Portugueses resistem aos preservativos
Adesão ao preservativo manteve-se nos 14 por cento ao longo da última década. Portugueses insistem na pílula como contraceptivo de eleição.
Alexandra Campos, Andrea Cunha Freitas
Apesar dos inegáveis avanços verificados ao nível do planeamento familiar e da contracepção ao longo dos últimos anos, os portugueses continuam avessos à utilização de preservativos.
Prova disso é o facto de, na última década, a percentagem de adeptos deste método se ter mantido quase inalterada, rondando uns meros 14 por cento.
Os principais resultados do 4.º Inquérito Nacional de Saúde (INS) recentemente divulgados apontam para uma percentagem de 13,4 por cento de utilizadores quando no último Inquérito à Fecundidade e Família (de 1997) era de 14 por cento.
"Não houve grandes avanços" ao longo da última década, reconhece Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento da Família. E aponta o exemplo dos espanhóis, que elegem este método como favorito.
O país vizinho também serve de comparação para a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/Sida, que no último relatório de actividades nota que em 2005 se venderam em Portugal 16,1 milhões de preservativos, mais 2,48 por cento do que em 2004, mas "ainda longe dos 129,5 milhões de preservativos vendidos em Espanha para o mesmo período". O que se traduz num "consumo anual médio per capita de 3,1 em Espanha e 1,6 em Portugal".
Ainda que os dois estudos referidos não sejam estritamente comparáveis (porque o Inquérito de Saúde não exclui os casos de mulheres sem actividade sexual, grávidas, inférteis), permitem perceber que a pílula continua a ser, de longe, o método contraceptivo de eleição. Aliás, a percentagem de utilizadoras também quase não variou entre 1997 (67 por cento) e o último INS (65,9 por cento).
Razões culturais
Como se justifica que os portugueses continuem a torcer o nariz ao uso de preservativos? "Não tenho explicações. Tem a ver com a história contraceptiva de cada país. E os portugueses aderiram muito à pílula desde o início da sua comercialização", aventa o sociólogo.
Também com dificuldade em encontrar justificações para esta resistência, Henrique Barros, responsável pela Coordenação Nacional para a InfecçãoVIH/Sida, admite, porém, que o preço elevado possa funcionar como um entrave. É verdade que os preservativos são caros em Portugal, como já concluiu este organismo, que calculou que o preço mediano oscila entre os 55 cêntimos nas grandes superfícies e os 81 nas parafarmácias e está agora a negociar a venda a custos mais reduzidos. Mas esta não será a única explicação."Depois, há uma série de questões culturais e crenças que também temos de considerar", diz, admitindo que uma grande percentagem dos adolescentes dispense o preservativo por acreditar que o parceiro é fiel.
Duarte Vilar lembra, mesmo assim, que, com a questão da sida e outras infecções sexualmente transmissíveis, o uso do preservativo mais do que duplicou sobretudo nas gerações mais jovens, no período compreendido entre 1980 (primeiro inquérito à fecundidade) e 1997. Mas continua muito baixo. "Este é o primeiro método usado por muitos jovens, que rapidamente mudam para a pílula, quando estabilizam as relações", justifica.
Quanto à baixa adesão ao preservativo nas outras faixas etárias, Henrique Barros acredita que o facto de a geração das pessoas que hoje têm 30, 40, 50 anos ter crescido na ideia de que a maioria das doenças sexualmente transmissíveis se trata com antibióticos pode ser uma das respostas. "É um dado adquirido que os portugueses usam pouco o preservativo", reconhece Jorge Branco, coordenador do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva, que quer avançar em Outubro com uma campanha de sensibilização também para os homens.
Mais do que o risco de uma gravidez involuntária, o obstetra Miguel Oliveira e Silva valoriza o perigo das DST. E dá o exemplo da elevada taxa de cancro do colo do útero em Portugal, que acaba por ser um dos piores reflexos deste comportamento dos portugueses. "Em vez de colocarmos toda a ênfase na vacina contra esta doença, deveríamos investir em campanhas do uso do preservativo".
