segunda-feira, janeiro 16, 2006

Logística Hospitalar

O ministro da saúde, António Correia de Campos, pretende construir uma plataforma de compras electrónica e desenvolver uma estrutura logística (pipeline logístico), semelhante à das farmácias oficina da ANF, com armazéns comuns e uma distribuição diária aos hospitais do SNS de acordo as suas necessidades.
O planeamento deste serviço comum de logistica e a forma como os hospitais o vão partilhar vai estar a cargo do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), onde acaba de ser colocado o ex- responsável da Unidade de Missão dos HH SA, Luís Pedroso de Lima.
Segundo o secretário de Estado, Francisco Ramos, os hospitais poderão aderir a este sistema de forma voluntária. A ideia é conseguir negociar melhores preços e "normalizar consumos", mas "sem desresponsabilizar" as administrações de cada hospital pela gestão.
A velha Central de Compras do IGIF será, por certo, desactivada, deslocalizando para o SUCH as competências da área da logistica hospitalar.
posted by xavier at 4:05 PM

28 Comments:

xavier said...
A Carmen Pignatelli considerou a logística hospitalar, digna de merceeiros (sem desrespeito para os ditos).

A imagem serve para ilustrar o elevado grau de ineficiência destes serviços hospitalares.

E tem havido, desde sempre, um elevado investimento nesta área.

Houveram colegas AH que passaram a vida a dar acções de formação pelo país fora.
Foram gastas (e pagas) milhares de horas de comissões e grupos de trabalho encarregados de estudar as nomenclaturas e normalização dos artigos de consumo e uso hospitalar.

Mais recentemente (2003) a Unidade de Missão dos HH SA promoveu um programa alargado de formação sobre aprovisionamento hospitalar.

Pelos vistos, apesar dos esforços (?) os resultados obtidos são escassos.

O principal responsável por este atraso, quanto a mim, são os inúmeros interesses instalados relativamente a esta área.
Há quem beneficie com este atraso. Há quem se aproveite deste marasmo.

É nesta área, (idem, exploração das farmácias hospitalares) que eu vejo vantagem em proceder à adjudicação a entidades externas devidamente habilitadas, a par da criação de comissões de normalização e acompanhamento de consumos hospitalares, constituídas por pessoal hospitalar.

Mas este tema requer um amplo debate. Assim o xico esteja disposto a dar continuidade às hostilidades aqui lançadas.

xico said...
O Aprovisionamento hospitalar tem andado sempre entregue "à bicharada".
Sempre foi visto como área menor, em comparação com o Pessoal ou Financeiros, não sendo perceptível a muitos que é uma área realmente operacional e transversal a todo o hospital. Permite, se bem gerido, o acompanhamento da actividade e dos custos e o controlo da da actividade. Tem sido aliás, a única área gerível, já que os recursos humanos têm sido intocáveis. Só que exige pessoal habilitado e capaz de discutir com os serviços utilizadores (e com os médicos e demais consumidores), capaz de negociar e com força suficiente para evitar / controlar os disparates habituais (como aquisição de equipamentos e produtos porque estão na moda...)
Um dos problemas tem sido a falta de coragem dos CA e do MS em fazer face aos lobbys da industria associada à Saúde e aos que dela beneficiam. Até porque nunca percebi porque nunca foi dada continuação aos vários estudos sobre normalização e boas práticas de aprovsionamento hospitalar (vários foram começados), nem porque nunca foi o Aprovisionamento tratado com o mesmo cuidado que os Financeiros e Pessoal, mesmo ao nível do MS.
Nunca sequer foi tentada a normalização da codificação dos artigos nem um acompanhamento técnico. Sempre foi um "desenrasque-se quem puder".
Nunca foi dada a importância ao Aprovisionamento que tem sido dada ao Pessoal e Financeiros. Basta ver a porcaria de aplicação informática que ainda hoje o IGIF mantém nos HH SPA.
Mesmo nos HH SA, não se conseguiu ir além da mudança de aplicação informática, muito por culpa da UM, que apenas promoveu uma desregulamentação no sector, já que não se aplicava a legislação da Administração Pública mas nunca se criou nenhum manual de boas práticas ou de procedimentos (trata-se de dinheiros públicos), potenciando negócios de duvidosa justificação e sem qulquer trasparência. Em alguns casos, o pessoal habilitado e com experiência foi substituido por outro de duvidosas capacidades.
Quando na privada discute-se e implementa-se o e-procurement e todas as vantagens a ele associadas, nos HH ainda é necessário registar manualmente nas aplicações as propostas dos concorrentes, posição a posição...

