Consultas integradas
Para VIH/sida, tuberculose e toxicodependência
É preciso «investimento» e «vontade política»
A uma semana do Dia Mundial da Tuberculose, que hoje se assinala, Jorge Sampaio reuniu-se com especialistas para falar da co-infecção VIH/sida-tuberculose. Os clínicos contaram depois ao «TM» as dificuldades sentidas para pôr em prática consultas integradas de acompanhamento de toxicodependentes co-infectados.
A toxicodependência, a infecção por VIH/sida e a tuberculose são as três «entidades» que mais preocupam o director do Departamento de Pneumologia do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN). Por esse motivo, Jaime Pina questionou, durante o encontro que Jorge Sampaio, enviado especial da Organização das Nações Unidas para a tuberculose, promoveu no Hospital de Pulido Valente (HPV), no passado dia 14: «Em termos organizacionais, não deveríamos evoluir definitivamente para centros ambulatórios de tratamento integrado destas três entidades?»
O objectivo do médico seria que os toxicodependentes com co-infecção VIH/sida-tuberculose recebessem as três terapêuticas «única e exclusivamente no mesmo sítio», explicou.
A uma semana do Dia Mundial da Tuberculose, que hoje se assinala, Jorge Sampaio reuniu-se com especialistas para falar da co-infecção VIH/sida-tuberculose. Os clínicos contaram depois ao «TM» as dificuldades sentidas para pôr em prática consultas integradas de acompanhamento de toxicodependentes co-infectados.
A toxicodependência, a infecção por VIH/sida e a tuberculose são as três «entidades» que mais preocupam o director do Departamento de Pneumologia do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN). Por esse motivo, Jaime Pina questionou, durante o encontro que Jorge Sampaio, enviado especial da Organização das Nações Unidas para a tuberculose, promoveu no Hospital de Pulido Valente (HPV), no passado dia 14: «Em termos organizacionais, não deveríamos evoluir definitivamente para centros ambulatórios de tratamento integrado destas três entidades?»
O objectivo do médico seria que os toxicodependentes com co-infecção VIH/sida-tuberculose recebessem as três terapêuticas «única e exclusivamente no mesmo sítio», explicou.
O desafio colheu adeptos no debate «VIH-TB — dar uma resposta integrada à co-infecção». Miguel Villar, que representou a Direcção-Geral da Saúde (DGS) enquanto responsável pelo Centro de Referência para a Tuberculose Multirresistente (CRTMR), lembrou que já existe no Centro de Diagnóstico Pneumonológico (CDP) da Venda Nova uma experiência de atendimento integrado a esta população.
O projecto, que começou no segundo semestre de 2006, inclui a deslocação de especialistas do CDP e do Hospital de Fernando Fonseca para realizar consultas mensais de Pneumologia e Infecciologia no Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) da Amadora. No trabalho diário, os utentes vão ao CAT tomar a terapêutica de substituição à adicção e os antibacilares, mas, passado ano e meio, a equipa ainda não distribui a medicação anti-retrovírica. «O Hospital Amadora-Sintra não facilita muito a saída da medicação [anti-retrovírica] para o CAT», explicou posteriormente Miguel Villar ao «Tempo Medicina», acrescentando: «Em relação à tuberculose, temos um stock da medicação necessária para quando os doentes vão à consulta, o que ainda não conseguimos implementar em relação ao VIH.»
Assim, os toxicodependentes co-infectados continuam a deslocar-se ao hospital da Amadora para ir buscar a terapêutica anti-retrovírica. Embora essa viagem seja necessária para as análises de controlo da carga vírica e das células CD4, Miguel Villar entende que ter os anti-retrovirais no CAT «era mais um dado a favor», no sentido de encontrar uma solução onde o doente fosse «visto nas suas três patologias» no mesmo local e evitar que esta população, de difícil adesão à terapêutica, se perdesse.
«Ter de andar de um lado para o outro convida ao abandono», alertou o clínico, que defende a «toma de observação directa» para os antibacilares e para os anti-retrovíricos, como forma de prevenir as resistências.
Perigo do aumento da resistência
Pelo mesmo diapasão afinou António Diniz, que dirige a Unidade de Imunodeficiência do HPV, onde também se faz o tratamento integrado do toxicodependente com tuberculose e VIH/sida. No encontro com Jorge Sampaio, o especialista defendeu a criação de centros de terapêutica combinada.
