Inteligência "on head"
foto DN
Reagi às primeiras notícias, do terrível incidente ocorrido no Serviço de Oftalmologia do Hospital de Santa Maria, em silêncio. Durante longas horas, equacionei o sofrimento dos doentes e das suas famílias. Imaginei a ansiedade dos colegas oftalmologistas e avaliei o abalo psíquico causado aos profissionais honestos e competentes que trabalham nessa prestigiada unidade de saúde.
Partilhei a dúvida dolorosa de todos os doentes que necessitam de fazer injecções intra-oculares. Os médicos em quem confiavam passaram a ser tratados como irresponsáveis, os administradores como incompetentes e mal formados e o maior hospital do país como lugar de crime. Senti, momentaneamente, a saúde do meu país à deriva! Os salvadores da Pátria calçavam sapatos de ballet, para, em pontas, falarem mais alto.
Teria tido pena deste país se não o conhecesse há 58 anos!
Mas não tive. E, na primeira oportunidade que se me apresentou, falei do que sei fazer e da experiência que adquiri ao longo de uma actividade cirúrgica vivida com grande intensidade e quase sempre off label. Pensei nos "meus doentes", no Rui, na Ivone, na Anabela, na Maria Ana e em todas as outras crianças e adultos que tenho o privilégio de tratar. Nos que me compreendem, nos que confiam em mim e me dizem "por favor, decida o doutor!".
Hoje, ainda em período de tempestade, decidi manter agendados 10 doentes para tratamento com "Avastin". Estava preparado para ouvir as dúvidas, as perguntas, as certezas e constatar as hesitações. Nada disso aconteceu... nem uma pergunta, nem uma hesitação. "Eu confio em si, doutor... por favor trate-me."
Raras vezes as doenças oculares acompanham quadros clínicos complexos, que evoluam com doença psíquica. Por isso, os nossos doentes conservam a inteligência on head. Uma relação doente/médico honesta e competente é um pilar muito forte para a cura. Um doente pode aceitar que um médico erre, mas nunca aceitará que minta ou que o deixe no convés que se afunda, enquanto salta, apressadamente, para um qualquer salva-vidas.
Tenho a certeza de que os profissionais do Hospital de Santa Maria serão surpreendidos e ficarão muito orgulhosos pela confiança, progressivamente mais forte, dos seus doentes e familiares. A política de verdade, a competência profissional e a humanidade que se sentem pulsar nesta unidade de saúde far-nos-á sentir que este é um hospital de todos nós. Aos outros, que Deus lhes perdoe, e lhes aconselhe um qualquer santo que lhes "injecte um qualquer medicamento no cérebro", enquanto tiverem uma cegueira curável e a inteligência off head.
Partilhei a dúvida dolorosa de todos os doentes que necessitam de fazer injecções intra-oculares. Os médicos em quem confiavam passaram a ser tratados como irresponsáveis, os administradores como incompetentes e mal formados e o maior hospital do país como lugar de crime. Senti, momentaneamente, a saúde do meu país à deriva! Os salvadores da Pátria calçavam sapatos de ballet, para, em pontas, falarem mais alto.
Teria tido pena deste país se não o conhecesse há 58 anos!
Mas não tive. E, na primeira oportunidade que se me apresentou, falei do que sei fazer e da experiência que adquiri ao longo de uma actividade cirúrgica vivida com grande intensidade e quase sempre off label. Pensei nos "meus doentes", no Rui, na Ivone, na Anabela, na Maria Ana e em todas as outras crianças e adultos que tenho o privilégio de tratar. Nos que me compreendem, nos que confiam em mim e me dizem "por favor, decida o doutor!".
Hoje, ainda em período de tempestade, decidi manter agendados 10 doentes para tratamento com "Avastin". Estava preparado para ouvir as dúvidas, as perguntas, as certezas e constatar as hesitações. Nada disso aconteceu... nem uma pergunta, nem uma hesitação. "Eu confio em si, doutor... por favor trate-me."
Raras vezes as doenças oculares acompanham quadros clínicos complexos, que evoluam com doença psíquica. Por isso, os nossos doentes conservam a inteligência on head. Uma relação doente/médico honesta e competente é um pilar muito forte para a cura. Um doente pode aceitar que um médico erre, mas nunca aceitará que minta ou que o deixe no convés que se afunda, enquanto salta, apressadamente, para um qualquer salva-vidas.
Tenho a certeza de que os profissionais do Hospital de Santa Maria serão surpreendidos e ficarão muito orgulhosos pela confiança, progressivamente mais forte, dos seus doentes e familiares. A política de verdade, a competência profissional e a humanidade que se sentem pulsar nesta unidade de saúde far-nos-á sentir que este é um hospital de todos nós. Aos outros, que Deus lhes perdoe, e lhes aconselhe um qualquer santo que lhes "injecte um qualquer medicamento no cérebro", enquanto tiverem uma cegueira curável e a inteligência off head.
António Travassos, JP 29.07.09
Etiquetas: SNS
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