Agora, como a crise é o motor de todas as mudaças, toca a cortar.
Espero por isso que este projecto do MS não seja mais um flop e que chamem pessoas que tenham experiência de terreno no Aprovisionamento hospitalar. É que de génios de gabinete e especialistas de corredor, do tipo dos que fizeram os concursos do IGIF, andam os HH fartos.

xico said...
Da experiência que tenho com o SUCH e com todo o respeito pela insituição que tem sido um marco na Saúde em Portugal, não estou a ver que tenha capacidade técnica imediata para a missão que lhe pretendem dar.
Os valores envolvidos na aquisção de bens para os HH não isentam o SUCH dos concursos públicos com publicação no JOCE, como parecer da PGR.
Por outro lado, a criação de uma plataforma de compras electrónicas, hoje muito utilizadas no sector privado e na senda das definições do e-procurment, é de apludir, já que possibilitará aos HH a aquisição a custos mais baixos e com redução da burocracia, que ficará a cargo da entidade gestora do sistema (SUCH?). Se bem feito, poderá potenciar concorrência, já que os consumidores poderão obter comparações e negociar por via electrónica.
Com a substiuição dos concursos do IGIF, significa que os medicamentos serão alvo desta revolução. Será interessante ver como irá o SUCH assumir a área do medicamento.
E quanto à armazenagem centralizada, com distribuição diária, será interessante avaliar os beneficios vs custos. É que será necessária a criação de espaços e a aquisição e gestão de uma frota de dimensões razoáveis, cujos custos serão suportados pelos consumidores / HH.
E é preciso não esquecer que o just in time é muito bom para a industria automóvel, mas para os HH são necessários outros métodos.
De qualquer maneira, tenho o SUCH em boa conta e penso que esta poderá ser a revolução que o Aprovisionamento Hospitalar necessita e há muito almeja. Por mim estou totalmente disponível para colaborar.

xico said...
Para inicio de hostilidades, que tal, Xavier?

a guiar epe said...
A minha experiência diz-me que « melhores preços » se conseguem através de rapidez nos pagamentos !!!...ou não será?

xico said...
A celebração de um contrato implica obrigações para ambas as partes. No caso de um comprador, o pagamento atempado. Não é o único factor, mas boa parte dos preços actuais implicam uma margem para finacimento do factoring e sustentação dos fornecedores face a pagamentos tardios.

xico said...
O Aprovisionamento / Logistica é, hoje em dia, no mundo empresarial um factor de competitividade. O seu objectivo é a criação de mais valias para a empresa, através da prestação de um serviço eficiente e de baixo custo. Para tal, a função de "comprador / negociador", é essencial e altamente valorizado, assim como os restantes recursos (humanos e materiais) colocados à disposição.
O que encontramos hoje em muitos HH, é simplesmente o oposto. Pessoal pouco valorizado e habilitado, instalações e equipamentos precários ou pouco adequados.
por outro lado, às ineficiências estruturais resultantes do regime público de aquisições, juntam-se o imobilismo e apatia dos profissionais, dos CA e MS.
Com poucos meios mas com vontade e profissionalismo, é possível melhor substancialmente os aprovisionamentos hospitalares. Se na industria, a aplicação de alguns principios e regras de aprovisionamento podem permitir ganhos de 20% ao nível da poupança de recursos, nos HH essa poupança poderá ser bastantes melhor. Veja-se o controlo (ou falta dele)dos prazos de validade dos produtos, a pouca (ou nenhuma) responsabilização dso utilizadores e o pouco senso com que novos produtos são introduzidos no consumo regular.