Em conversa posterior com o «TM», António Diniz alertou: «Se isto não se fizer estamos a favorecer o aparecimento de condições para que estas pessoas não se tratem, o que representa um risco para a saúde delas próprias e para a comunidade.» Aumenta assim «o risco de transmissão de estirpes resistententes à terapêutica anti-retroviral e, em relação à tuberculose, aumenta o risco de transmissão à população, infectada ou não pelo VIH, de bacilos resistentes e multirresistente, sublinhou.
De qualquer forma, existem dificuldades na aplicação de projectos integrados de adesão. Há, sobretudo, necessidade de «vontade política», o que, segundo António Diniz, seria «a base para se trabalhar de forma organizada e não avulsa». Investimentos em recursos humanos e físicos são outra carência premente, da qual a unidade do HPV é um exemplo. É «preciso investimento em recursos físicos, na melhoria de instalações e em recursos humanos, pois as pessoas fazem isto à custa de uma sobrecarga enorme de trabalho», reconheceu.
No projecto desenvolvido pelo HPV, a pessoa pode tomar no hospital a terapêutica anti-retroviral e antibacilar ou levá-la para ser administrada num CAT ou CDP, desde que o local escolhido seja «mais cómodo para o doente». Para António Diniz, «o importante é que as pessoas vão buscar a medicação toda ao mesmo sítio e que o local onde fazem a administração seja comum», sempre sob orientação técnica mais diferenciada. «Não vejo outra forma de se tratar estas três doenças, uma delas crónica e para a vida toda e as outras duas de tratamento prolongado», rematou o médico.
Planos da TB e VIH/sida preparam documento
A importância da co-infecção e da multirresistência está patente no plano de acção para a tuberculose (TB) 2007/2008 da DGS, que as elegeu como prioridades. Nesse sentido, Fonseca Antunes, coordenador do Plano Nacional de Luta contra a Tuberculose (PNLCT), considera que este modelo de consulta integrada «é perfeitamente aplicável», desde que «os serviços se articulem nesse sentido».
O representante da DGS entende que «para além dos aspectos de natureza administrativa e de coordenação dos serviços, não há razão alguma para que não se ultrapassem as dificuldades».
Contudo, em declarações ao «TM», o especialista disse que o fundamental é o «esforço de consenso sobre o tratamento, pois existem práticas muito diferentes de abordar a co-infecção». Por isso, sob a égide da DGS, responsáveis do PNLCT e do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infecção VIH/Sida estão a preparar um documento de «suporte técnico e orientação estratégica» para a abordagem da tuberculose associada à sida, «no que diz respeito a profilaxia, diagnóstico e tratamento», adiantou.
«Há que fazer um esforço para este encontro, porque se tal não acontecer também não adianta haver consultas integradas, com pessoas de costas voltadas», explicou.
Coordenadores regionais e centros de referência
Ainda no âmbito do programa de acção bienal, estão a ser preparadas novidades. Fonseca Antunes revelou ao «TM» que na «tentativa de aproximar a gestão do documento e os prestadores de cuidados», vão ser nomeados coordenadores regionais para a tuberculose, por cada ARS.
O responsável adiantou que, no Norte, essa função caberá a Ana Maria Correia; no Centro, a Judite Maia; na região de Lisboa e Vale do Tejo, a Miguel Villar; no Alentejo, a Teresa Serra; e no Algarve, a Ulisses Brito.
As ARS estão igualmente a trabalhar com o CRTMR na criação de «equipas regionais» responsáveis pelo seguimento de todos os doentes com tuberculose multirresistente, desde a prestação de cuidados à gestão da problemática laboratorial, passando pela monitorização e pela aquisição de medicamentos de reserva de qualidade. «É importante não deixar o problema disperso, pois constitui uma sobrecarga tremenda para os serviços que não tenham uma rotina montada para estes casos», explicou Fonseca Antunes.
Já Miguel Villar, responsável pelo CRTMR, disse ao «TM» que estes centros deverão avançar no segundo trimestre deste ano. «Esperamos, entre Abril e Junho, ter instalados e a funcionar todos os centros de referência regional», rematou.
Revisão do PNLCT «não é prioridade»
Questionado pelo «TM» sobre a revisão do PNLCT de 1995, processo que está em curso desde o final de 2005, Francisco George, director-geral da Saúde, que em Junho passado chamou a si este programa, delegou em Fonseca Antunes explicações sobre a matéria.
O especialista não se mostrou «especialmente preocupado» com o atraso da revisão, pois «ninguém está à espera dela para desencadear os procedimentos mais correctos».
