Dez Ideias para Portugal

Dez Ideias para um grande País.

1. - Tornar o Inglês Língua obrigatória:
O Inglês é o esperanto do século XXI, a língua através da qual todos os povos se entendem. Saber falá-la não resolve, só por si, nenhum dos nossos problemas. Mas não saber é uma desvantagem competitiva. Por isso, tornar o ensino do inglês obrigatório para os estudantes portugueses logo a partir do ensino básico não só aumenta a nossa capacidade de adaptação ao mundo actual e futuro como nos dá uma vantagem competitiva assinalável no turismo, nos negócios, nos estudos, nas carreiras universitárias, nas artes, na cultura. Como é óbvio, esta decisão não dispensa que o português e a matemática se tornem domínios de excelência no ensino em Portugal. A qualidade dos nossos recursos humanos assenta neste tripé.

2. - Educação Cívica e Responsabilidade Social:
Se queremos uma sociedade mais solidária, que enfrenta os desafios que tem pela frente - envelhecimento da população, conduzindo a tensões intergeracionais e étnicas - , então há que desenvolver nas escolas uma cadeira obrigatória de educação cívica, que não fica apenas por estes aspectos, mas que desenvolve temas como "pagar impostos é uma questão de cidadania e, por isso , um dever". Disponibilizar algumas horas por semana para ajudar os mais pobres, os mais desprotegidos, os idosos, deve ser obrigatório para os jovens em idade escolar. Também deve ser incentivado o trabalho de responsabilidade social que muitas empresas já desenvolvem, da PT ao grupo Nabeiro - até porque a responsabilidade social será, cada vez mais, um factor de competitividade.

3. - Política de Natalidade e de Integração dos Idosos:
Para, ao menos, minorar o problema da natalidade que aflige a Europa é necessário desenvolver políticas activas para as mães e para as famílias, que vão desde a garantia que não serão prejudicadas nas suas carreiras a redes de creches suportadas pelo Estado, passando por outras formas imaginativas de apoio. Mas também é necessário desenvolver uma política de integração social dos idosos que os trate não como párias da sociedade, como um fardo para as novas gerações, mas que utilize os seus conhecimentos e a sua experiência. A imaginação é o limite. E se a geração dos "baby-boom" fez a revolução dos costumes, está na hora da mesma geração fazer a revolução do relacionamento da sociedade com os idosos.

4. - Tornar Portugal um paraíso Ambiental:
As questões ambientais não só vão dominar o século XXI, como se tornarão um factor de competitividade entre países, cidades e municípios. Tornar Portugal "um país verde", ecologicamente equilibrado, com respeito pelo ambiente e pelas pessoas, é um desígnio que as autoridades e os cidadãos devem considerar como prioritário, porque tal constituirá factor de atractividade desde empresas a pessoas e eventos do melhor que existirá no século XXI. Há também que considerar a floresta como um objectivo estratégico para o país - a sua preservação evitará a crescente desertificação de Portugal. Ter aviões para combater os fogos é muito mais importante do que submarinos para satisfazer a marinha. Há, pois, que colocar o ambiente como uma questão de cidadania.

5. - Desenvolver uma Política para a Água:
A água será o petróleo do século XXI. Haverá tensões diplomáticas e mesmo guerras por causa da água. 80% da água dos rios que correm em Portugal nasce em Espanha E basta observar a política de transvases que os nossos vizinhos vão fazendo, a despeito do Acordo Hidrológico, para perceber que eles tratam dos seus interesses - e nós temos de tratar dos nossos. Como os rios não nascem em Portugal, a estratégia tem de passar inevitavelmente por uma rede de mini-hídricas, que cubra todo o país. Por outro lado, a construção deve ser adaptada à recolha da água das chuvas para depósitos, como era típico no Algarve. E os cidadãos têm de ser alertados para o facto de que a água tem de ser poupada - nem que seja pela via dos preços.

