O Fim do Ensino Médico
Além de toda a crítica argumentativa que se está a gerar em torno da política para a saúde do dr. Correia de Campos, há nela um outro aspecto que gostava de trazer ao espaço público de debate e reflexão. Como se tem dito, o sr. ministro encetou por um programa acrítico de suposta renovação do Serviço Nacional de Saúde, que se pauta pelo novo ídolo da lógica socialista: o deus número, que naturalmente habita templos privatizados. Não se pode esperar outra coisa que não a gradual dissolução do SNS, uma vez que, sendo este "tendencialmente gratuito", há uma clara violação do princípio lógico da não contradição com a vigência actual da idolatria do resultado-número... (...)
Começam a ser conhecidos, dia a dia, e como publicado na edição de ontem deste jornal, mais e mais casos de médicos que abandonam o sector público para se dedicarem exclusivamente ao sector privado. Muitos deles são os melhores professores de outros médicos. Primam pela excelência e partilham o seu saber de forma gratuita. (...)
Dou o meu caso pessoal: entrei muito recentemente para o internato de especialidade e o meu orientador fala-me diariamente da séria possibilidade de se demitir do serviço, de pedir licença sem vencimento ou de se reformar antecipadamente. Se ele abandonar a minha formação, terei de arranjar um novo orientador. Se a esse novo suceder o mesmo, terei de arranjar outro, e assim sucessivamente. (Abstenho-me de explorar aqui um previsível decréscimo da capacidade científica e pedagógica de orientador para orientador, uma vez que normalmente são os melhores os escolhidos para orientar estágios.) Que qualidade tem um ensino médico desta natureza? Um ensino descontinuado, fracturado, avulso, como a própria política que está na sua causa. Que médicos serão o subproduto desta política?
Há umas semanas, o prof. António Caeiro, e como foi reiterado há dias por Eduardo do Prado Coelho, anunciava o "fim da Filosofia", que podemos agradecer à sra. ministra da Educação. Será que hoje se pode anunciar o "fim da Medicina", agradecendo ao sr. ministro da Saúde? Serão estas bandeiras dramáticas os legados do Governo actual?
Alexandre Camões, correio do leitor, JP 30.04.07
Começam a ser conhecidos, dia a dia, e como publicado na edição de ontem deste jornal, mais e mais casos de médicos que abandonam o sector público para se dedicarem exclusivamente ao sector privado. Muitos deles são os melhores professores de outros médicos. Primam pela excelência e partilham o seu saber de forma gratuita. (...)
Dou o meu caso pessoal: entrei muito recentemente para o internato de especialidade e o meu orientador fala-me diariamente da séria possibilidade de se demitir do serviço, de pedir licença sem vencimento ou de se reformar antecipadamente. Se ele abandonar a minha formação, terei de arranjar um novo orientador. Se a esse novo suceder o mesmo, terei de arranjar outro, e assim sucessivamente. (Abstenho-me de explorar aqui um previsível decréscimo da capacidade científica e pedagógica de orientador para orientador, uma vez que normalmente são os melhores os escolhidos para orientar estágios.) Que qualidade tem um ensino médico desta natureza? Um ensino descontinuado, fracturado, avulso, como a própria política que está na sua causa. Que médicos serão o subproduto desta política?
Há umas semanas, o prof. António Caeiro, e como foi reiterado há dias por Eduardo do Prado Coelho, anunciava o "fim da Filosofia", que podemos agradecer à sra. ministra da Educação. Será que hoje se pode anunciar o "fim da Medicina", agradecendo ao sr. ministro da Saúde? Serão estas bandeiras dramáticas os legados do Governo actual?
Alexandre Camões, correio do leitor, JP 30.04.07
<< Home