Fonseca Antunes disse mesmo que a revisão «não é uma prioridade», uma vez que tem sido realizado um «esforço muito grande de desenvolvimento de planos de acção», o qual será agora reforçado ao nível de cada região. «Essa é a grande mudança que se quer implementar, ou seja, não ter um figurino único para todo o País, mas sim planos de acção regionais», reforçou.
Incidência continua a descer
Os números da tuberculose em 2007 demonstram que a taxa de incidência continua a diminuir, embora ainda coloque Portugal nos lugares cimeiros da Europa Ocidental.
Antecipando a divulgação oficial dos dados, que deverá acontecer hoje, Dia Mundial da Tuberculose, Fonseca Antunes revelou que a incidência rondou os 25,7 casos por 100 mil habitantes (foram diagnosticados 2724 casos), representando um decréscimo de 14% em relação ao ano anterior, em que se atingiram os 29,9%. Todavia, ainda estamos longe da média de 17,8%, registada em 2006 na União Europeia.
No que respeita à co-infecção TB/VIH, representou 13,6% dos diagnósticos e a multirresistência atingiu 1,4%, sendo que entre 12% e 20% são casos de TBXDR.
Porto, com uma taxa de 38%, Lisboa, com 35,3%, e Setúbal, com 27,1%, continuam a ser os distritos mais atingidos pela tuberculose.
Tempo de Medicina 24.03.08
O projecto, que começou no segundo semestre de 2006, inclui a deslocação de especialistas do CDP e do Hospital de Fernando Fonseca para realizar consultas mensais de Pneumologia e Infecciologia no Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) da Amadora. No trabalho diário, os utentes vão ao CAT tomar a terapêutica de substituição à adicção e os antibacilares, mas, passado ano e meio, a equipa ainda não distribui a medicação anti-retrovírica. «O Hospital Amadora-Sintra não facilita muito a saída da medicação [anti-retrovírica] para o CAT», explicou posteriormente Miguel Villar ao «Tempo Medicina», acrescentando: «Em relação à tuberculose, temos um stock da medicação necessária para quando os doentes vão à consulta, o que ainda não conseguimos implementar em relação ao VIH.»
Assim, os toxicodependentes co-infectados continuam a deslocar-se ao hospital da Amadora para ir buscar a terapêutica anti-retrovírica. Embora essa viagem seja necessária para as análises de controlo da carga vírica e das células CD4, Miguel Villar entende que ter os anti-retrovirais no CAT «era mais um dado a favor», no sentido de encontrar uma solução onde o doente fosse «visto nas suas três patologias» no mesmo local e evitar que esta população, de difícil adesão à terapêutica, se perdesse.
«Ter de andar de um lado para o outro convida ao abandono», alertou o clínico, que defende a «toma de observação directa» para os antibacilares e para os anti-retrovíricos, como forma de prevenir as resistências.
Perigo do aumento da resistência
Pelo mesmo diapasão afinou António Diniz, que dirige a Unidade de Imunodeficiência do HPV, onde também se faz o tratamento integrado do toxicodependente com tuberculose e VIH/sida. No encontro com Jorge Sampaio, o especialista defendeu a criação de centros de terapêutica combinada.
Em conversa posterior com o «TM», António Diniz alertou: «Se isto não se fizer estamos a favorecer o aparecimento de condições para que estas pessoas não se tratem, o que representa um risco para a saúde delas próprias e para a comunidade.» Aumenta assim «o risco de transmissão de estirpes resistententes à terapêutica anti-retroviral e, em relação à tuberculose, aumenta o risco de transmissão à população, infectada ou não pelo VIH, de bacilos resistentes e multirresistente, sublinhou.
De qualquer forma, existem dificuldades na aplicação de projectos integrados de adesão. Há, sobretudo, necessidade de «vontade política», o que, segundo António Diniz, seria «a base para se trabalhar de forma organizada e não avulsa». Investimentos em recursos humanos e físicos são outra carência premente, da qual a unidade do HPV é um exemplo. É «preciso investimento em recursos físicos, na melhoria de instalações e em recursos humanos, pois as pessoas fazem isto à custa de uma sobrecarga enorme de trabalho», reconheceu.
No projecto desenvolvido pelo HPV, a pessoa pode tomar no hospital a terapêutica anti-retroviral e antibacilar ou levá-la para ser administrada num CAT ou CDP, desde que o local escolhido seja «mais cómodo para o doente». Para António Diniz, «o importante é que as pessoas vão buscar a medicação toda ao mesmo sítio e que o local onde fazem a administração seja comum», sempre sob orientação técnica mais diferenciada. «Não vejo outra forma de se tratar estas três doenças, uma delas crónica e para a vida toda e as outras duas de tratamento prolongado», rematou o médico.