6. - Apostar na Especialização das Cidades:
No século XXI, a concorrência será cada vez mais entre cidades. Por isso, Portugal deve prosseguir e aprofundar tendências que se vêm desenhando. Aveiro era a cidade dos ovos moles e da Ria. Hoje é um importante centro europeu de investigação na área das telecomunicações. Coimbra era a cidade dos estudantes. Hoje é um pólo de excelência na área da saúde (coração, olhos, pulmões). Braga era a cidade dos arcebispos e Guimarães o berço da Nacionalidade. Hoje são ninhos de criação de micro empresas de informática. Leiria e a Marinha Grande são um dinâmico pólo de desenvolvimento dos moldes de plástico e do vidro e da cutelaria Com o apoio de centros de investigação públicos e de universidades, esta estratégia deve ser prosseguida e aprofundada.

7. -Tornar o Estado uma Pessoa de Bem:
O Estado é, hoje em dia, o principal travão ao desenvolvimento ético e económico de Portugal. Do ponto de vista ético porque não se comporta como uma pessoa de bem: fornece maus serviços aos cidadãos, trata mal os que o servem, não lhes dá meios para realizarem da melhor forma as suas funções, deixa que a Justiça funcione de forma a ser uma verdadeira Injustiça; do ponto de vista económico, porque não paga aos seus fornecedores a tempo e horas, acumula milhões de euros de dívidas e coloca em grandes dificuldades ou lança mesmo na falência milhares de empresas. O Estado segrega valores que são referencial para a sociedade. Por isso, tornar o Estado uma pessoa de bem é muito mais importante que descer o IRC ou o IRS.

8. - Um País de Serviços e de Marcas:
Com a realização do Euro-2004, Portugal provou que tem capacidade para organizar qualquer tipo de eventos, dos desportivos aos culturais, passando pelos sócio profissionais. Este será um dos vectores de desenvolvimento de Portugal no século XXI, podendo atrair importantes fluxos turísticos, desde os profissionais aos religiosos, passando pelos artísticos. Mas o país não se esgota aí: precisa de se afirmar pelas suas marcas. Sabia que as linhas para pescadores desportivos mais prestigiadas nos EUA são "made in Portugal", fabricadas pela FilKemp? E que a M-Glass, a Aerosoles, a Salsa, a Simoldes, também são conhecidas nos mercados internacionais? Criar uma marca é difícil - mas não impossível. A Finlândia tem a Nokia. Nós precisamos de criar várias Nokias.

9. - Criar o "Cluster" do MAR:
Qual é a natural vantagem competitiva de Portugal? Obviamente, o mar. Foi o mar que nos granjeou um grande passado - e foi o abandono do mar que nos deu um limitado presente. Portugal tem de explorar todas as suas potencialidades marítimas - e isso não passa por comprar submarinos, mas por tornar a Universidade do Algarve, por exemplo, a principal instituição Europeia vocacionada para o estudo das ciências marítimas. Passa por recompor a nossa frota comercial até 2010. Passa por desenvolver por especialidades os portos portugueses. Passa por tornar Sines o porto "transhipment" de contentores para o sul da Europa. Ou seja, passa por definir e aplicar a Estratégia Marítimo-Portuária - que Carmona Rodrigues deixou pronta.

10. - O Nosso Lugar no Mundo:
Portugal só tem fronteiras com um país, quatro vezes mais populoso, cinco vezes mais rico. A boa estratégias passa por apostar na integração europeia e não ficarmos confinados à integração Ibérica. Isto vale para a diplomacia, mas vale também para as empresas. A Europa é o nosso destino. Mas a África e o Brasil são a nossa vocação - e onde nós possuímos inegáveis vantagens competitivas, pelas relações passadas, pelos conhecimentos acumulados, pela língua, pelos afectos. Portugal tem, no campo educacional e cultural, enormes vantagens de relacionamento em África. Tem conhecimentos acumulados na saúde, nas riquezas minerais, nos sistemas de água, esgotos e electricidade. Desenvolver estas ligações é valorizar o nosso potencial parceiro para muitas iniciativas.

Nicolau Santos - Semanário Expresso 31 Julho 2004