xavier said...
Caro xico.Sempre em forma.
A ideia do secretário de estado Francisco Ramos parece ser a da criação de um portal e-procurement a que as empresas fornecedoras de medicamentos, material de consumo clínico, hoteleiro, etc, e os HH EPE do SNS, possam aderir livremente de forma a obterem os maiores benefícios recíprocos.
Com a criação de um sistema deste tipo a pressão sobre a cadeia de fornecedores conduzirá à redução significativa de custos.
A redução de custos resultará naturalmente da concorrência, da agilização do processo de aquisição, da facilidade de acesso à informação, da eficácia do sistema de distribuição e da redução de stocks.
O problema da aquisição de medicamentos levanta problemas específicos por se tratar de um mercado especialmente regulado.
Já foi aqui focado anteriormente a lacuna existente em relação à regulação do preço dos medicamentos de consumo exclusivo hospitalar. Ao contrário do que acontece com os restantes medicamentos em relação aos quais o estado estabelece o PVA (preço venda do armazenista) e o PVP (preço de venda ao público) o preço destes medicamentos anda em roda livre. O Infarmed devia intervir estabelecendo regras em relação à comercialização destes medicamentos.
Em relação à criação de uma rede de armazéns centralizado e de distribuição de medicamentos aos hospitais, parece ir contra a política de afastar o estado, quanto possível, da prestação directa de serviços.
Penso que haveria vantagem em contratar estes serviços a empresas externas devidamente habilitadas. Mais uma vez a guerra aberta com a ANF parece prejudicar o avanço para uma solução deste tipo.

Mário de Sá Peliteiro said...
Duas notas prévias.
Não existe nenhuma nenhuma "estrutura logística das farmácias de oficina da ANF". Deviam querer referir-se às Cooperativas Farmacêuticas que, por acaso, são anteriores à própria ANF.
Num blogue de conceituados AH fala-se de aprovisionamento, incluindo de medicamentos, mas nunca de farmacêuticos, os profissionais a quem deveria caber um importante papel nessa função. Deve ser pela mesma razão que vemos pessoas sem a mínima qualificação ou experiência a administrar hospitais.

Quanto á pretensão de CC de "construir uma plataforma de compras electrónica e desenvolver uma estrutura logística" parece-me bastante pertinente, é uma decisão de gestão óbvia, com benefícios evidentes, facilmente exequível - desde que bem estruturada, profissionalizada e com "força" suficiente para se impor entre os fornecedores e os clientes. É fácil gerir um stock de milhares de referências, normalizar, conseguir reduções comerciais ou financeiras e distribuir em JIT de Bragança a Faro, diminuindo despesas e incrementando a qualidade dos produtos. Idealmente num sistema de concorrência onde os farmacêuticos e os responsáveis de aprovisionamento de cada um dos Hospitais assim como os compradores da estrutura logística central fossem responsabilizados pela sua função e pelas suas decisões de compra.

xavier said...
Não se fez referência a farmacêuticos como não se fez referência aos médicos a quem cabe, como sabe, a responsabilidade da prescrição.

Aproveito para falar da organização das farmácias hospitalares que são as únicas que eu conheço razoavelmente.

Os serviços de Farmácia hospitalares funcionam de uma forma geral de forma ineficiente. Problemas de instalações, equipamentos, tratamento de informação e muita falta de organização.

A maioria dos farmacêuticos ocupa-se da execução de tarefas administrativas (por exemplo a transcrição das receitas para a folha terapèutica), poucos fazem farmácia clínica, poucos têm conhecimentos de gestão (stocks, gestão de pessoal, sistemas de informação e circuitos).

O manual de procedimentos criado pelo Infarmed para as farmácias hospitalares prevê, quanto a mim erradamente, que seja a farmácia hospitalar a responsável pelo processo de compra e a gestão de stocks de medicamentos.

Os farmacêuticos hospitalares devem integrar as comissões de escolha dos processos de aquisição de medicamentos e as comissões de farmácia hospitalares.

Na gestão de stocks deverão ter o apoio técnico de especialistas de forma a ter stocks ajustados às necessidades evitando assim os pesados investimento e os enormes desperdícios que se verificam nos hospitais.

Vejo o farmacêutico hospitalar essencialmente vocacionado para discutir com o médico prescritor os planos terapêuticos dos doentes, função, que devido a vários factores, não executam nos hospitais do SNS.

Em função dos custos elevadíssimos do aprovisionamento hospitalar (que chega a ser nalguns HH de 40%, ou seja, por exemplo, uma cápsula de uma determinada substância com um PVP de 10 euros, quando chega à boca do doente, custa ao hospital 14 euros), entendo que estes serviços deveriam ser adjudicados a empresas externas.

Mário de Sá Peliteiro said...
Ora eu não concordo que os farmacêuticos hospitalares se dediquem sobretudo a "discutir com o médico prescritor os planos terapêuticos dos doentes" e a "integrar as comissões de escolha dos processos de aquisição de medicamentos e as comissões de farmácia hospitalares.

Os farmacêuticos devem intervir em todo o circuito do medicamento, incluindo os processos de gestão e concretamente no aprovisionamento de produtos farmacêuticos.

