sábado, setembro 13, 2008

Polémica ? Nem tanto. Com quem ?

Saberemos?

Os tempos que correm têm peculiaridades imprevisíveis há alguns anos... Trago um exemplo.
«SaudeSA» é um sítio de internet em que «alguém» ou «alguéns», anónimos, habitualmente assinando «Xavier», comenta(m) factos ou opiniões sobre o sector. É leitor assíduo do Jornal que tenho o gosto de dirigir, o que é bom, claro.
Algum problema em haver mais uma opinião sobre o sector? Nenhuma, bem pelo contrário. Num país e num sector em que o verdadeiro debate é tão pouco... todas as opiniões podem ajudar. Qual o problema, então? O próprio anonimato.
Há dias, foi ali escrito o seguinte, sob o título «Deputados dão nota negativa» :
«Os deputados Maria Antónia Almeida Santos (PS), Regina Bastos (PSD), Bernardino Soares (PCP), João Semedo (BE), Teresa Caeiro (CDS/PP) e Francisco Madeira Lopes (PEV), com excepção da primeira (PS), dão nota negativa à actuação da ministra Ana Jorge. link
Esta avaliação vale o que vale. E outra coisa não seria de esperar de deputados da oposição.
O que é digno de nota é o editorial do director do TM, que, a páginas tantas, sobre esta matéria, escreve o seguinte:
“Regressados de férias, disponíveis para o olhar desapaixonado que procuramos ter sobre o sector da Saúde, vemos realmente diferenças, no estilo e no modo de fazer, que julgamos relevantes. Não por acaso, os dossiês «difíceis», como a baixa de preços de medicamentos e análises clínicas, a reestruturação das carreiras médicas e de enfermagem, estão nas mãos do secretário de Estado Ajunto e da Saúde; também não por acaso, aquelas baixas de preços foram anunciadas sem prévia audição dos parceiros interessados, ao contrário do que sucedera em situações semelhantes anteriores; por acaso não devem ser ainda as substituições na direcção de estruturas do Ministério da Saúde, como aconteceu na ARSLVT e se perspectiva noutras administrações regionais… haja quem se disponibilize para aceitar os cargos.
Em que medida estas diferenças reais, entre outras, se vão reflectir no terreno, isto é, nos centros de saúde e nos hospitais? Só o tempo o dirá." (TM 01.09.08)
Sobre os dossiês difíceis...
Então não é verdade que estes (com excepção dos medicamentos e análises clínicas, que sempre foram tuteladas por FR) estavam nas mãos da anterior secretária de estado, Cármen Pignatelli, e que fazem parte da área de delegação de competências do secretário de estado?
Quanto à medida correctiva, julgo ter sido lançada tardiamente sem dar tempo de consultar os parceiros.
Entende o dr. José Antunes que a liderança afrouxou, as coisas ameaçam resvalar e, por isso, o futuro é incerto.
Outros dados positivos levam-nos a não ser tão pessimistas. Em primeiro lugar, as Contas da Saúde (relatório da DGO). Depois a ministra da saúde, avisadamente, colocou a presidir o conselho consultivo da MCSP o professor Constantino Sakellarides. A reforma dos CSP continua a avançar, mais devagar do que seria desejável, mas com boas indicações de conseguir levar a água ao moinho.»

