domingo, outubro 16, 2005

Gestão Hospitalar na Europa


Editorial de Manuel Degado- Revista Gestão Hospitalar
Há mais de uma década que os Administradores Hospitalares Portugueses participam activamente na organização que congrega a maioria dos gestores hospitalares dos países europeus, a EAHM (european association of hospital managers).
Muitos desses gestores têm formação médica, outros são diplomados nas áreas de economia, de gestão ou das ciências sociais em geral e há um grupo crescente constituído por profissionais com formação em gestão de hospitais ou serviços afins.
É esta, por exemplo, a tradição da escola francesa que apenas admite em funções de gestão técnica intermédia ou de topo, profissionais diplomados pela escola de Rennes.
Há todavia um traço comum que a todos nos une: a dedicação a essa área muito específica da gestão, de forma intensa, permanente e disponível para aprender coisas novas, desenvolvermos o nosso conhecimento, acompanharmos as experiências uns dos outros e contribuirmos para melhorar a eficiência das organizações de saúde e o acesso dos doentes.
Ao longo destes anos tenho comentado com os nossos colegas europeus as diferentes situações vividas em Portugal, com ciclos políticos que vão alternando, num movimento pendular sincopado, ou o reconhecimento das competências específicas para a gestão hospitalar, ou o seu desprezo em benefício de gestores de “reconhecido mérito”, de fora da saúde, que meteoricamente atracam a este cais e logo partem sem deixar rasto.
E sempre vou ouvindo, nos períodos de maré baixa, palavras de conforto e de esperança quanto ao futuro, que valha a verdade, a seguir, tarde ou cedo se confirmam.
A situação portuguesa é neste caso, como eventualmente noutras, “sui generis”. Ao acumular, permanente e estável, de conhecimento dos profissionais, devidamente habilitados, prefere-se, muitas vezes, a ruptura, introduzindo-se o “sangue novo” do arrivismo, de pequenas ou grandes habilidades, de desconstrução.
Que provocam a instabilidade no governo dos serviços, geram a desconfiança nos profissionais de saúde e pioram o funcionamento das instituições. Há, naturalmente, excepções que apenas confirmam a regra.
Veja-se o que se passa lá fora, repare-se na continuidade e autonomia das condições de trabalho que são dadas aos gestores hospitalares e perceba-se os ganhos que isto trás para o funcionamento das instituições.
Em benefício dos doentes, naturalmente.
Manuel Delgado- editorial da revista gestão hospitalar- setembro 2005.

Finalmente o presidente da APAH, Manuel Delgado, "apareceu" através de um editorial oportuno publicado na revista "Gestão Hospitalar" de Setembro, pondo o dedo na ferida sobre o problema da instabilidade da gestão hospitalar, aferindo o que se passa entre nós, com as práticas utilizadas na maioria dos países europeus.
Para lá do brilho da análise, o editorial de Manuel Delgado veio sossegar o espírito da maioria dos associados da APAH que temiam pelo “desaparecimento” do seu líder.
Manuel Delgado foi meu professor na ENSP, integrando o célebre trio dos três mosqueteiros assistentes do professor Vasco Reis. Sempre reconheci nele duas grandes virtudes: competência e verticalidade.
Desde que Correia de Campos é ministro da saúde temos estranhado o comportamento do presidente da APAH, quedando-se nas covas, pouco interessado, talvez cansado, em acompanhar os problemas de fundo da nossa vida associativa.
Reconheço, depois da publicação deste editorial, que não soubemos dar tempo ao tempo. O Manuel Delgado que sempre conhecemos está de volta. Aí o temos a intervir acertada e oportunamente o que nos traz esperança renovada para os próximos combates em defesa da nossa profissão.