Têm competências para isso - tanto o têm que na "privada" o fazem e ao que dizem bem (nas ditas estruturas logísticas das farmácias da ANF só nunca vi farmacêuticos na direcção financeira, mas já vi na informática, no planeamento, na negociação, na gestão de frotas, nas compras, nos armazéns, no mkting...).
E note, amigo Xavier, que não indico os farmacêuticos para estas funções por causa de razões corporativas. Indico porque creio que são os profissionais melhor preparados para o fazer, por uma questão da especificidade do trabalho, pequenos pormenores que valem (o caso do cartel nas tiras da glucose seria detectado a léguas por um qualquer estagiário).
Defendo que cada macaco em seu galho, por isso defendo que na administração de um Hospital devem estar administradores hospitalares e não industriais de cutelaria como eu já vi, por isso defendo que no aprovisionamento de produtos farmacêuticos e afins (conceito o mais lato possível) deve estar um farmacêutico.

Quanto aos custos de aprovisionamento altíssimos e a adjudicação a empresas externas, proponha isso ao CC... Quem sabe se ainda nos encontramos um destes dias :-)

tonitosa said...
Com a criação de "pipelines" logísticos são-nos geralmente vendidas "receitas milagrosas" para a realização de grandes economias na área do aprovisionamento.
Em minha modesta opinião, as economias possíveis deverão ser masi procuradas no consumo/desperdício do que nas "compras". E o consumo, com sabemos, está quase totalmente dependente das "práticas médicas" e da forma como os serviços funcionam.
Sabemos que na ausência de "protocolos terapêuticos" os custos hospitalares com medicamentos e MCDT's tendem a ser sigificativamente mais elevados. E sabemos, também que entre nós a introdução daquela prática clínica tem resistências e vem sendo um processo muito lento.
As economias nas compras (aprovisionamento) são possíveis mas não creio que a concorrência seja impulsionadora da redução dos preços. Estamos num sector "cartelizado" e dificilmente teremos um mercado de concorrentes livres.
Outra forma de obter poupanças será naturalmente a redução dos prazos de pagamento à indústria e ao laboratórios mas tarda em conseguir-se o equilíbrio financeiro do Sistema e dos HH como grandes consumidores, capaz de permitir "melhores" preços.
A logistica hospitalar é por natureza complexa mas na era das TIC não há razão para que se continue a trabalhar de forma tão rudimentar, seja nos processos de aquisição, sja no acesso à informação ou ainda nos sistemas de distribuição e gestão de stocks.
Os sistemas de informação podem dispensar mão-de-obra quer de farmacêuticos que de outros trabalhadores ocupados com tarefas como as de transcrever receitas para as folhas terapêuticas e de registar manualmente as propostas dos concorrentes (num dos SA's, em 2004, os concursos e respectivas propostas foram feitos via internet e com propostas remetidas pela mesma via, o que evitou muitas horas de trabalho).
A introdução da prescrição clínica eletrónica permitira por outro lado maior segurança na satisfação dos "pedidos" dirigidos à Farmácia Hospitalar e facilitar a gestão da prórpia farmácia. O mesmo se diga em matéria de material de consumo clínico, onde só através de adequados sitemas de informação será possível avaliar custos, estabelecer custos-padrão e detectar desvios (desperdícios e má utilização ou utilização "abusiva"). Poderão então ser tomadas medidas de maior racionalidade quer no aprovisonamento quer no consumo.
Depois há naturalmente o factor humano que é a "chave" de resposta a muitos dos problemas. Formação e informação são condimentos indispensáveis para o êxito, a que se deve acrescentar sempre competência qb.
Mas não me parece que se deva transformar a logística e o aprovisionamento como tarefa de super-homens/super-mulheres.
A solução não é, quanto a mim, a criação de uma grande plataforma de compras electrónica. Tudo tem limites. E a centralização que até aqui se tem verificado no IGIF é um "mau exemplo" a não esquecer.
Alguns exemplos de redução de preços de aquisição conseguidos em HH SA's não deverão, em meu entender, ser ignorados. Eles exitem e só não os vê quem não quer.

xavier said...
Concordo que o farmacêutico hospitalar deve participar em todo o circuito do medicamento.

O MSP que já trabalhou no Hospital de Guimarães sabe que a causa de deficiente trabalho das farmácias hospitalares se deve fundamentalmente ao facto de haver uma enorme discrepância entre o dever ser e o que se passa na realidade.