Ou seja, o articulista concorda (tinhamos dito o mesmo no Editorial citado) connosco (comigo em particular) com a previsibilidade e a não-surpresa dos comentários expressos pelos deputados. É óptimo estarmos de acordo no óbvio...
Começamos, pelos vistos, a discordar quanto aos «dossiês difíceis». Esclarecemos: De facto, a circunstância de Francisco Ramos ser agora Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, manteve com ele as áreas de coordenação operacional que já tinha, e «passou para as suas mãos» vários outros dossiês que eram de Carmen Pignatelli. O nosso ponto não era esse, era antes o de que a «expressão pública» das medidas (nomeadamente das «problemáticas») tomadas no âmbito dos mesmos era, antes, partilhada pelos dois secretários de Estado, pelo anterior ministro e, mesmo, uma vez ou outra, pelo Primeiro-Ministro (exemplo: a segunda baixa de preços dos medicamentos, para 2007, anunciada em Outubro de 2006 aos parceiros pelo próprio José Sócrates). Esta escolha, caro «Xavier», não é por acaso.
Assim, já estamos de acordo?
Muito mais interessante é a circunstância de o mesmo articulista discordar da nossa impressão de que vários pormenores da maior importância estão a «disfuncionar» na concretização da política de Saúde deste Governo. Deixemos então ainda mais claro que, sim, senhor(es), pensamos que a liderança afrouxou e, em consequência, (por défice de cobertura política) as lideranças intermédias «afrouxaram» e que tal se nota já... e mais se notará dentro em breve...
Mas achamos mais.
É para nós claro que muitos dos clássicos «mal-entendidos» do sector (por exemplo, o défice de alguns recursos humanos e excesso de outros; por outro lado, uma crónica incapacidade de gerir a tensão «criação de expectactivas/capacidade real de as satisfazer», para ficarmos apenas por dois casos) foram ignorados mais uma vez por esta governação que, optando por uma lógica de «para a frente é que é o caminho», vai, ou já está, a «pagar» por isso...
Temos também a convicção de que se nota cada vez mais uma contradição total entre a afirmação permanente de disponibilidade para analisar os detalhes das alterações, criar entendimentos, assinar protocolos, etc., e, depois, a prática de «medidas radicais» que constituem desmentidos frontais da fórmula enunciada. A descrença que estas evoluções geram tem, na prática, uma influência nos resultados que se revelará dramática. A incoerência entre o discurso e a prática da parte do poder nunca é boa ideia, visto que a partir daí se gera um estado de desconfiança, que, por sua vez, não é nunca amigo do progresso.
Mais ainda. Com todo o respeito intelectual que nos merecem personalidades como Constantino Sakellarides, somos descrentes quanto à possibilidade de aquele (ou outra qualquer personalidade) ser portador de um eventual «toque de Midas».
No caso da reforma em curso dos Cuidados de Saúde Primários(CSP), o adiamento, aparentemente sine die, da entrada em funcionamento das «gestões de proximidade» (ACES) ou de um sistema informático decente que permita a gestão e análise do sistema fazem um «mal» sem retorno. Não há, neste contexto, personalidade que valha às reformas. É essa a nossa convicção.
Só para terminar: quando «Xavier», do «SaudeSA», escreve «A reforma dos CSP, continua a avançar, mais devagar do que seria desejável, mas com boas indicações de conseguir levar a água ao moínho», apetece-nos parafrasear «o outro», que dizia «Olhe que não, doutor, olhe que não», mas ficamo-nos por um mais discreto «Tem a certeza, doutor?». Mesmo a terminar, fica uma sugestão, caso seja verdade a especulação corrente no sector de que o nosso «Xavier» será um académico de uma das nossas escolas nacionais de saúde: que tal irmos à realidade buscar evidência, ao invés de nos mantermos permanentemente citando-nos uns aos outros nos círculos supostamente privilegiados, mas realmente redutores porque não «estudiosos dos factos» e apenas «debitadores de matérias» como são as escolas?
Nós, no «Tempo Medicina», usando apenas aquilo que nos compete e sabemos fazer -- jornalismo -- trazemos, por exemplo na edição de 08-09-08, algumas peças que mostram alguns factos que questionam tanto optimismo. Implícito, caro «Xavier», não leia apenas as zonas de opinião dos jornais... De resto, vale a pena dizer -- juntando alguma «provocação construtiva» -- que alguma da Imprensa médica, muita da Imprensa económica e mesmo -- apesar da falta, aí, de mais jornalistas especializados -- da chamada Imprensa generalista tem contribuído mais para o genuíno e necessário debate no sector, através da evidência de alguns factos, do que algumas das escolas especializadas... Felizmente para a Imprensa, infelizmente para o País, acrescentamos, visto que somos ferverosos defensores da absoluta necessidade, para os países, da existência de um forte e real estudo universitário da realidade socioeconómica e política, neste como noutros campos.
Escrito isto, volto ao meu ponto. De quem estive eu a discordar? Por mim, e de acordo com as minhas convicções sobre o que está certo e errado, deixo o meu nome explícito no cimo desta opinião e o meu «mail-adress» aqui por baixo...
José M. Antunes, TM 08.09.08

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