sábado, dezembro 03, 2005

Urgências Hospitalares

Nas urgências está o grande busílis da organização hospitalar

Os SU absorvem por lei 12 horas do trabalho normal de um médico e, em regra, mais 12 horas de trabalho extraordinário, dado que as urgências em geral estão organizadas por períodos de 24 horas. Se um médico estiver em horário normal, 35 horas, significa que retirando 12 para a Urgência apenas ficam 23 horas para tudo o resto: Consultas, visitas médicas, reuniões de serviço, Bloco Operatório. Sucede além disso que os horários médicos, por razões a maior parte das vezes não imputáveis aos médicos nem às Administrações, organizam-se normalmente quase só no período da manhã, «fechando» os hospitais a sua actividade no período da tarde. Isto faz com que de manhã os médicos se acotovelem, em regra, em instalações exíguas e insuficientes, durante a manhã. Deve concluir-se deste breve relato que a grande ineficiência do trabalho médico decorre em grande parte da má organização do trabalho médico, a qual ou resulta de imperativos legais ou de medidas impostas ou impedidas pela tutela. Sucede assim que talvez a maior quota parte da responsabilidade do elevado desperdício de recursos médicos neste país se deve não aos médicos eles próprios nerm às administrações hospitalares mas sim à inércia, à incompetência e ao desmazelo dos sucessivos Ministros da Saúde que nada têm feito para alterar a situação podendo e devendo fazê-lo.
Medidas?
Reorganizar as Urgências hospitalares.
Criar quadros de Urgência, dotá-los de médicos «intensivistas» (especialistas em urgências) a trabalhar em full-time nas Urgências (com organização do trabalho e dos tempos de trabalho que salvaguardem a segurança e a saúde dos médicos, bem como a qualidade dos actos médicos)
Os SU deviam ter uma larga autonomia de gestão nomeadamente para poderem contratar médicos ao «Hospital», fora do horário normal destes médicos.
Os médicos «do Hospital» deviam ser obrigados a cumprir o seu horário integralmente nos serviços e só poderiam fazer horas na urgência fora desse horário, como prestadores de serviços, como se estivessem a vir de fora. Para isso é preciso mexer nas leis. O que compete ao Ministro fazê-lo.
Muitas outras medidas poderiam ser adoptadas. Compete contudo ao Ministro tomar a iniciativa. Não é com «bocas» que estas coisas se fazem. É com imaginação, com diálogo, com respeito pelas diversas vontades que existem nos hospitais, que quer queiramos quer não são vontades muito esclarecidas, muito qualificadas, que suaram muito para serem médicos e serem bons profissionais e que seguramente não gostam, como eu não gosto, de serem tratados abaixo de cão.
Vivóporto