As farmácias hospitalares carecem de vários instrumentos de gestão, fundamentalmente de um sistema de informação de gestão eficaz, devidamente testado.

Os sistemas de prescrição "on line" dos nossos hospitais ainda não passaram da fase de experimental. Mesmo o do HUC.

Há problemas graves ao nível da normalização de consumos e da codificação de artigos.

Presentemente o Infarmed está a trabalhar na criação do Código Hospitalar Nacional do Medicamento (CHNM) a utilizar em todo o circuito do medicamento a nível Hospitalar (aplicações de Aprovisionamento, Farmácia e Prescrição) de forma a permitir uniformizar a informação relativa aos medicamentos na Farmácia Hospitalar e que a informação seja utilizada por todas as instituições do SNS.

Ao nível da normalização é indispensável que as Comissões de Farmácia passem a funcionar de outra forma, estabelecendo regras claras e efectivas sobre a utilização hospitalar de medicamentos.

É necessário trazer para esta guerra médicos interessados de forma a transformar a prescrição num acto informado, conciliando o rigor e eficácia das terapêuticas com a economia das mesmas.

Para os farmacêuticos assumirem de forma esclarecida e responsável a plena gestão da farmácia hospitalar carecem de formação específica em determinadas áreas como gestão de stocks, sistemas de informação e informática.
Talvez seja mais económico atribuir a técnicos especializados a gestão destas áreas.

A forma de funcionamento das farmácias hospitalares do SNS em termos de eficiência relativamente a muitos HH da UE e ao que se passa no sector privado, poder-se-à considerar que ainda estão no tempo da pedra lascada. Com graves repercussões na despesa hospitalar.

xico said...
Os farmacêuticos são obviamente fundamentais na gestão das farmácias hospitalares, tal como os médicos o são na gestão dos servivos clínicos. Mas isso não implica que assumam a responsabilidade directa pela gestão de compras ou até de stocks. Para isso há outros profissionais, mais capazes da organização desses processos e pela gestão das negociações, se a elas houver lugar.
Estamos infelizmente habituados e somos demaisado tolerantes à consituição de quintinhas. Concordo com o Xavier, na posição que devende dos farmacêuticos hospitalares.Estes devem concentra-se na sua relação com o prescritor, no controlo e gestão qualitativa do medicamento e na gestão de sistemas de segurança e controlo de prescrição e administração de medicamentos. Para mis, quem percebe de medicamentos é o farmacêutico, por isso este deve assumir integralmente o papel de especialista nessa área, em vez de se remeter para tarefas mais burocráticas.
No século XXI, muitos HH públicos, não têm ainda a unidose generalizada, e a maioria nem sequer um sistema minimamente informatizado de prescrição utiliza, recorrendo a registos manuais, apesar de existirem hoje em dia aplicações que possibilitam um aumento de eficiência e segurança para os profissionais e doentes, com comprovados beneficios ao nível de poupança.
Um dos primeiros farmacêuticos com que trabalhei, já velhote, entendia que, para um hospital com cerca de 100 camas, tinha que dispôr de um stocks de soros para 2 meses. Segundo ele, tinha que respeitar o "raciocínio farmacêutico", que implica a segurança acima de tudo. O problema eram os milhares de euros em produtos fora do prazo gastos anualmente. Isto quando a 20Km existia um centro de armazenagem e distribuição de medicamentos. E conseguia a reposição de stocks comprovadamente em menos de 24 horas. Mais tarde esse farmacêutico abriu uma farmácia de oficina e o seu "raciocinio farmacêutico" teve uma evolução para um "raciocinio de gestão" de medicamentos e acabou por me dar razão. E nunca vi esse profissional a questionar uma prescrição nem a questionar um médico, apesar de comentar muitos disparates que lhe chegavam. Obviamente que isto é, hoje em dia, a excepção.
O mercado do medicamento é dos mais organizados no país. Só que os HH ainda não aprenderam a tirar partido dessa organização, em seu beneficio, utilizando as experiências ao nível da gestão informática, processos de armazenagem e distribuição, controlo de custos e segurança.
Por outro lado, a ineficiência das comissões de farmácia e terapêutica é atroz. Muito porque estão nas mãos dos médicos, que geralmente estão em maioria na sua constituição, e porque são presididas pela direcção clínica, sendo raros os casos em que rejeitam a prescrição ou a introdução de novos medicamentos para uso regular.

xavier said...
O desperdício verificado no circuito hospitalar do medicamento é enorme.