Preço elevado dos preservativos pode funcionar como um entrave a uma maior utilização pelos portugueses
Dos preservativos distribuídos, só um terço foi oferecido
23 milhões de preservativos foram distribuídos em 2005 em Portugal (destes, um terço foi oferecido pelo Estado) 1,6 preservativos é o consumo anual médio per capita em Portugal, contra 3,1 em Espanha 2,6 milhões de preservativos foram distribuídos pela Coordenação Nacional para a Infecção VIH/Sida, no primeiro semestre deste ano 65,9 por cento dos inquiridos no último Inquérito Nacional de Saúde afirmavam utilizar a pílula; na lista dos métodos mais usados seguia-se o preservativo (13,4 por cento) e o dispositivo intra-uterino (8,8 por cento).
22,9 por cento das mulheres não faziam vigilância dos métodos contraceptivos utilizados, 61 por cento dos respondentes ao último Inquérito à Fecundidade e Família (1997) usavam a pílula, 14 por cento o preservativo e 10 por cento o dispositivo intra-uterino 81 cêntimos é quanto custa, em média, um preservativo nas parafarmácias; o preço desce para 78 cêntimos nas farmácias, 67 nas lojas de conveniência e 55 nas grandes superfícies.
Prova disso é o facto de, na última década, a percentagem de adeptos deste método se ter mantido quase inalterada, rondando uns meros 14 por cento.
Os principais resultados do 4.º Inquérito Nacional de Saúde (INS) recentemente divulgados apontam para uma percentagem de 13,4 por cento de utilizadores quando no último Inquérito à Fecundidade e Família (de 1997) era de 14 por cento.
"Não houve grandes avanços" ao longo da última década, reconhece Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento da Família. E aponta o exemplo dos espanhóis, que elegem este método como favorito.
O país vizinho também serve de comparação para a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/Sida, que no último relatório de actividades nota que em 2005 se venderam em Portugal 16,1 milhões de preservativos, mais 2,48 por cento do que em 2004, mas "ainda longe dos 129,5 milhões de preservativos vendidos em Espanha para o mesmo período". O que se traduz num "consumo anual médio per capita de 3,1 em Espanha e 1,6 em Portugal".
Ainda que os dois estudos referidos não sejam estritamente comparáveis (porque o Inquérito de Saúde não exclui os casos de mulheres sem actividade sexual, grávidas, inférteis), permitem perceber que a pílula continua a ser, de longe, o método contraceptivo de eleição. Aliás, a percentagem de utilizadoras também quase não variou entre 1997 (67 por cento) e o último INS (65,9 por cento).
Razões culturais
Como se justifica que os portugueses continuem a torcer o nariz ao uso de preservativos? "Não tenho explicações. Tem a ver com a história contraceptiva de cada país. E os portugueses aderiram muito à pílula desde o início da sua comercialização", aventa o sociólogo.
Também com dificuldade em encontrar justificações para esta resistência, Henrique Barros, responsável pela Coordenação Nacional para a InfecçãoVIH/Sida, admite, porém, que o preço elevado possa funcionar como um entrave. É verdade que os preservativos são caros em Portugal, como já concluiu este organismo, que calculou que o preço mediano oscila entre os 55 cêntimos nas grandes superfícies e os 81 nas parafarmácias e está agora a negociar a venda a custos mais reduzidos. Mas esta não será a única explicação."Depois, há uma série de questões culturais e crenças que também temos de considerar", diz, admitindo que uma grande percentagem dos adolescentes dispense o preservativo por acreditar que o parceiro é fiel.
Duarte Vilar lembra, mesmo assim, que, com a questão da sida e outras infecções sexualmente transmissíveis, o uso do preservativo mais do que duplicou sobretudo nas gerações mais jovens, no período compreendido entre 1980 (primeiro inquérito à fecundidade) e 1997. Mas continua muito baixo. "Este é o primeiro método usado por muitos jovens, que rapidamente mudam para a pílula, quando estabilizam as relações", justifica.
