sábado, agosto 11, 2007

Misericórdias congelam investimento

O alargamento da rede de cuidados continuados depende da revisão dos preços pagos pelo Estado, alertam as Misericórdias

Terminada a experiência-piloto que servirá de base para o alargamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados, o principal parceiro do Ministério da Saúde neste projecto diz que os preços propostos pelo Estado não permitem continuar a investir. As Misericórdias Portuguesas responderam em força ao apelo do Governo e gerem cerca de 77% da rede, que actualmente soma 1100 camas.

No entanto, o presidente da União das Misericórdias, Manuel de Lemos, avisa que dificilmente será possível manter o ritmo de expansão. “Para responder ao desafio é preciso investir e isso não é possível com os preços que o Estado quer pagar”, explica Manuel de Lemos, concretizando: “Os valores estão mal construídos porque, por exemplo, não prevêem qualquer verba para amortização. Falta o custo do investimento”. E acrescenta: “Ou se arranja uma verba de convergência ou então será muito difícil”. O responsável admite que parte do problema também é culpa das Misericórdias. “Temos unidades pequenas o que nos limita em termos de diminuição dos custos fixos e ainda nos falta ganhar competências e eficiência na gestão” - em breve vão avançar com as compras em grupo.

O objectivo do Executivo é terminar o ano com 2400 camas, das quais as Misericórdias esperam assegurar 72%. No ‘teste’ de lançamento da rede estiveram envolvidas 28 Misericórdias, um número de vai subir para 70 numa primeira fase.

O Governo estudou o problema dos cuidados integrados prestados a idosos e a pessoas em situação de dependência e concluiu que dentro de dez anos serão precisas 17 mil camas vocacionadas para este tipo de serviço. Os acordos com o Estado são feitos por tipologia: convalescença, média duração (implica uma reabilitação além dos 30 dias), longa duração (vocacionada sobretudo para idosos) e paliativos (não oncológicos, para já). As Misericórdias ambicionam também crescer para a área das doenças neurodegenerativas (Alzheimer, por exemplo).

Outro entrave ao sucesso da rede de cuidados continuados são os níveis de ocupação. “O Estado paga em função da ocupação e de uma maneira geral há dificuldade em transferir os doentes para as Misericórdias”, adianta Manuel de Lemos, frisando que “o Serviço Nacional de Saúde tem dificuldade em libertar-se dos doentes”. “A rede é uma revolução no sector da Saúde e é natural que haja resistências”, analisa.

Além dos cuidados continuados, as Misericórdias também estão disponíveis para colaborar na área da medicina familiar. “Há milhares de portugueses que ainda não têm médico de família. Num ano resolvíamos esse problema nas pequenas e médias cidades”.
Existem 398 Misericórdias, que gerem 19 hospitais, 440 lares, 350 centros de convívio e asseguram 500 serviços de apoio domiciliário
Asseguram cerca de 50 mil empregos directos, a que se somam 12 mil voluntários. Gerem um orçamento anual de cerca de €600 milhões
semanário expresso 11.08.07