Como o xico refere o valor do investimento em stocks é elevadíssimo. Na maioria dos HH do SNS, normalmente corresponde a dois meses e meio de consumo.
Se somarmos o valor das imobilizações em stocks de todos HH chegamos a montantes astronómicos.

O controlo dos prazos de validade é outro dos grandes problemas.
Na recepção o controlo dos prazos é por vezes negligênciada, recepcionando medicamentos com validade já muito em cima dos prazos.
O controlo automatizado destes prazos não existe.
Existe, no entanto, a prática dos laboratórios substituírem determinados produtos com prazos expirados sem encargos para o hospital.
O valor anual das inutilizações é no entanto muito elevado.

Há também desperdícios enormes com os stocks de emergência dos serviços.

A implementação de sistemas de controlo de qualidade nas Farmácias Hospitalares é indispensável de forma a garantir as melhores práticas em relação ao circuito do medicamento: controlo da prescrição, embalamento, distribuição, controlo dos stocks (centralizado e serviços).

Os sistemas de distribuição por dose unitária hospitalares funcionam com muitas deficiências, sendo frequentes a ocorrência de erros graves no circuito de distribuição (interpretação da prescrição, preparação da dose unitária, transporte farmácia/enfermaria, administração ao doente).

A indisciplina e as constantes alterações de prescrição levantam grandes dificuldades à gestão do medicamento e são a causa da ocorrência de muitos erros.

Os problemas da distribuição hospitalar de medicamentos não são analisados regularmente pelos responsáveis dos serviços de acção médica, farmácia e administração.
Os mesmos erros continuam por isso a ocorrer de forma sistemática.
Os formulários hospitalares são demasiado vastos e complicados.

As farmácias hospitalares do SNS carecem de um eficaz programa de reengenharia de forma a alterar profundamente a sua forma de funcionamento e cultura de gestão.
Atafulhar estes serviços de meios (equipamentos, sistemas informáticos e pessoal) não é condição sine qua non para melhorar a eficiência destes serviços.

xico said...
A criação de um sistema de e-procurement, do qual se fala à quase 10 anos, sem dúvida constituirá uma mais valia para os HH.
Em termos de rapidez de procedimentos e obtenção de melhores condições de compra, haverá certamente ganhos.
Faltará o passo seguinte, que passa por possibilitar capacidade económica para pagar a tempo e horas, organização de espaços de recepção, armazenagem e distribuição de produtos ou ainda a implementação de novas formas de trabalho e ferramentas informáticas e outras.
Quanto à questão de centrais de armazenagem e distribuição, não me parece a questão mais premente. Obviamente que o custo do m2 em instalações hospitalares é demaisado caro, para que os HH disponham de grandes armazéns. Por outro lado, a logistica nunca foi considerada na projecção de HH, levando a monumentais asneiras em HH novos, do género de não existirem espaços de descarga, portas nos armazéns largas o suficiente para passarem os produtos ou ainda canais de distribuição com acesso a elevadores.
Mas apesar disso, penso que haverá pouco a ganhar, para já, numa solução de centralização no SUCH de redes de distribuição, até poruqe os produtos hospitalares têm uma evolução muito grande e existe um leque extensíssimo de produtos, que exigirá um elevado investimento. E é o consumidor este paga sempre os custos associados à aramzenagem edistribuição.
Penso que a posta deverá ser no e-procuremente e na qualificação dos serviços de aprovisionamento, facultando-lhes as ferramentas adequadas.

xico said...
Outro dos problemas dos aprovisionamentos hospitalares, é a profusão de compradores. Compra o farmacêutico, compra o responsável pelo SIE, compra o CA, compra a informática, etc.
No sector privado, verifica-se a qualificação e a importância da função "compra". Deve-se apostar nessa qualificação de "comprador", desigando profissionais ao nível da direcção dos serviços de aprovisionamento, responsáveis pela gestão de compras.
Por outro lado, como bem diz o Xavier, a informática não é panaceia para todos os males, mas um bom sistema ajuda muito.
O controlo de prazos de validade e de lotes, pode ser feita pela utilização de sistemas informáticos adequados, que possibilitem os uso da leitura óptica. Os produtos têm códigos de barras universais, que podem ser pelos HH na sua identificação, tal como fazem as redes de supermercados com os milhares de produtos que vendem. Mas para isso são necessárias aplicações adequadas e não a Gestão de Materiais do IGIF, que foi atamancada para possibilitar a leitura óptica, mas que é praticamente inoperante.
Falta também aposta na qualificação do pessoal que trabalha nos armazéns. Ainda é dominante a cultura de enviar para os armazéns os auxiliares que não servem para mais nada. E também ainda é dado assente que quem manda nos espaços de aviamento e nos produtos dentro dos serviços clínicos, são os enfemeiros chefes, que costumam constituir os seus stocks "privativos" de segurança.
Falta portanto muito trabalho ao nível de organização, gestão e controlo de stocks, mas também faltam algumas ferramentas adequadas e imaginação para as usar devidamente, em termos de controlo de quantidades, validades e utilização adequada.
Não duvido que uma aposta forte na organização da logistica, possibilitará ganhos enormes nos HH, mas não podemos apostar apenas no factor compra, sob pena de perdermos nas ineficiências internas, o que se ganhou na compra

