Cuidados Saúde Primários
Regresso às origens
Há que regressar ao conceito de medicina de família, num novo modelo de funcionamento: as Unidades de Saúde Familiar
Encaminhada a reforma da requalificação das Urgências, está na ordem do dia a reforma dos serviços de atendimento permanente (SAP) no período nocturno. O atendimento em SAP das 24h00 às 8h00 reflecte, em geral, uma baixa procura. No Norte e no Centro, as médias de atendimentos neste período estão muito aquém da média nacional: 2,4 e 2,6 consultas por noite, respectivamente. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, a média é de 6,6. No Alentejo, de 4,8 e, no Algarve, de 16,2. No litoral, em particular nas grandes áreas metropolitanas, o fenómeno é inverso do interior: faltam médicos de família e os doentes recorrem para lá do necessário às Urgências dos grandes hospitais.
A solução para os Cuidados de Saúde Primários é regressar ao verdadeiro conceito de medicina de família. Avançar com um novo modelo de funcionamento: as Unidades de Saúde Familiar (USF), que assentam em equipas de médicos, enfermeiros e pessoal administrativo, voluntariamente constituídas, que funcionam de forma integrada, intersubstituindo-se nas ausências e tendo a seu cargo uma população mais vasta.
Nos locais onde já funcionam, as USF mostram bons resultados na redução da procura de consultas fora do horário normal; na maior personalização; no menor tempo de espera pelo atendimento; na maior satisfação de utentes e profissionais de saúde; e até no menor dispêndio em medicamentos e meios de diagnóstico por redução de redundâncias, sobreposições e variações na prescrição.
A adesão dos profissionais ao novo modelo tem sido inversamente proporcional à concentração de médicos: é elevada onde os profissionais são escassos e mais reduzida onde são abundantes e retribuídos de forma desproporcionada em relação ao número de utentes observados.
Ao mesmo tempo que se requalificam as Urgências e se reforçam os meios móveis de emergência pré-hospitalar e se cria o atendimento telefónico (Saúde 24) para aconselhamento e encaminhamento do cidadão, a mudança só será possível substituindo a falsa segurança dos 79 SAP nocturnos pela possibilidade de acesso efectivo ao médico de família durante o dia.
Manter as coisas como estão tem contra si a ruptura a prazo, pelo envelhecimento dos médicos, cada vez maior no grupo etário 50-54 anos, à beira da indisponibilidade para trabalho nocturno. Se nada mudarmos, as lacunas serão cobertas com médicos sem ligação à comunidade. Os centros de saúde continuarão com demoras no atendimento. Sobretudo na periferia das grandes cidades, será quase impossível acabar com o inaceitável número de utentes sem médico de família.
Não é este o panorama que desejamos. Será uma fatalidade se não agirmos. É por isso que a reforma do trabalho nos centros de saúde é tão importante como a requalificação das Urgências, ou como o foi, em 2006, a concentração das salas de partos. Maior qualidade, melhor distribuição de recursos, melhor serviço aos utentes só se conseguem com Unidades de Saúde Familiar e reorganização dos horários regulares de atendimento pelos médicos de família dos cidadãos. Temos de os retirar de tarefas que não pertencem ao seu conteúdo funcional, como trabalhar em Urgências de hospitais ou prestar serviço nocturno em SAP. Para os reintegrar na tarefa nobre de atenderem, a tempo e horas, os doentes que neles confiaram, inscrevendo-se na sua lista.
António Correia de Campos, JP 27.03.07
Há que regressar ao conceito de medicina de família, num novo modelo de funcionamento: as Unidades de Saúde Familiar
Encaminhada a reforma da requalificação das Urgências, está na ordem do dia a reforma dos serviços de atendimento permanente (SAP) no período nocturno. O atendimento em SAP das 24h00 às 8h00 reflecte, em geral, uma baixa procura. No Norte e no Centro, as médias de atendimentos neste período estão muito aquém da média nacional: 2,4 e 2,6 consultas por noite, respectivamente. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, a média é de 6,6. No Alentejo, de 4,8 e, no Algarve, de 16,2. No litoral, em particular nas grandes áreas metropolitanas, o fenómeno é inverso do interior: faltam médicos de família e os doentes recorrem para lá do necessário às Urgências dos grandes hospitais.
A solução para os Cuidados de Saúde Primários é regressar ao verdadeiro conceito de medicina de família. Avançar com um novo modelo de funcionamento: as Unidades de Saúde Familiar (USF), que assentam em equipas de médicos, enfermeiros e pessoal administrativo, voluntariamente constituídas, que funcionam de forma integrada, intersubstituindo-se nas ausências e tendo a seu cargo uma população mais vasta.
Nos locais onde já funcionam, as USF mostram bons resultados na redução da procura de consultas fora do horário normal; na maior personalização; no menor tempo de espera pelo atendimento; na maior satisfação de utentes e profissionais de saúde; e até no menor dispêndio em medicamentos e meios de diagnóstico por redução de redundâncias, sobreposições e variações na prescrição.
A adesão dos profissionais ao novo modelo tem sido inversamente proporcional à concentração de médicos: é elevada onde os profissionais são escassos e mais reduzida onde são abundantes e retribuídos de forma desproporcionada em relação ao número de utentes observados.
Ao mesmo tempo que se requalificam as Urgências e se reforçam os meios móveis de emergência pré-hospitalar e se cria o atendimento telefónico (Saúde 24) para aconselhamento e encaminhamento do cidadão, a mudança só será possível substituindo a falsa segurança dos 79 SAP nocturnos pela possibilidade de acesso efectivo ao médico de família durante o dia.
Manter as coisas como estão tem contra si a ruptura a prazo, pelo envelhecimento dos médicos, cada vez maior no grupo etário 50-54 anos, à beira da indisponibilidade para trabalho nocturno. Se nada mudarmos, as lacunas serão cobertas com médicos sem ligação à comunidade. Os centros de saúde continuarão com demoras no atendimento. Sobretudo na periferia das grandes cidades, será quase impossível acabar com o inaceitável número de utentes sem médico de família.
Não é este o panorama que desejamos. Será uma fatalidade se não agirmos. É por isso que a reforma do trabalho nos centros de saúde é tão importante como a requalificação das Urgências, ou como o foi, em 2006, a concentração das salas de partos. Maior qualidade, melhor distribuição de recursos, melhor serviço aos utentes só se conseguem com Unidades de Saúde Familiar e reorganização dos horários regulares de atendimento pelos médicos de família dos cidadãos. Temos de os retirar de tarefas que não pertencem ao seu conteúdo funcional, como trabalhar em Urgências de hospitais ou prestar serviço nocturno em SAP. Para os reintegrar na tarefa nobre de atenderem, a tempo e horas, os doentes que neles confiaram, inscrevendo-se na sua lista.
António Correia de Campos, JP 27.03.07
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