sábado, dezembro 03, 2005

Nem Outspoken, nem Outdoing

Decorridos sete meses de Governo, penso que hoje CC não teria cometido/ou já estaria em condições de não cometer os seguintes erros políticos:

1º- Não incluíria no discurso de tomada de posse do Governo a referência à venda livre de medicamentos. Arranjou uma carga de trabalhos desnecessária. Poderia ter levado na mesma a água ao moinho mas sem os anti-corpos que a partir daí arranjou com a ANF. Esta guerra que vai certamente vencer por ter maioria absoluta não irá deixar de lhe trazer sérios problemas políticos e pessoais. Chamam-se a isso uma «Vitória à Pirro!»
A continuação da guerra em campo aberto como está a ser feito, acrescida agora com nova batalha (a da liberalização das Farmácias) vai causar mais baixas políticas do que ganhos. E quanto aos ganhos económicos, vamos ver!
CC, arrisca-se a ficar na história como o Ministro das Farmácias e do Medicamento o que irá ser redutor da sua imagem como estadista porque acreditamos que outras coisas importantes irão ser feitas.

2º- Teria uma estratégia cuidada das nomeações políticas a efectuar. A falta notória de estratégia nota-se no modo atabalhoado como foram feitas algumas nomeações (INFARMED, ERS, Comissão da Luta contra a SIDA, SPTT, p. ex.) ou no modo como não foram feitas substituições politicamente relevantes e indispensáveis: do Alto-comissário para a Saúde, do Director-Geral de Saúde, dos CAs dos HH SA (entre a total ingenuidade e o suicídio político!), etc. Não está em causa o valor das pessoas, até podem ser competentes, está em causa que são lugares de confiança política; a manutenção de pessoas identificadas com a política de saúde anterior, assume por isso um claro significado político. Que é a de dar a ideia de continuidade da política do seu antecessor. Embora eu não tenha dúvidas de que assim é, pelo menos deveria ter havido um pouco mais cuidado com as aparências. Porque, como já aqui foi dito, em política o que parece é!

3º- Faria uma avaliação cuidada dos meios (nomeadamente, os meios humanos) para levar a cabo a sua política de saúde. Por erro de avaliação, algumas boas ideias podem vir a morrer na praia.

4º- Não deixaria criar uma imagem tão contrastante entre o Professor e o Politico, em desabono sobretudo para aquele (o Professor).

5º- Não deixaria instalar a imagem de apatia, de desgoverno e até de cumplicidade que tende a dominar os nossos serviços de saúde, em especial os HH SA;

6º- Daria uma mensagem clara de moralização do sistema de saúde dizendo nomeadamente que iria mudar o sistema de nomeação (de remuneração e de composição) dos órgãos dirigentes e em que sentido o iria fazer;

7º- Cuidaria em saber porque razão a ideia que se tem é a de que não existe ainda uma Política de Saúde bem definida, parecendo verificar-se um tactear constante (às vezes ziguezagueante) à procura de uma Política;

8º- Procuraria fundamentar com mais consistência as vantagens nas Parcerias e avaliaria o custo-benefício da transformação dos SA em EPE (a única que vejo, a curto prazo, é a de poder substituir os CAs de LFP, sobretudo aqueles afrontosamente políticos, que ainda faltam substituir a outra é política, mas parece pouco relevante)

9º- Não abriria, neste momento, outra guerra com os prestadores de MCDT, baixando as tabelas de preços que já não são revistas há anos e em alguns casos já estão quase abaixo de custo. Não só não parece honesto, como irá contribuir ainda mais para um abaixamento acentuado da qualidade dos exames. Se antes se dizia que o sector privado parasitava o SNS, em que medida é que agora não irá o SNS parasitar o sector privado? Se o Estado faz uma convenção com o sector privado é vice-versa é porque existem vantagens mútuas nessa convenção. Forçar pactos leoninos, que vão penalizar sobretudo os pequenos prestadores é anti-socialista e mais do que isso não parece sério.

Senhor Ministro era bom arranjar uma task force política no Ministério. As boas decisões, também económicas, na maior parte dos casos são/devem ser também, boas decisões políticas.
Vivóporto