xico said...
Outro dos problemas dos aprovisionamentos hospitalares, é a profusão de compradores. Compra o farmacêutico, compra o responsável pelo SIE, compra o CA, compra a informática, etc.
No sector privado, verifica-se a qualificação e a importância da função "compra". Deve-se apostar nessa qualificação de "comprador", desigando profissionais ao nível da direcção dos serviços de aprovisionamento, responsáveis pela gestão de compras.
Por outro lado, como bem diz o Xavier, a informática não é panaceia para todos os males, mas um bom sistema ajuda muito.
O controlo de prazos de validade e de lotes, pode ser feita pela utilização de sistemas informáticos adequados, que possibilitem os uso da leitura óptica. Os produtos têm códigos de barras universais, que podem ser pelos HH na sua identificação, tal como fazem as redes de supermercados com os milhares de produtos que vendem. Mas para isso são necessárias aplicações adequadas e não a Gestão de Materiais do IGIF, que foi atamancada para possibilitar a leitura óptica, mas que é praticamente inoperante.
Falta também aposta na qualificação do pessoal que trabalha nos armazéns. Ainda é dominante a cultura de enviar para os armazéns os auxiliares que não servem para mais nada. E também ainda é dado assente que quem manda nos espaços de aviamento e nos produtos dentro dos serviços clínicos, são os enfemeiros chefes, que costumam constituir os seus stocks "privativos" de segurança.
Falta portanto muito trabalho ao nível de organização, gestão e controlo de stocks, mas também faltam algumas ferramentas adequadas e imaginação para as usar devidamente, em termos de controlo de quantidades, validades e utilização adequada.
Não duvido que uma aposta forte na organização da logistica, possibilitará ganhos enormes nos HH, mas não podemos apostar apenas no factor compra, sob pena de perdermos nas ineficiências internas, o que se ganhou na compra

farmasa said...
Uma das grandes falácias que se comete quando se fala de saúde, é julgar que tem que ser o profissional que utiliza ou é responsável por determinado bem a adquiri-lo.
Não haveria qualquer problema em assim ser se, e este se é que é a questão, os profissionais em causa tivessem formação adequada a essa tarefa, para além da sua formação principal.

Vou falar apenas dos serviços farmacêuticos pois são aqueles que conheço com algum pormenor.

É lógico que o farmacêutico tem que estar envolvido no processo de aquisição de medicamentos, tal como nas restantes etapas do cirecuito, por forma a garantir que os requisitos técnicos são integralmente cumpridos e devidamente garantidos. No entanto, isto não invalida o facto de poder (dever) haver profissionais, especializados em negociação e em procurement, que executem no dia-a-dia estas tarefas. É óbvio que terão que ter supervisão do farmacêutico. Mas, se lhes forem colocados objectivos tangíveis, no que diz respeito a níveis de serviço, valor do inventário, etc., serão objectivamente responsabilizados pela boa ou má gestão dos seus inventários. É assim nas grandes empresas!

Agora o problema é que praticamente nenhum farmacêutico hospitalar tem formação em gestão de stocks, aprovisionamento, ou compras e, portanto, dificilmente tem uma visão deste genéro. A visão mais comum é a de que decidir a quem comprar é bom porque se ganham muitas viagens, muitos congressos e, às vezes, outras coisas muito simpáticas...

A um farmacêutico que hoje tem este poder (e estas benesses) peguntem-lhe agora se está disposto a voltar a ser um profissional de saúde, orientado para a tal farmácia clínica, ou se prefere fazer compras.

É óbvio que, mesmo que não faça a mínima ideia de como as mesmas se devem fazer, continue a optar por serviço que lhe conferem maior prestígio e, sobretudo, autonomia...