Planos da TB e VIH/sida preparam documento
A importância da co-infecção e da multirresistência está patente no plano de acção para a tuberculose (TB) 2007/2008 da DGS, que as elegeu como prioridades. Nesse sentido, Fonseca Antunes, coordenador do Plano Nacional de Luta contra a Tuberculose (PNLCT), considera que este modelo de consulta integrada «é perfeitamente aplicável», desde que «os serviços se articulem nesse sentido».
O representante da DGS entende que «para além dos aspectos de natureza administrativa e de coordenação dos serviços, não há razão alguma para que não se ultrapassem as dificuldades».
Contudo, em declarações ao «TM», o especialista disse que o fundamental é o «esforço de consenso sobre o tratamento, pois existem práticas muito diferentes de abordar a co-infecção». Por isso, sob a égide da DGS, responsáveis do PNLCT e do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infecção VIH/Sida estão a preparar um documento de «suporte técnico e orientação estratégica» para a abordagem da tuberculose associada à sida, «no que diz respeito a profilaxia, diagnóstico e tratamento», adiantou.
«Há que fazer um esforço para este encontro, porque se tal não acontecer também não adianta haver consultas integradas, com pessoas de costas voltadas», explicou.
Coordenadores regionais e centros de referência
Ainda no âmbito do programa de acção bienal, estão a ser preparadas novidades. Fonseca Antunes revelou ao «TM» que na «tentativa de aproximar a gestão do documento e os prestadores de cuidados», vão ser nomeados coordenadores regionais para a tuberculose, por cada ARS.
O responsável adiantou que, no Norte, essa função caberá a Ana Maria Correia; no Centro, a Judite Maia; na região de Lisboa e Vale do Tejo, a Miguel Villar; no Alentejo, a Teresa Serra; e no Algarve, a Ulisses Brito.
As ARS estão igualmente a trabalhar com o CRTMR na criação de «equipas regionais» responsáveis pelo seguimento de todos os doentes com tuberculose multirresistente, desde a prestação de cuidados à gestão da problemática laboratorial, passando pela monitorização e pela aquisição de medicamentos de reserva de qualidade. «É importante não deixar o problema disperso, pois constitui uma sobrecarga tremenda para os serviços que não tenham uma rotina montada para estes casos», explicou Fonseca Antunes.
Já Miguel Villar, responsável pelo CRTMR, disse ao «TM» que estes centros deverão avançar no segundo trimestre deste ano. «Esperamos, entre Abril e Junho, ter instalados e a funcionar todos os centros de referência regional», rematou.
Revisão do PNLCT «não é prioridade»
Questionado pelo «TM» sobre a revisão do PNLCT de 1995, processo que está em curso desde o final de 2005, Francisco George, director-geral da Saúde, que em Junho passado chamou a si este programa, delegou em Fonseca Antunes explicações sobre a matéria.
O especialista não se mostrou «especialmente preocupado» com o atraso da revisão, pois «ninguém está à espera dela para desencadear os procedimentos mais correctos».
Fonseca Antunes disse mesmo que a revisão «não é uma prioridade», uma vez que tem sido realizado um «esforço muito grande de desenvolvimento de planos de acção», o qual será agora reforçado ao nível de cada região. «Essa é a grande mudança que se quer implementar, ou seja, não ter um figurino único para todo o País, mas sim planos de acção regionais», reforçou.
Incidência continua a descer
Os números da tuberculose em 2007 demonstram que a taxa de incidência continua a diminuir, embora ainda coloque Portugal nos lugares cimeiros da Europa Ocidental.
Antecipando a divulgação oficial dos dados, que deverá acontecer hoje, Dia Mundial da Tuberculose, Fonseca Antunes revelou que a incidência rondou os 25,7 casos por 100 mil habitantes (foram diagnosticados 2724 casos), representando um decréscimo de 14% em relação ao ano anterior, em que se atingiram os 29,9%. Todavia, ainda estamos longe da média de 17,8%, registada em 2006 na União Europeia.
No que respeita à co-infecção TB/VIH, representou 13,6% dos diagnósticos e a multirresistência atingiu 1,4%, sendo que entre 12% e 20% são casos de TBXDR.
Porto, com uma taxa de 38%, Lisboa, com 35,3%, e Setúbal, com 27,1%, continuam a ser os distritos mais atingidos pela tuberculose.
Tempo de Medicina 24.03.08
<< Home