CC, Entrevista ao Expresso
A pressão das últimas semanas tornou o ministro da Saúde mais vulnerável. Na entrevista ao Expresso, Correia de Campos confundiu Jorge Luís Borges com Mark Twain, irritou-se, recusou falar de “pormenores” e garantiu que, na crise das urgências, José Sócrates só o aconselhou a lidar com os «media». Assegurou que está no Governo para ficar até ao final da legislatura. E deixou ainda uma indirecta para Cavaco Silva: “Este Governo fez mais em dois anos do que outros em dez”.
SE: Por que recuou neste processo das Urgências?
CC: Dos seis protocolos que assinámos, só num deles, Macedo de Cavaleiros, é que adoptámos uma posição diferente da comissão técnica: criámos uma Urgência Básica que não existia. De resto, cumprimos as recomendações com a integração em centros hospitalares, que vão tomar a decisão no futuro. Mas, mesmo nesses casos, os médicos de família não vão participar nas urgências.
A imagem que passou para a opinião pública foi que a assinatura destes protocolos só aconteceu por pressão das manifestações populares.
Não é verdade, estava a preparar, linha a linha, os protocolos. Todos esses presidentes tiveram, inicialmente, conversas com a secretária de Estado da Saúde – alguns tiveram uma primeira conversa comigo – e falaram mais do que uma vez com os presidentes das ARS.
Porque é que houve autarcas que não assinaram os protocolos?
Estão convencidos de que podem obter mais benefícios dessa forma e que têm uma urgência.
Não há uma urgência em Peso da Régua, o que há é um Serviço de Atendimento Permanente (SAP) feito por pessoas que nem sequer são médicos ali. Vêm de fora, de uma empresa que os manda lá fazer horas nocturnas, e isso é uma falsa segurança. Os presidentes de Câmara têm todos acesso ao meu gabinete. Agora, não me falem é sob pressão. Não venham falar comigo com uma manifestação marcada para o dia seguinte e a dizer que “ou caio ou morro”.
Sente que tem total confiança do primeiro-ministro para conduzir esta reforma?
Ora, ora…
Foi chamado a São Bento na véspera de assinar os protocolos…
Não fui chamado. Tenho reuniões regulares com o primeiro ministro.
Mas foi noticiado e até reconhecido por uma fonte do seu gabinete.
Não. A conversa com o primeiro ministro estava marcada há duas semanas. O primeiro ministro tem conversas regulares com os ministros e essas conversas têm uma agenda, que é reservada.
Não foi para falar das urgências?
Não vou dizer do que tratámos.
E houve alguma intervenção de primeiro ministro neste processo?
Este processo foi desenhado por mim de A a Z e fiu sempre mantendo o primeiro ministro informado. O primeiro ministro aconselhou-me, muitas vezes, sobre a forma como contactar com os media.
Os seus camarada socialistas acusam-no de ter errado ao divulgar o relatório antes de o debater com as populações.
Os meus camaradas socialistas não me acusam de nada. Duas ou três pessoas emitiram opiniões. Portanto, não generalize.
Ainda não respondeu à pergunta se sente que tem condições políticas e a confiança do primeiro ministro e do PS para concluir esta reforma.
Posso comentar a sua pergunta? É uma pergunta que não tem sentido nenhum.
Faz sentido porque tem autarcas, deputados e dirigentes do PS a criticá-lo e foi a São Bento falar com o primeiro ministro.
Olhem para os pontos nas sondagens. O Governo fez mais em dois anos do que, provavelmente, outros Governos em dez. Acham que algum Governo vai fraccionar-se com esta quota de popularidade? Já agora deixe-me aplicar o velho aforismo de Jorge Luís Borges: “Quero informar que são completamente prematuras todas as notícias sobre a minha morte”.
Conta ser ministro da Saúde até ao fim da legislatura?
Esse é o compromisso que tenho com o primeiro ministro. É evidente que podem acontecer acidentes de percurso. Temos que fazer ainda algumas coisas que são impopulares.
Sente que tem tido a confiança absoluta do PS?
Quando não a tenho procuro-a. Sou provavelmente a pessoa que mais vezes foi falar com o grupo parlamentar.
Como ouviu as recomendações do Presidente da República ao dizer que as políticas de Saúde devem ser “bem fundamentadas”?