Tudo o que aqui está dito em relação às farmácias, é aplicável quase a 100% aos serviços de aprovisionamento.

Se se pretende desperdiçar menos dinheiro nestas aquisições de vários bens e serviços é imperativa a criação de plataformas de compra centralizadas EFECTIVAMENTE funcionais.

É que se assim não for, vai acontecer o mesmo que nalguns casos que conheço: A central compra tudo. Como não tem muitos clientes internos, acaba por ter um preço elevado; os clientes internos consultam o mercado e coneguem mais barato. Depois deixam de consultar a central e a comprar individualmente. Resultado: Central cara e ineficaz; Clientes internos com excesso de serviços administrativos (muitas vezes com necessidade de aumentar os quadros de pessoal), devido ao enorme número de fornecedores e variados processos de compra.
É um processo auto-destrutivo que só para com o aparecimento de uma valência rara na gestão pública: competência

xico said...
Voltamos então à questão da profissionalização e qualificação do pessoal e dos serviços.
É errado partir do pressuposto que o elevado custo dso consumos hospitalares resulta de corrupção ou incompetência. Resulta muito mais da falta de liderança e insituição de regras claras e definição de competências: quem compra e como compra; quem escolhe e como escolhe e por aí adiante.
As centrais de compras, se criadas de forma a permitirem liberdade de escolha e de negociação, ou seja, servindo como ponto de encontro de fornecedores e compradores credenciados e habilitados, traz inúmeras vantagens.
Se forem feitas como o IGIF fez, são um maná para os fornecedores, principalmente em áreas de concorrência limitada ou com muitos produtos exclusivos.

xico said...
Alguém sabe quem está na calha para dirigir a Unidade de Compras, criada pelo despacho n.º 25 991/2005, de 16/12, do SES?

farmasa said...
É errado partir do pressuposto que todos profissionais dos HH são incompetentes e corruptos.
No entanto, não podemos continuar a achar que as ineficácias acontecem por acaso. As desorganizações não acontecem por acaso. Na maior parte das vezes é fruto das observação das vantagens que os profissionais têm com as tais desorganizações. A quem é que interessa ter os serviços controlados e devidamente organizados? É que depois é muito mais fácil pedir responsabilidades! Bolas, e acham que as chefias se deixam apanhar nessa??

Temos que ter chefias à altura das responsabilidades. Seria um bom princípio começarem a dar o exemplo da excelência naquilo que fazem. Os exemplos dos chefes são sempre seguidos em maior ou menor grau, sobretudo se forem maus.

xico said...
Nem de propósito. Noticia do Diário Digital:
"O Hospital de Santa Maria ...

...Desde que assumiu funções, Adalberto Campos Fernandes deparou-se com várias situações «ilícitas» que comunicou às autoridades, conforme assumiu hoje à comunicação social, pouco depois do ministro da Saúde ter revelado que nos últimos dez dias foram feitas ameaças de morte contra a administração do hospital.

Sem adiantar quais as irregularidades detectadas, Adalberto Campos Fernandes disse que as mesmas já foram transmitidas às autoridades.

Também a Inspecção-Geral da Saúde (IGS) está a investigar as alegadas irregularidades no Hospital de Santa Maria, as quais poderão abranger vários sectores, nomeadamente do aprovisionamento (material).

Segundo o ministro da Saúde, os que agora ameaçam de morte o presidente do conselho de administração do Hospital de Santa Maria representam «interesses ilegítimos», com os quais «não há contemplação ou diálogo».

«Seremos inabaláveis na convicção com que lutaremos contra os interesses ilegítimos, seremos inteligentes na prevenção e implacáveis na sanção», assegurou António Correia de Campos.

Algumas das ameaças reveladas por Adalberto Campos Fernandes terão sido feitas, por telefone, dentro do próprio hospital e, segundo o ministro da Saúde, terão deixado pistas.

A PSP está a investigar o caso e garantiu já a protecção do presidente do conselho de administração do Hospital de Santa Maria através de dois elementos à civil que o acompanham em permanência.

helena said...
Sempre há corrupção. E da grossa.
O que não se passará por esse país fora !
A redução/eliminação destas situações só é exequível através da organização dos serviços.

a guiar epe said...
São muitos anos de interesses instalados, logo, para haver «dividendos» para distribuir pelos «colaboradores» era necessário inflaccionar o preço final...e o Zé pagava !!!
Como diz o nosso Povo «A carne é fraca...»