pode ser superior à inteligência”. Aguiar Branco, o vice-presidente do partido que reagiu oficialmente à notícia considerando-a “um dos maiores atentados à liberdade de informação depois do 25 de Abril”, também explica facilmente o que poderá ter levado o Governo a deixar-se arrastar para isto: “O cenário eleitoral é dramático para o PS e os cenários dramáticos justificam estratégias de risco”. Rangel reforça a ideia: “Na avaliação dos danos, o PM pode ter achado que era pior ter o ‘Jornal’ de Moura Guedes até às eleições do que ver-se livre dela agora”.

Manuela Ferreira Leite estava fora do país quando a bomba rebentou e fez uma declaração muito parecida com as que Cavaco costuma fazer no estrangeiro: “Não vou fazer fora do país comentários sobre o que se passa no país”. Disse-se, no entanto, “muito preocupada” e prometeu um comentário sobre o assunto para hoje. José Luís Arnaut, que a acompanhou ao encontro em Berlim com Angela Merkel e que integrava o Governo de Santana Lopes quando Marcelo Rebelo de Sousa foi censurado na TVI, não esperou por chegar a Lisboa. Ao Expresso, Arnaut disse estar expectante para ver como é que o PS, “que alimentou quase um levantamento cívico aquando do caso Marcelo, tendo até o Presidente Jorge Sampaio chamado o comentador a Belém, vai reagir agora a este caso, que além de diferente é muito mais grave”.

Comum às várias vozes do PSD é a certeza de que, ao focar a sua agenda nas questões da “asfixia democrática”, Ferreira Leite acertou em cheio. As dúvidas quanto ao que realmente se passou levaram, por isso, um crítico de Sócrates a desabafar: “O Governo desmente que tenha sido ele e a Prisa também. É caso para dizer: foi Deus!”. O impacto futuro do caso está por saber, mas desde quinta-feira que é o tema mais popular na comunicação social (basta ver o top das notícias mais vistas e ouvidas nos sites de jornais, televisões e rádios) e, aparentemente, também nas conversas de rua.

Pedro Mota Soares, líder parlamentar do CDS e candidato às legislativas por Lisboa, começou ontem o dia de campanha no Mercado de Alvalade, e garante que a maioria das pessoas com quem falou se referiu ao ‘caso TVI’. “Não era preciso puxar pelo tema. Muitas pessoas referiam-se ao PM como ‘o Sócrates, que tirou de lá a Moura Guedes’”, testemunhou ao Expresso. Na direcção dos centristas há quem acredite que “Sócrates perdeu as eleições na quinta-feira”, quando a história rebentou, mas Mota Soares é cauteloso. “Hoje é o tema do dia. Não sei se amanhã ainda será.” Francisco Louçã diz o mesmo: “É cedo. Veremos.” Mas de uma coisa o líder do BE não tem dúvidas: “As pessoas estão informadas, percebem o que está em causa e reagem bem ao tema.” Louçã sabe-o. Na quinta-feira, depois do debate com Jerónimo de Sousa, ainda foi discursar a Santo António dos Cavaleiros. Falou na TVI — sem deixar de fazer o paralelo com a responsabilidade do PSD no caso Marcelo — e a audiência reagiu bem. No entanto, nem BE nem PCP farão deste caso um cavalo de batalha — a não ser que a onda cresça. Por um lado, Louçã diz que a maior asfixia é “a asfixia económica”; por outro, ninguém sabe bem o que se passou. “Sobre o caso Marcelo, podem fazer-se afirmações categóricas; sobre este apenas sabemos que Sócrates tem usado Moura Guedes como adversário.”
Ângela Silva e Filipe Santos Costa, semanário expresso 05.09.09

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