Não posso estar mais de acordo com essas recomendações.
Existe algum estudo sobre o impacto do fecho de algumas urgências?
Não há urgências a fechar.
Ai não? Então o que é que vai acontecer à urgência do Hospital Curry Cabral, em Lisboa?
Estamos fartos de demonstrar que aquilo a que algumas pessoas chamam urgências, efectivamente não são. O que há são urgências a abrir.
O relatório da comissão técnica recomenda o encerramento da urgência do Curry Cabral.
Nunca me passou pela cabeça que a ortopedia do Curry Cabral fechasse. Sempre pensei que pudesse ficar aberta até às dez da noite e depois uma “pool” de ortopedistas pudesse reforçar a traumatologia pesada de Santa Maria. Estamos a caminho de relançar o processo de Loures e vai começar a negociação do vencedor único de Cascais, tudo começa ater outro desenvolvimento na cidade de Lisboa.
Quando os técnicos lhe apresentaram esta rede de urgências disse que o plano era bom mas que não havia dinheiro para avançar logo.
É por isso que digo que a implantação é feita ao longo deste ano e espero que esteja terminado no primeiro semestre do próximo ano.
E onde vai buscar o dinheiro?
Às poupanças que temos vindo a fazer. Em 2006 conseguimos gastar melhor. Conseguimos pôr os medicamentos comprados pelos hospitais a crescer apenas 4%.
Tem um plano para encerrar os SAP…
Não tenho planos de encerramento
Então o que é que vai acontecer nos SAP?
Requalificação dos serviços, e não me fale mais nisso.
As unidades de saúde familiar servem actualmente quantos portugueses?
As 70 candidaturas aprovadas representam um ganho de 90 mil novos utentes com médico de família. Esta semana, vamos ter a aprovação do novo modelo do sistema de incentivos. Os médicos que entenderem não se integrar vão ter um regime de trabalho alargado nos centros de saúde.
Outro assunto muito falado são as farmácias privadas nos hospitais. Vai ou não ser possível comprar anti-retrovirais e medicamentos para o cancro?
Não só nessas. Estamos mesmo muito empenhados em cumprir essa parte dos compromissos com a ANF, apesar de ser muito criticado por alguns profissionais do sector.
Semanário Expresso (n.º 1782 de 03.03.07), "O meu compromisso é até ao fim da legislatura" - Nuno Saraiva e Vera Lúcia Arreigoso.
SE: Por que recuou neste processo das Urgências?
CC: Dos seis protocolos que assinámos, só num deles, Macedo de Cavaleiros, é que adoptámos uma posição diferente da comissão técnica: criámos uma Urgência Básica que não existia. De resto, cumprimos as recomendações com a integração em centros hospitalares, que vão tomar a decisão no futuro. Mas, mesmo nesses casos, os médicos de família não vão participar nas urgências.
A imagem que passou para a opinião pública foi que a assinatura destes protocolos só aconteceu por pressão das manifestações populares.
Não é verdade, estava a preparar, linha a linha, os protocolos. Todos esses presidentes tiveram, inicialmente, conversas com a secretária de Estado da Saúde – alguns tiveram uma primeira conversa comigo – e falaram mais do que uma vez com os presidentes das ARS.
Porque é que houve autarcas que não assinaram os protocolos?
Estão convencidos de que podem obter mais benefícios dessa forma e que têm uma urgência.
Não há uma urgência em Peso da Régua, o que há é um Serviço de Atendimento Permanente (SAP) feito por pessoas que nem sequer são médicos ali. Vêm de fora, de uma empresa que os manda lá fazer horas nocturnas, e isso é uma falsa segurança. Os presidentes de Câmara têm todos acesso ao meu gabinete. Agora, não me falem é sob pressão. Não venham falar comigo com uma manifestação marcada para o dia seguinte e a dizer que “ou caio ou morro”.
Sente que tem total confiança do primeiro-ministro para conduzir esta reforma?
Ora, ora…
Foi chamado a São Bento na véspera de assinar os protocolos…
Não fui chamado. Tenho reuniões regulares com o primeiro ministro.
Mas foi noticiado e até reconhecido por uma fonte do seu gabinete.
Não. A conversa com o primeiro ministro estava marcada há duas semanas. O primeiro ministro tem conversas regulares com os ministros e essas conversas têm uma agenda, que é reservada.