Quanto à baixa adesão ao preservativo nas outras faixas etárias, Henrique Barros acredita que o facto de a geração das pessoas que hoje têm 30, 40, 50 anos ter crescido na ideia de que a maioria das doenças sexualmente transmissíveis se trata com antibióticos pode ser uma das respostas. "É um dado adquirido que os portugueses usam pouco o preservativo", reconhece Jorge Branco, coordenador do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva, que quer avançar em Outubro com uma campanha de sensibilização também para os homens.
Mais do que o risco de uma gravidez involuntária, o obstetra Miguel Oliveira e Silva valoriza o perigo das DST. E dá o exemplo da elevada taxa de cancro do colo do útero em Portugal, que acaba por ser um dos piores reflexos deste comportamento dos portugueses. "Em vez de colocarmos toda a ênfase na vacina contra esta doença, deveríamos investir em campanhas do uso do preservativo".
Preço elevado dos preservativos pode funcionar como um entrave a uma maior utilização pelos portugueses
Dos preservativos distribuídos, só um terço foi oferecido
23 milhões de preservativos foram distribuídos em 2005 em Portugal (destes, um terço foi oferecido pelo Estado) 1,6 preservativos é o consumo anual médio per capita em Portugal, contra 3,1 em Espanha 2,6 milhões de preservativos foram distribuídos pela Coordenação Nacional para a Infecção VIH/Sida, no primeiro semestre deste ano 65,9 por cento dos inquiridos no último Inquérito Nacional de Saúde afirmavam utilizar a pílula; na lista dos métodos mais usados seguia-se o preservativo (13,4 por cento) e o dispositivo intra-uterino (8,8 por cento).
22,9 por cento das mulheres não faziam vigilância dos métodos contraceptivos utilizados, 61 por cento dos respondentes ao último Inquérito à Fecundidade e Família (1997) usavam a pílula, 14 por cento o preservativo e 10 por cento o dispositivo intra-uterino 81 cêntimos é quanto custa, em média, um preservativo nas parafarmácias; o preço desce para 78 cêntimos nas farmácias, 67 nas lojas de conveniência e 55 nas grandes superfícies.
Oferta reforçada nos centros de saúde
A resistência dos portugueses ao uso do preservativo tem sido combatida ao longo dos anos com campanhas e acções de sensibilização, entre muitas outras iniciativas, mas nos próximos tempos a estratégia promete mudar de tom. Para tentar acelerar a alteração de hábitos dos casais em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) promete reforçar a oferta de contraceptivos nos centros de saúde. Por outro lado, a Coordenação Nacional para a Infecção de VIH/Sida tem um pacote de medidas que visa aumentar a adesão ao preservativo e vai desde a negociação em curso com os distribuidores para uma redução dos preços até à distribuição de um kit especialmente destinado à comunidade homossexual masculina.
O director-geral da Saúde, Francisco George, promete melhorias para breve. Até ao final do ano, prevê, as pontuais rupturas de stocks de anticoncepcionais nos centros de saúde terminarão e os preservativos passarão a ser distribuídos para um período mínimo de três meses. Quanto aos contraceptivos orais, no mínimo serão facultadas doses para seis meses. Quer as pílulas, quer os preservativos passam a poder ser disponibilizados a um terceiro, em nome do beneficiário. E, desde que tenha havido uma consulta médica há menos de um ano, a decisão de facultar estes contraceptivos fica nas mãos dos enfermeiros.
Jorge Branco, responsável pelo recém-criado Programa de Saúde Reprodutiva, promete lançar uma campanha em Outubro que aposta na promoção do preservativo como método contraceptivo e, desta forma, conseguir co-responsabilizar os homens na tarefa do planeamento familiar. Mais preocupado com as doenças sexualmente transmissíveis, Henrique Barros, coordenador nacional para a infecção de VIH/Sida, acredita que até ao final do ano será possível concluir as negociações com os distribuidores para conseguir uma redução do preço dos preservativos nos corredores dos hipermercados. "O ideal é conseguirmos os 20 cêntimos, mas ainda estamos a discutir o preço mais baixo possível", adianta, acrescentando que é essencial completar este tipo de iniciativas com acções de "marketing social".
