quinta-feira, maio 19, 2005

Ipatimup Acreditado

Ipatimup conquista acreditação do Colégio Americano de Patologia
Andréia Azevedo Soares
Só três laboratórios têm distinção na europa
Certificado atesta excelência em diagnósticos por biópsia ou citologia

O Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) conquistou há uma semana a acreditação do Colégio Americano de Patologistas. Esta distinção é obrigatória em todos os laboratórios dos Estados Unidos e, até agora, só havia sido atribuída a duas instituições estrangeiras - uma na Holanda e outra na Alemanha.
Portugal passa assim a fazer parte de um grupo selecto de unidades de diagnóstico que, através de normas rigorosas de organização e segurança, procura reduzir ao máximo os erros médicos, adiantou ao PÚBLICO Fernando Schmitt, director do laboratório de Patologia Cirúrgica e Citopatologia do Ipatimup.
O instituto portuense realiza por ano cerca de 12 mil diagnósticos de várias patologias por biópsia ou citologia, servindo assim não só estabelecimentos de saúde públicos ou privados de Portugal, mas também do estrangeiro. "Países como a Suíça, o Brasil e a Espanha enviam-nos com frequência casos complicados para análise. Esperamos que esta acreditação nos permita aumentar a capacidade de diagnóstico, mas, sobretudo, que represente um estímulo para a melhoria dos serviços de Anatomia Patológica praticados em Portugal", almeja Fernando Schmitt.
O processo de acreditação teve início há dois anos e, recorda Fernando Schmitt, "não foi nada fácil". É que o modelo americano de excelência está ancorado numa série de procedimentos-padrão e, para receber a acreditação, "não basta dizer ao inspector que fazemos, tempos que prová-lo com um papel", brinca o especialista.
Ao candidatarem-se voluntariamente à distinção, uma iniciativa co-financiada pelo programa comunitário Saúde XXI, estes serviços do Ipatimup passaram por uma reestruturação desde os trâmites administrativos até à revisão sistemática dos meios auxiliares de diagnóstico. Tudo para evitar que haja um equívoco sequer - o que, nestas situações, pode representar o atraso no tratamento (ou mesmo a vida) de um paciente com cancro.
A unidade de diagnóstico do Ipatimup sempre teve por hábito, por exemplo, ligar aos pacientes na véspera de uma marcação para a colheita de material para análise. "Quando os inspectores vieram analisar os nossos serviços, perguntaram onde apontávamos essas chamadas. Nós tínhamos a certeza de que fazíamos os telefonemas, só não registávamos. São essas pequeninas mudanças que garantem o máximo de qualidade", explica Fernando Schmitt, referindo-se ao programa que nasceu nos Estados Unidos nos anos sessenta. O certificado tem apenas dois anos de validade, exigindo uma nova inspecção in loco para ser revalidado.

Obrigatória observação por dois patologistas
Além das tais "pequeninas" alterações do modelo organizacional ou administrativo, o Colégio Americano faz exigências que, assegura Fernando Schmitt, já eram cumpridas pelo Ipatimup. É o caso da dupla observação de um diagnóstico de cancro, ou seja, a necessidade de dois patologistas avaliarem a mesma amostra de um paciente antes de comunicarem o resultado ao médico responsável. Aqui, vale a máxima "dois cérebros pensam melhor do que um": acredita-se que a probabilidade de dois especialistas cometerem o mesmo equívoco numa análise anatomo-patológica é extremamente reduzida.
Estudos realizados nos Estados Unidos, acrescenta Fernando Schmitt, mostram que os erros médicos nos laboratórios americanos podem chegar até 12 por cento. "Não sabemos qual é o valor referente a Portugal, mas é provável que seja superior", pondera Fernando Schmitt, tendo em conta que as instituições nacionais não adoptam critérios organizacionais tão rigorosos como aqueles que são exigidos pelo Colégio Americano de Patologia.
Jornal Público