Não foi para falar das urgências?
Não vou dizer do que tratámos.
E houve alguma intervenção de primeiro ministro neste processo?
Este processo foi desenhado por mim de A a Z e fiu sempre mantendo o primeiro ministro informado. O primeiro ministro aconselhou-me, muitas vezes, sobre a forma como contactar com os media.
Os seus camarada socialistas acusam-no de ter errado ao divulgar o relatório antes de o debater com as populações.
Os meus camaradas socialistas não me acusam de nada. Duas ou três pessoas emitiram opiniões. Portanto, não generalize.
Ainda não respondeu à pergunta se sente que tem condições políticas e a confiança do primeiro ministro e do PS para concluir esta reforma.
Posso comentar a sua pergunta? É uma pergunta que não tem sentido nenhum.
Faz sentido porque tem autarcas, deputados e dirigentes do PS a criticá-lo e foi a São Bento falar com o primeiro ministro.
Olhem para os pontos nas sondagens. O Governo fez mais em dois anos do que, provavelmente, outros Governos em dez. Acham que algum Governo vai fraccionar-se com esta quota de popularidade? Já agora deixe-me aplicar o velho aforismo de Jorge Luís Borges: “Quero informar que são completamente prematuras todas as notícias sobre a minha morte”.
Conta ser ministro da Saúde até ao fim da legislatura?
Esse é o compromisso que tenho com o primeiro ministro. É evidente que podem acontecer acidentes de percurso. Temos que fazer ainda algumas coisas que são impopulares.
Sente que tem tido a confiança absoluta do PS?
Quando não a tenho procuro-a. Sou provavelmente a pessoa que mais vezes foi falar com o grupo parlamentar.
Como ouviu as recomendações do Presidente da República ao dizer que as políticas de Saúde devem ser “bem fundamentadas”?
Não posso estar mais de acordo com essas recomendações.
Existe algum estudo sobre o impacto do fecho de algumas urgências?
Não há urgências a fechar.
Ai não? Então o que é que vai acontecer à urgência do Hospital Curry Cabral, em Lisboa?
Estamos fartos de demonstrar que aquilo a que algumas pessoas chamam urgências, efectivamente não são. O que há são urgências a abrir.
O relatório da comissão técnica recomenda o encerramento da urgência do Curry Cabral.
Nunca me passou pela cabeça que a ortopedia do Curry Cabral fechasse. Sempre pensei que pudesse ficar aberta até às dez da noite e depois uma “pool” de ortopedistas pudesse reforçar a traumatologia pesada de Santa Maria. Estamos a caminho de relançar o processo de Loures e vai começar a negociação do vencedor único de Cascais, tudo começa ater outro desenvolvimento na cidade de Lisboa.
Quando os técnicos lhe apresentaram esta rede de urgências disse que o plano era bom mas que não havia dinheiro para avançar logo.
É por isso que digo que a implantação é feita ao longo deste ano e espero que esteja terminado no primeiro semestre do próximo ano.
E onde vai buscar o dinheiro?
Às poupanças que temos vindo a fazer. Em 2006 conseguimos gastar melhor. Conseguimos pôr os medicamentos comprados pelos hospitais a crescer apenas 4%.
Tem um plano para encerrar os SAP…
Não tenho planos de encerramento
Então o que é que vai acontecer nos SAP?
Requalificação dos serviços, e não me fale mais nisso.
As unidades de saúde familiar servem actualmente quantos portugueses?
As 70 candidaturas aprovadas representam um ganho de 90 mil novos utentes com médico de família. Esta semana, vamos ter a aprovação do novo modelo do sistema de incentivos. Os médicos que entenderem não se integrar vão ter um regime de trabalho alargado nos centros de saúde.
Outro assunto muito falado são as farmácias privadas nos hospitais. Vai ou não ser possível comprar anti-retrovirais e medicamentos para o cancro?
Não só nessas. Estamos mesmo muito empenhados em cumprir essa parte dos compromissos com a ANF, apesar de ser muito criticado por alguns profissionais do sector.
Semanário Expresso (n.º 1782 de 03.03.07), "O meu compromisso é até ao fim da legislatura" - Nuno Saraiva e Vera Lúcia Arreigoso.
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