Após uma fase mais centrada no apelo à realização de testes, a coordenação vai também voltar a apostar no slogan "use o preservativo". "Temos de levar os preservativos para as escolas", nota Henrique Barros, defendendo que esta "defesa" deve estar acessível a jovens a partir dos 13 anos. O coordenador lembra também que no final deste ano deverá estar concluído "o primeiro grande estudo nacional" que avaliou os conhecimentos e atitudes da população portuguesa face às infecções sexualmente transmissíveis
Mafalda e Matilde confiam nos namorados
Acreditam que a pílula basta.
Preferem inventar nomes falsos para falar destas coisas. Não por vergonha, asseguram, esclarecendo que se trata apenas de exercer o direito de preservar a intimidade. Assim, Mafalda e Matilde podem dizer mais sobre a sua vida sexual. Têm 18 anos, são sexualmente activas e fazem parte de um grupo de mulheres jovens que deixa o preservativo do lado de fora da cama. Pensam que a pílula é suficiente, se existir confiança no namorado. A prioridade é não engravidar.
Mafalda iniciou a sua vida sexual há pouco tempo. "Nas primeiras vezes, usámos preservativo. Depois fui a uma ginecologista e ela receitou-me a pílula. Disse-me que, sendo assim, não era necessário o uso do preservativo", conta. Consciente e informada, a futura estudante do ensino superior sabe que a pílula apenas a protege de uma gravidez indesejada, mas não a defende "das DST" [Mafalda usa a sigla mostrando-se familiarizada com o tema das doenças sexualmente transmissíveis]. Porém, argumenta que a decisão "tomada pelos dois" assenta na confiança. Ele não era virgem e nenhum dos dois fez análises sanguíneas ou exames específicos de rastreio das DST. Mas "há confiança", sublinha, e isso parece ser o essencial na relação. "Se mudasse de namorado, talvez voltasse a usar o preservativo", remata.
A história de Matilde não é muito diferente. A actividade sexual foi iniciada um pouco mais cedo, aos 16 anos, e já teve dois parceiros. Tudo começou de forma um pouco mais atribulada. "No início, não usei nada... era... a técnica... era a ejaculação fora e fazia as contas: nos oito dias antes e nos oito dias depois do 14.º dia após a menstruação não se passava nada", conta, timidamente. Um susto de um atraso de mais de uma semana e alguns meses sempre de coração nas mãos foi o suficiente para que, por sua iniciativa, "tentassem o preservativo". "Tivemos algumas dificuldades, não conseguimos. Tentámos mais do que uma vez, mas não conseguíamos colocar aquilo direito, saía sempre". A solução foi recorrer a uma consulta no centro de saúde. Saiu de lá com a segurança da pílula contraceptiva e, desde aí, deixou os difíceis preservativos. O namorado mudou, mas o método escolhido mantém-se. Usa a pílula e dispensa o preservativo. Ao risco das DST responde com a certeza da fidelidade do namorado, notando ainda que o passado dele também lhe inspira confiança, uma vez que lhe disse que era virgem. Por isso, desta vez nem chegou a experimentar o preservativo.
JP 03.09.07
A resistência dos portugueses ao uso do preservativo tem sido combatida ao longo dos anos com campanhas e acções de sensibilização, entre muitas outras iniciativas, mas nos próximos tempos a estratégia promete mudar de tom. Para tentar acelerar a alteração de hábitos dos casais em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) promete reforçar a oferta de contraceptivos nos centros de saúde. Por outro lado, a Coordenação Nacional para a Infecção de VIH/Sida tem um pacote de medidas que visa aumentar a adesão ao preservativo e vai desde a negociação em curso com os distribuidores para uma redução dos preços até à distribuição de um kit especialmente destinado à comunidade homossexual masculina.
O director-geral da Saúde, Francisco George, promete melhorias para breve. Até ao final do ano, prevê, as pontuais rupturas de stocks de anticoncepcionais nos centros de saúde terminarão e os preservativos passarão a ser distribuídos para um período mínimo de três meses. Quanto aos contraceptivos orais, no mínimo serão facultadas doses para seis meses. Quer as pílulas, quer os preservativos passam a poder ser disponibilizados a um terceiro, em nome do beneficiário. E, desde que tenha havido uma consulta médica há menos de um ano, a decisão de facultar estes contraceptivos fica nas mãos dos enfermeiros.
Jorge Branco, responsável pelo recém-criado Programa de Saúde Reprodutiva, promete lançar uma campanha em Outubro que aposta na promoção do preservativo como método contraceptivo e, desta forma, conseguir co-responsabilizar os homens na tarefa do planeamento familiar. Mais preocupado com as doenças sexualmente transmissíveis, Henrique Barros, coordenador nacional para a infecção de VIH/Sida, acredita que até ao final do ano será possível concluir as negociações com os distribuidores para conseguir uma redução do preço dos preservativos nos corredores dos hipermercados. "O ideal é conseguirmos os 20 cêntimos, mas ainda estamos a discutir o preço mais baixo possível", adianta, acrescentando que é essencial completar este tipo de iniciativas com acções de "marketing social".
Após uma fase mais centrada no apelo à realização de testes, a coordenação vai também voltar a apostar no slogan "use o preservativo". "Temos de levar os preservativos para as escolas", nota Henrique Barros, defendendo que esta "defesa" deve estar acessível a jovens a partir dos 13 anos. O coordenador lembra também que no final deste ano deverá estar concluído "o primeiro grande estudo nacional" que avaliou os conhecimentos e atitudes da população portuguesa face às infecções sexualmente transmissíveis
Mafalda e Matilde confiam nos namorados
Acreditam que a pílula basta.
Preferem inventar nomes falsos para falar destas coisas. Não por vergonha, asseguram, esclarecendo que se trata apenas de exercer o direito de preservar a intimidade. Assim, Mafalda e Matilde podem dizer mais sobre a sua vida sexual. Têm 18 anos, são sexualmente activas e fazem parte de um grupo de mulheres jovens que deixa o preservativo do lado de fora da cama. Pensam que a pílula é suficiente, se existir confiança no namorado. A prioridade é não engravidar.
Mafalda iniciou a sua vida sexual há pouco tempo. "Nas primeiras vezes, usámos preservativo. Depois fui a uma ginecologista e ela receitou-me a pílula. Disse-me que, sendo assim, não era necessário o uso do preservativo", conta. Consciente e informada, a futura estudante do ensino superior sabe que a pílula apenas a protege de uma gravidez indesejada, mas não a defende "das DST" [Mafalda usa a sigla mostrando-se familiarizada com o tema das doenças sexualmente transmissíveis]. Porém, argumenta que a decisão "tomada pelos dois" assenta na confiança. Ele não era virgem e nenhum dos dois fez análises sanguíneas ou exames específicos de rastreio das DST. Mas "há confiança", sublinha, e isso parece ser o essencial na relação. "Se mudasse de namorado, talvez voltasse a usar o preservativo", remata.
A história de Matilde não é muito diferente. A actividade sexual foi iniciada um pouco mais cedo, aos 16 anos, e já teve dois parceiros. Tudo começou de forma um pouco mais atribulada. "No início, não usei nada... era... a técnica... era a ejaculação fora e fazia as contas: nos oito dias antes e nos oito dias depois do 14.º dia após a menstruação não se passava nada", conta, timidamente. Um susto de um atraso de mais de uma semana e alguns meses sempre de coração nas mãos foi o suficiente para que, por sua iniciativa, "tentassem o preservativo". "Tivemos algumas dificuldades, não conseguimos. Tentámos mais do que uma vez, mas não conseguíamos colocar aquilo direito, saía sempre". A solução foi recorrer a uma consulta no centro de saúde. Saiu de lá com a segurança da pílula contraceptiva e, desde aí, deixou os difíceis preservativos. O namorado mudou, mas o método escolhido mantém-se. Usa a pílula e dispensa o preservativo. Ao risco das DST responde com a certeza da fidelidade do namorado, notando ainda que o passado dele também lhe inspira confiança, uma vez que lhe disse que era virgem. Por isso, desta vez nem chegou a experimentar o preservativo.
JP 03.09.07
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